As declarações do primeiro ministro e de vários ministros e dirigentes do PS ao longo do dia de ontem constituiram uma resposta inevitável face ao crescendo de notícias e contra-noticias envolvendo escutas de conversas em que interveio o primeiro-ministro.
Dessas declarações tem sido destacado a assunção pelo primeiro-ministro de que não teria sido inteiramente verdadeiro quando afirmou no Parlamento que não tinha conhecimento das intenções de compra pela PT de parte da TVI, que resulta implicitamente da distinção subtil entre "conhecimento" e "conhecimento oficial". Penso no entanto sinceramente que se trata de uma questão menor, até porque o patente embaraço do primeiro-ministro por ocasião dessas declarações ocasião tinha sido, quanto a mim, suficientemente elucidativo.
Para mim o principal facto relevante resulta sim da manifesta tentativa de centrar a discussão em torno da legalidade ou ilegalidade dessas escutas. Estratégia plenamente assumida quer nas declarações do primeiro-ministro, interpelando directamente o Procurado-Geral da República, quer nas declarações do ministro Vieira da Silva, que falou mesmo em "espionagem política", e que coloca o PS-Governo em rota de colisão com o ministério público.
As declarações de ontem e o clima criado trouxeram-me infelizmente à memória os piores momentos do caso "Casa Pia" e a situação que envolve o procurador Lopes da Mota e, infelizmente, não auguram nada de bom para uma normal relação entre o PS-Governo e o Ministério Público, podendo vir a constituir mais um passo perigoso no sentido da "italianização" do regime.
Pessoalmente lamento que se tenha, uma vez mais, optado por uma estratégia de confronto e vitimização. Quando teria sido desejável e mais saudável para a democracia que o primeiro-ministro tivesse claramente assegurado os portugueses de que não estava envolvido em quaisquer actos menos próprios, que não desejava beneficiar de nenhum tratamento de excepção relativamente à questão da validação (ou não) das escutas e que aguardava com toda a tranquilidade as decisões da justiça. O que poderia eventualmente ter acompanhado de uma declaração de repúdio compreensivel, e justificada, quanto à violação do segredo de justiça.
PS: Normalmente até nem concordo com o que João Marcelino escreve mas o seu editorial de hoje merece ser lido, desde que demos o devido desconto para o último parágrafo sobre Manuela Ferreira Leite. Podemos gostar, ou não, da actual líder do PSD e há certamente muitas razões para a criticar mas é-me incompreensível que seja acusada de ser populista e demagógica. Basta pensar na sua actuação como Ministra ou comparar a última campanha do PSD para as legislativas com as dos restantes partidos para compreender o ridiculo da acusação e ver que os ódios (já não só politicos) infelizmente abundam neste país.
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