"Para quem por acaso seguiu o noticiário desde o princípio, o massacre da Norueda foi uma ocasiºao para admirar as máquinas de explicar tudo em que assenta a nossa civilização mediática.
(...)
Teorias e debates, por mais deslocados, diluíram o horror, amenizaram a tragédia, distraíram-nos da realidade, fizeram-nos, paradoxalmente, sentir um pouco mais seguros. Que pode haver de mais reconfortante do que imaginar o assassino como o agente de uma rede politicamente motivada? Dá sentido ao que aconteceu e sugere a profilaxia adequada. É que a uma organização terrorista, podemos persegui-la; a uma ideologia vil, limitar a sua expressão - mas que fazer com um monstro isolado, capaz de atrocidades em grand escala? O que discutir, se os argumentos do assassino tiverem de ser entendidos não como o motivo dos seus atos mas como a linguagem ocasional do seu delírio e perversão? O que prevenir? Sem teorias da conspiração, po mundo é muito mais inquietante. Porque não há nada mais assustador do que a falta de sentido. Felizmente, temos as nossas máquinas de explicar tudo."
(excerto da crónica publicada no Expresso de ontem)
domingo, 31 de julho de 2011
sábado, 30 de julho de 2011
Quem diz que Amor é falso ou enganoso - Camões
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Curiosidade
De acordo com o DN Jorge Silva Carvalho, ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) assumiu que "enviou e-mails de sua casa, sobre matéria revelada pelo Expresso, sem confirmar se o destino foi a Ongoing, mas garante que não violou nem o dever de sigilo nem segredos de Estado", revelando que "sempre que o interesse nacional se impõe, as "secretas" podem passar informações a empresas privadas" e que "tudo foi feito dentro da lei, registado, documentado, com autorização superior".
Não me custa admitir que se, por hipótese, uma determinada empresa possa ser alvo de um atentado ou de um acto de sabotagem as "secretas" comuniquem essa informação, mas confesso que fiquei com uma enorme curiosidade em saber quais as situações de "interesse nacional" que no caso concreto terão estado em causa.
Não me custa admitir que se, por hipótese, uma determinada empresa possa ser alvo de um atentado ou de um acto de sabotagem as "secretas" comuniquem essa informação, mas confesso que fiquei com uma enorme curiosidade em saber quais as situações de "interesse nacional" que no caso concreto terão estado em causa.
terça-feira, 26 de julho de 2011
Ler os Outros: Os banqueiros querem que o Estado lhes pague - Tavares Moreira
"1. Achei muito curiosa (...) a posição publicamente manifestada por alguns banqueiros da nossa praça, reivindicando o pagamento das dívidas de que são credores perante o Estado e que este terá acumulado ao longo dos últimos anos.
(...) em 1º lugar pela forma como foi manifestada essa posição, a qual poderá levar algumas pessoas menos prevenidas a crer que o Estado terá utilizado o crédito bancário contra a vontade dos bancos, o que seria no mínimo surpreendente...não creio que tal tenha sucedido, os bancos financiaram o Estado porque quiseram, porque acharam na altura que seria bom negócio, ninguém lhes terá imposto tal crédito à força...
3. Em 2º lugar, porque não me recordo de uma posição destas dos bancos nos últimos anos, em especial nos últimos 6 em que eles foram especialmente pródigos em conceder crédito ao Estado, enchendo os seus balanços com “toneladas” de dívida pública, crédito a empresas públicas e a parcerias público-privadas...
4. Houve mesmo alguns que ainda não há muito tempo elogiaram publicamente a política de grandes obras públicas, dizendo que era benéfica para o desenvolvimento do País – e que, a ter continuidade, teria levado o Estado a endividar-se ainda mais pesadamente junto da banca...
5. Em 3º lugar, porque as dívidas do Estado perante estes bancos têm, como quaisquer outras, prazos de vencimento, que o Estado não poderá deixar de cumprir, sob pena de ser considerado em “default”...assim aos bancos basta-lhes aguardar pelo vencimento das dívidas do Estado, exigir o reembolso e fica satisfeita a sua vontade...
(...)
9.Em 6º e último lugar porque eles não ignoram que o Estado, ainda que quisesse pagar aos bancos tudo o que lhes deve nesta altura...não teria obviamente dinheiro para isso! Só se os mesmos bancos lhe emprestassem para ele lhes pagar de volta...
10.Muito curiosa mesmo esta posição dos banqueiros, depois de anos de silêncio...o que os terá movido a manifestar tal posição? Saberão que existe dinheiro escondido nalgum lado?"
(Post publicado aqui no Quarta República)
(...) em 1º lugar pela forma como foi manifestada essa posição, a qual poderá levar algumas pessoas menos prevenidas a crer que o Estado terá utilizado o crédito bancário contra a vontade dos bancos, o que seria no mínimo surpreendente...não creio que tal tenha sucedido, os bancos financiaram o Estado porque quiseram, porque acharam na altura que seria bom negócio, ninguém lhes terá imposto tal crédito à força...
3. Em 2º lugar, porque não me recordo de uma posição destas dos bancos nos últimos anos, em especial nos últimos 6 em que eles foram especialmente pródigos em conceder crédito ao Estado, enchendo os seus balanços com “toneladas” de dívida pública, crédito a empresas públicas e a parcerias público-privadas...
4. Houve mesmo alguns que ainda não há muito tempo elogiaram publicamente a política de grandes obras públicas, dizendo que era benéfica para o desenvolvimento do País – e que, a ter continuidade, teria levado o Estado a endividar-se ainda mais pesadamente junto da banca...
5. Em 3º lugar, porque as dívidas do Estado perante estes bancos têm, como quaisquer outras, prazos de vencimento, que o Estado não poderá deixar de cumprir, sob pena de ser considerado em “default”...assim aos bancos basta-lhes aguardar pelo vencimento das dívidas do Estado, exigir o reembolso e fica satisfeita a sua vontade...
(...)
9.Em 6º e último lugar porque eles não ignoram que o Estado, ainda que quisesse pagar aos bancos tudo o que lhes deve nesta altura...não teria obviamente dinheiro para isso! Só se os mesmos bancos lhe emprestassem para ele lhes pagar de volta...
10.Muito curiosa mesmo esta posição dos banqueiros, depois de anos de silêncio...o que os terá movido a manifestar tal posição? Saberão que existe dinheiro escondido nalgum lado?"
(Post publicado aqui no Quarta República)
segunda-feira, 25 de julho de 2011
A nova liderança do PS
Quase 70% dos votos garantiram a António José Seguro uma vitória nas eleições para escolher o sucessor de José Sócrates como Secretário-Geral do Partido Socialista. Vencido este dasfaio para o qual se preparou pacientemente durante vários anos o novo líder do PS, o novo líder o PS enfrenta agora a dificil tarefa de, condicionado pelos termos do compromisso com a troika que o PS subscreveu e pela herança de seis anos de Governos liderados por José Sócrates, manter o partido unido e afirmando-se como uma oposição construtiva que seja capaz de apresentar soluções alternativas às do Governo, e, simultaneamente, evitar uma deriva esquerdista e ao mesmo tempo evitar que PCP e BE monopolizem a contestação de esquerda.
sábado, 23 de julho de 2011
Rehab - Amy Winehouse
Uma alma atormentada e um grande talento que nos deixa algumas das mais tristemente belas canções da música pop.
Sondagem do Expresso
A sondagem hoje publicada no Jornal Expresso indicam que o PSD mantém uma clara liderança nas intenções de voto (40%) enqaunto que o PS se quda pelos 26,3% e CDS-PP, CDU e BE obtém 13,1%, 8% e 5,1%, respectivamente. Valores que indicam que apesar de alguma medidas dificeis e normalmente impopulares não afectaram de modo significativo a imagem dos partidos do Governo. E reflecte-se igualmente na imagem positiva quer dos respectivos líferes quer do Governo no seu conjunto.
Este estado de graça que resulta em grande parte do mérito dos partidos de Governo não terem durante a campanha eleitoral escamoteado as dificuldades, contribuindo desse modo para uma consciência do esforço colossal de ajustamento que vai ser necessário que na sondagem surge expressa no facto de 68,2% dos inquiridos considerar que vão surgir mais medidas de austeridade (contra apenas 22% que pensam que não).
Da sondagem realça ainda que 55,1% dos portugueses acredita que Portugal vai conseguir cumprir o memorando da troika contra apenas 19,2% que pensam o contrário (25,7% não sabe ou não responde). E o forte impacto da "campanha" de indignação nacional contra as agências de rating que se reflecte na elevada percentagem (61,6%) que considera que a queda de rating da República Portuguesa decretada pela Moody's foi injusta e nos 55,7% que consideram que o Estado devia cancelar os contratos com as agências de rating.
Este estado de graça que resulta em grande parte do mérito dos partidos de Governo não terem durante a campanha eleitoral escamoteado as dificuldades, contribuindo desse modo para uma consciência do esforço colossal de ajustamento que vai ser necessário que na sondagem surge expressa no facto de 68,2% dos inquiridos considerar que vão surgir mais medidas de austeridade (contra apenas 22% que pensam que não).
Da sondagem realça ainda que 55,1% dos portugueses acredita que Portugal vai conseguir cumprir o memorando da troika contra apenas 19,2% que pensam o contrário (25,7% não sabe ou não responde). E o forte impacto da "campanha" de indignação nacional contra as agências de rating que se reflecte na elevada percentagem (61,6%) que considera que a queda de rating da República Portuguesa decretada pela Moody's foi injusta e nos 55,7% que consideram que o Estado devia cancelar os contratos com as agências de rating.
Os atentados na Noruega
Apesar da tendência para atribuir os chocantes atentados de ontem na Noruega que provocaram, pelo menos 17 mortos e vários feridos com gravidade, a grupos islâmicos, embora natural quer por fazer recordar os atentados em Londres e Madrid quer pelo envolvimento da Noruega no Afeganistão, a verdade é que como alguns analistas salientam aqui apresentam características - nomeadamente quanto aos alvos escolhidos e à data e hora dos atentados - que não são característicos dos ataques jihadistas que normalmente visam indiscriminadamente o máximo número de vítimas, parecendo mais consistente com uma acção de grupos de extrema direita.
Tanto de meu estado me acho incerto - Camões
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Ler os Outros: Sérgio de Almeida Correia
"Já não me parecia bem antes de saber os números. Agora que me dizem que da Comissão Parlamentar de Obras Públicas "quase metade dos deputados eram administradores de empresas privadas de obras públicas" e que "um terço dos deputados da anterior legislatura - 70 dos 230 - tinham também assento em empresas do Estado", quero saber quem são eles, quais os partidos a que pertencem e quais são as empresas em causa. Por razões de higiene pública. Nada mais."
(post publicado no Delito de Opinião)
(post publicado no Delito de Opinião)
terça-feira, 19 de julho de 2011
Ler os Outros: As dúvidas de Agosto - Luis Naves
"(...) A tese dominante, em comentários de jornais e televisões, é a de que a Europa enfrenta um dilema entre federalização da moeda única e colapso da zona euro. As abordagens intermédias que foram ensaiadas estão condenadas ao fracasso e isso aplica-se à mais recente ideia defendida pela França e Alemanha, a de se estabelecer um acordo com bancos europeus para que estes aceitem de forma voluntária suavizar o peso da dívida grega, aceitando algum prejuízo.
(...)
Curiosamente, nenhuma das duas opções dadas como inevitáveis parece possível. Nem a federalização nem o colapso do euro. A federalização da zona euro não passa de uma quimera. Nada disso consta nos tratados e refazer a arquitectura da UE simplesmente não é viável a curto prazo. Bastam 30 segundos de análise para perceber que países como França ou Alemanha não têm nos seus planos a obediência a um ministro das finanças europeu (eleito por 27, por 17?) que impeça uma determinada despesa aprovada pelos parlamentos. Bruxelas a explicar aos alemães como vão organizar o seu orçamento, alguém consegue imaginar o cenário? O princípio da subsidariedade completamente enterrado? E tudo feito sem consulta aos eleitores? E como se avança para uma hipótese destas sem cobrança de impostos?
[Uma nota: já começou a discussão das perspectivas financeiras entre 2014 e 2020. Adivinham-se discussões ferozes no próximo ano e os contribuintes líquidos não querem passar de 1% do PIB, nem sequer um cêntimo a mais].
O colapso da moeda única era um filme de terror. Complicações técnicas e legais, o fim do mercado único, milhões de desempregados. A saída de um ou dois países era já uma complicação intragável e um super-euro sem os cábulas também não parece viável, pois segundo os tratados é mais fácil sair da União Europeia do que sair do euro. (...)"
(excerto do post publicado no Albergue Espanhol)
(...)
Curiosamente, nenhuma das duas opções dadas como inevitáveis parece possível. Nem a federalização nem o colapso do euro. A federalização da zona euro não passa de uma quimera. Nada disso consta nos tratados e refazer a arquitectura da UE simplesmente não é viável a curto prazo. Bastam 30 segundos de análise para perceber que países como França ou Alemanha não têm nos seus planos a obediência a um ministro das finanças europeu (eleito por 27, por 17?) que impeça uma determinada despesa aprovada pelos parlamentos. Bruxelas a explicar aos alemães como vão organizar o seu orçamento, alguém consegue imaginar o cenário? O princípio da subsidariedade completamente enterrado? E tudo feito sem consulta aos eleitores? E como se avança para uma hipótese destas sem cobrança de impostos?
[Uma nota: já começou a discussão das perspectivas financeiras entre 2014 e 2020. Adivinham-se discussões ferozes no próximo ano e os contribuintes líquidos não querem passar de 1% do PIB, nem sequer um cêntimo a mais].
O colapso da moeda única era um filme de terror. Complicações técnicas e legais, o fim do mercado único, milhões de desempregados. A saída de um ou dois países era já uma complicação intragável e um super-euro sem os cábulas também não parece viável, pois segundo os tratados é mais fácil sair da União Europeia do que sair do euro. (...)"
(excerto do post publicado no Albergue Espanhol)
domingo, 17 de julho de 2011
Ler os Outros: Coisas que fazem apertar o nó da gravata - Rui Rocha
"Dizem-me que existem cerca de 400.000 agricultores em Portugal. De acordo com Assunção Cristas, o Ministério da Agricultura tem mais de 10.500 funcionários e de 1500 edifícios. Qualquer aluno do 12º ano, com uma boa calculadora na mão, será capaz de afirmar, sem grande angústia, que a relação é de 1 funcionário para 38 agricultores e de 1 edifício para 266 agricultores. Não deixam de ser números surpreendentes se tivermos em conta que em Portugal existem 1 médico para 256 habitantes e 1 polícia para 222 habitantes."
(post publicado no Delito de Opinião)
(post publicado no Delito de Opinião)
Museu Gulbenkian
Um "pequeno" museu que impressiona pelo ecletismo e pela qualidade das peças que reflecte o lema "only the best is good enough for me" que Calouste Gulbenkian seguia na escolha das obras da sua colecção que é realçada por um espaço caracterizado por uma arquitectura integrada num magnífico parque e onde ressaltam recantos acolhedoramente "abertos" para o exterior, nos quais a arte e a natureza se encontram contribuindo para criar um ambiente que propicia uma reconfortante sensação de tranquilidade e serenidade de espírito.
sábado, 16 de julho de 2011
sexta-feira, 15 de julho de 2011
We're not Portugal
"And here’s the good news -- it turns out we don’t have to do anything radical to solve this problem. Contrary to what some folks say, we’re not Greece, we’re not Portugal. It turns out that our problem is we cut taxes without paying for them over the last decade; we ended up instituting new programs like a prescription drug program for seniors that was not paid for; we fought two wars, we didn’t pay for them; we had a bad recession that required a Recovery Act and stimulus spending and helping states -- and all that accumulated and there’s interest on top of that. " (meu sublinhado)
(declarações do Presidente Obama)
(declarações do Presidente Obama)
Ler os Outros: Não há nada como uma boa teoria da conspiração - José Manuel Fernandes
"Andamos, desde 1995, a consumir por ano sensivelmente mais dez por cento do que produzimos? A culpa é da Moody's e das outras agências de rating. Entrámos para a moeda única e praticamente nunca conseguimos cumprir com os critérios de convergência? A culpa é dos «camones» que querem destruir o euro. Suportámos um primeiro-ministro que mentiu até ao fim sobre a dimensão dos problemas nacionais» A culpa é dos analistas das agências que dizem alto o que, por cá, todos sussurram. Na Europa ninguém se entende e cada um puxa para seu lado? A culpa é dos americanos, que por acaso também não se entendem e puxam cada um para seu lado.
Seria patético se não fosse trágico. (...)
O histerismo que se instalou na opinião pública por causa da classificação de «lixo» - uma classificação dada à dívida pública portuguesa, não à República portuguesa, convém notar . ajuda à passagem de uma mensagem que muitos já andam por aí a repetir: não vale a pena sacrificarmo-nos, não vale a pena colocarmos ordem nas contas, não vale a pena reestruturarmos a economia, pois tudo se resolverá no dia em que houver uma agência de rating europeia."
(excerto da crónica no Público de hoje)
Seria patético se não fosse trágico. (...)
O histerismo que se instalou na opinião pública por causa da classificação de «lixo» - uma classificação dada à dívida pública portuguesa, não à República portuguesa, convém notar . ajuda à passagem de uma mensagem que muitos já andam por aí a repetir: não vale a pena sacrificarmo-nos, não vale a pena colocarmos ordem nas contas, não vale a pena reestruturarmos a economia, pois tudo se resolverá no dia em que houver uma agência de rating europeia."
(excerto da crónica no Público de hoje)
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Ler os Outros: Os partidos são seres muito estranhos... - João Ricardo Vasconcelos
"António José Seguro, o homem que manteve sempre a distância em relação a José Sócrates, é considerado o candidato do aparelho. Aparelho este que há três meses, a gosto ou a contragosto, apoiou de forma unânime no congresso adivinhem quem? Sócrates (?!). Por sua vez. Francisco Assis, uma das principais caras dos últimos anos da era Sócrates e apoiado pelos círculos mais próximos do antigo líder, é considerado o candidato da mudança (?!).
Os partidos são seres misteriosos. E o PS serve aqui apenas de exemplo. Compreendê-los não está ao alcance do comum dos mortais. Eis o problema."
(post publicado no Activismo de Sofá)
Os partidos são seres misteriosos. E o PS serve aqui apenas de exemplo. Compreendê-los não está ao alcance do comum dos mortais. Eis o problema."
(post publicado no Activismo de Sofá)
quarta-feira, 13 de julho de 2011
A tomada de decisões nas democracias europeias em tempos de crise
Num discurso recente Lorenzo Smaghi, membro do Conselho do BCE, defende que uma união monetária implica um elevado grau de união política que resulta quer do facto de as decisões tomadas por alguns membros terem um um impacto muito directos, e por vezes dramático, nos outros, quer de alguns problemas especificos nacionais apenas poderem ser resolvidos numa perspectiva da zona euro.
Pelo que os governos e cidadãos de uma união monetária se devem preocupar não apenas com o que ocorre nos seus países, mas também com o que sucede nos outros países e que, portanto, deve existir um mecanismo de supervisão mútua da evolução económica e das políticas de modo a que todos cumpram as suas obrigações comuns, o que não tem ocorrido na prática.
Necessidade que contrasta com o facto de a vida política ser, ainda, essencialmente dominada pelos temas nacionais e não existir uma consciência da dimensão global do euro, donde resulta os decisores políticos tenderem a tomar decisões relacionadas com a zona euro com base numa perspectiva puramente nacional. O que é reforçado pela tendência da comunicação social para reflectir principalmente a perspectiva do seu próprio país e não ter em conta nem a diversidade de perspectivas nacionais no seio da União nem a perspectiva europeia, e difundir visões estereotipadas o que conduz muitas vezes a posições extremadas que tornam dificil alcançar compromissos ao nível europeu, já de si dificeis de obter em virtude da regra da unanimidade que pode (facilmente) conduzir a situações de bloqueio.
