Francisco Louçã avisou ontem Ferreira Leite e José Sócrates que não se devem iludir com os resultados eleitorais, mas corre o sério risco de se iludir, ele próprio, com os resultados de ontem.
E não digo isto não só porque na mesma noite em que disse que o PSD (que obteve 31,7% dos votos, 8 mandatos e quase mais 200 mil votos que o PS) não se deve iludir argumentando que este “teve pouco mais do que a percentagem obtida na derrota histórica de Santana Lopes”, o BE (com 10,7% dos votos, 3 mandatos e apenas mais 2.500 votos do que a CDU) se ter congratulado pela sua “vitória histórica”, o que só por si bastaria para revelar o longo caminho que ainda resta ao BE para se afirmar como “verdadeira alternativa socialista”.
Digo-o, porque os resultados revelam que as eleições de ontem constituíram uma vitória para o PSD e o PP que atingiram no seu conjunto os 40%, o que significa que uma hipotética coligação destes partidos poderá não andar muito longe da maioria absoluta e, mais importante, é uma marca superior à obtida pelo PS+BE.
Uma leitura política desapaixonada destes resultados indica que mais do que uma derrota do candidato do PS ou do seu secretário-geral e primeiro-ministro assistimos ontem ao fracasso de uma estratégia político-eleitoral ensaiada pelo PS, em que, menosprezando a possibilidade de recuperação do PSD e a importância do centro político, houve uma opção por tentar conquistar (ou pelo menos conter as perdas) votos à esquerda, numa tentativa de manter a actual maioria absoluta parlamentar.
É certo que o candidato não ajudou, mas a dimensão da derrota registada indica que mesmo com outro candidato esta estratégia não teria funcionado, pois não só não evitou o crescimento do BE (embora admito que o possa ter contido ligeiramente) como implicou uma muito importante hemorragia de votos para a abstenção, brancos/nulos e para os “partidos da direita” que, repetindo-se nas legislativas, colocam em sério risco a própria vitória do PS nas eleições legislativas. Os resultados de ontem mostram que os poucos (e dificilmente conquistados) ganhos que o PS possa obter no eleitorado “de esquerda” serão sempre claramente superados pelas perdas no “centro”.
A conclusão política é óbvia: se o PS não quiser perder as próximas eleições legislativas terá que voltar a ocupar o centro político, afastando-se das posições bloquistas. Por muito que custe ao BE, a opção por uma “verdadeira alternativa socialista” continua a ser claramente minoritária no país, o destino da governação joga-se no centro e se o PS não quiser ou não for capaz de, no pouco tempo que lhe resta, de reocupar o centro politico, o PSD será, apesar de todas as suas manifestas fragilidades, o provável vencedor das legislativas.
Por isso, Louçã que não se iluda: quem “ganhou” ontem as eleições não foi a esquerda, foi o centro.
(Nota: Post também publicado em http://www.pnetpolitica.pt)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário