Como refere o Relatório Stern a evidência cientifica quanto aos riscos do aquecimento global é esmagadora. Os modelos climáticos existentes apontam para um conjunto de efeitos bastante negativos em termos de produção agrícola, abastecimento de água, subida dos níveis do mar, diversidade dos ecossistemas e frequência de fenómenos meteorológicos extremos. E embora também existam efeitos positivos, por exemplo os mesmos modelos prevêm que uma subida moderada da temperatura (2-3º) proporcionaria um aumento da produtividade agrícola nas regiões temperadas esses mesmos modelos revelam que os custos e benefícios não seria distribuidos de forma uniforme e tenderiam a afectar com particular gravidade os países mais pobres.
Dados os riscos envolvidos, além de aprofundar os estudos justifica-se pois plenamente que a comunidade internacional procure delinear uma estratégia comum para um problema que é global que procure evitar que esses riscos se concretizem até porque quanto mais longo o período de ajustamento menor serão os custos envolvidos.
Dito isto deve dizer-se que todas as previsões são rodeadas de um elevado grau de incerteza. Mesmo no cenário mais drástico do relatório de 2007 do IPCC o intervalo provável da variação de temperatura oscila entre 2,4º (com efeitos relativamente moderados) e 6,4º (com efeitos potencialmente catastróficos). E, embora provável, é incerto o grau de influencia dos factores de origem humana sobre a variação do clima nas últimas décadas.
O que é natural na medida em que basta olhar pela janela para percebermos que o "tempo" varia todos os dias e que sempre houve anos mais quentes ou mias frios, mais secos ou mais húmidos, e que é sabido que o clima da Terra variou sensivelmente ao longo dos tempos (todos ouvimos falar das épocas glaciares e existe uma razão para designações geográficas como Greenland ou Cabo Verde) que tornam dificil distinguir o efeito da tendência (e sobretudo a sua intensidade) resultante dos gases com efeito de estufa (do qual o mais célebre mas não mais potente é o CO2) da variabilidade natural dos fenómenos metorológicos. Dai que nos relatórios oficiais as palavras mais frequentes sejam "likely" (provável) e "very likely" (muito provável).
Dados os efeitos catastróficos dos cenários prováveis e os custos relativamente reduzidos da redução das emissões (de acordo com o relatório Stern ascenderão a cerca de 1% do PIB) caso sejam tomadas imediatamente medidas, o caso em favor dessas medidas é esmagador.
Por tudo isto espero que a Conferência de Copenhaga seja um sucesso, mas não deixo simultaneamente de ter sentimentos ambivalentes perante um excesso de dramatização no modo como a conferência é relatada ou na divulgação de vídeos como este que podem ter efeitos contraproducentes, nomeadamente no caso de não ser possível chegar já a um acordo, ou ainda esta.
Mas pior do que tudo é talvez a associação que vi entre fenómenos meteorológicos específicos (no caso uma reportagem sobre inundações na costa do Quénia e a seca no interior do mesmo país) ao "aquecimento global" que como é óbvio não pode ser cientificamente comprovada e no limite pode servir para descredibilizar a preocupação com o aquecimento global.
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"a evidência cientifica quanto aos riscos do aquecimento global é esmagadora"
ResponderEliminarPor acaso nem é...
Tudo indica que o clima se está a comportar como sempre se comportou, isto é, de uma forma imprevisível.
Quanto á Conferência de Copenhaga, a montanha parece ter parido um rato.
Mas não há razões para nos alegrarmos, a utilização das alterações climáticas para nos empobrecer a todos vai continuar,.