sexta-feira, 5 de março de 2010

Sobre a Greve da função pública

Embora já seja habitual causam-me sempre enorme perplexidade as gigantescas discrepâncias entre os números de adesão à greve avançados pelo Governo e pelos sindicatos (é pena que não existam números independentes), em que a única certeza que fica é que a verdade da adesão terá ficado algures entre os fracos 13% referidos pelo Governo e os cerca de 80% apontados pelos sindicatos.


Nestas alturas é sempre aflorada a questão de saber se existem, ou não, justificações para a greve e referidos (como ontem ouvi ao final do dia a um comentador na Antena 1) as eventuais motivações políticas da greve.

Obviamente que é sempre muito difícil saber as razões que levaram cada um dos grevistas a aderir, mas não me parece correcta essa análise. A verdade é que, independentemente de podermos considerar que apesar de tudo estão, ou não, numa condição mais favorável do que os trabalhadores do sector privado, os funcionários públicos têm obviamente razões de descontentamento face à degradação das suas condições profissionais, não apenas em virtude do congelamento dos salários anunciados para o corrente ano como também em virtude das alterações em termos de reforma e de progressão na carreira que objectivamente tem vindo a ser alteradas de forma desfavorável aos funcionários.

Questão diferente é a de saber se, no actual contexto orçamental, o Governo tem ou não margem de manobra para ir de encontro às reivindicações, nomeadamente de carácter salarial, apresentadas pelos sindicatos ? Creio não só que a resposta é não como estou convicto de que os sindicatos estão conscientes desse facto. Tal não impede que do seu ponto de vista a greve faça sentido. Efectivamente, face à provável necessidade de um esforço suplementar para reduzir o défice, senão em 2010 pelo menos nos anos seguintes, a actuais posições reivindicativas visam claramente reforçar a posição negocial dos funcionários na repartição dos sacrifícios que o país irá ser chamado a efectuar.

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