Neste contexto propõe: i) uma "diluição" da regra da unanimidade que atenue o carácter intergovernamental do processo de decisão; ii) reforçar as regras de governação que condicionam as decisões nacionais, reduzindo a margem de discricionariedade na aplicação do pacto de estabilidade e crescimento e da imposição nas legislações nacionais de limites legais à dívida e admitindo a hipótese de transferir o direito de emitir dívida para uma entidade supra-nacional e iii) criar mecanismos que assegurem de forma eficaz a aplicação dessas regras, através de um reforço dos poderes da Comissão Europeia.
Um conjunto de propostas que levanta diversas questões face aos princípios de responsabilização e de decisão democrática, mas que constitui um conjunto de propostas interessante para criar um processo de decisão a nível europeu mais eficiente e que possa constituir uma alternativa viável a uma via federal para a qual não parecem existir condições políticas.
Pelo que os governos e cidadãos de uma união monetária se devem preocupar não apenas com o que ocorre nos seus países, mas também com o que sucede nos outros países e que, portanto, deve existir um mecanismo de supervisão mútua da evolução económica e das políticas de modo a que todos cumpram as suas obrigações comuns, o que não tem ocorrido na prática.
Necessidade que contrasta com o facto de a vida política ser, ainda, essencialmente dominada pelos temas nacionais e não existir uma consciência da dimensão global do euro, donde resulta os decisores políticos tenderem a tomar decisões relacionadas com a zona euro com base numa perspectiva puramente nacional. O que é reforçado pela tendência da comunicação social para reflectir principalmente a perspectiva do seu próprio país e não ter em conta nem a diversidade de perspectivas nacionais no seio da União nem a perspectiva europeia, e difundir visões estereotipadas o que conduz muitas vezes a posições extremadas que tornam dificil alcançar compromissos ao nível europeu, já de si dificeis de obter em virtude da regra da unanimidade que pode (facilmente) conduzir a situações de bloqueio.
Neste contexto propõe: i) uma "diluição" da regra da unanimidade que atenue o carácter intergovernamental do processo de decisão; ii) reforçar as regras de governação que condicionam as decisões nacionais, reduzindo a margem de discricionariedade na aplicação do pacto de estabilidade e crescimento e da imposição nas legislações nacionais de limites legais à dívida e admitindo a hipótese de transferir o direito de emitir dívida para uma entidade supra-nacional e iii) criar mecanismos que assegurem de forma eficaz a aplicação dessas regras, através de um reforço dos poderes da Comissão Europeia.
Um conjunto de propostas que levanta diversas questões face aos princípios de responsabilização e de decisão democrática, mas que constitui um conjunto de propostas interessante para criar um processo de decisão a nível europeu mais eficiente e que possa constituir uma alternativa viável a uma via federal para a qual não parecem existir condições políticas.
Declaração do Eurogrupo
"Ministers discussed the main parameters of a new multi-annual adjustment programme for Greece, which will build on strong commitments to fiscal consolidation, ambitious growth-enhancing structural reforms and a substantial privatisation of state assets. Ministers welcomed the reinforcement of monitoring mechanisms of the programme of Greece, the nomination of the board of the privatisation agency, which comprises two observers representing euro area Member States and the European Commission, and agreed to provide extended technical assistance to Greece. They called upon the Greek government to sustain its on-going efforts to meet these commitments in full and on time." (meu sublinhado)
domingo, 10 de julho de 2011
O Congresso da Associação Nacional de Municipios Portugueses
O Congresso Extraodinário da Associação Nacional dos Municípios Portugueses constituiu um bom exemplo das dificuldades e resistências na implementação das medidas de racionalização/redução da despesa pública. Efectivamente foi interessante, embora não surpreendente, ver os autarcas não só considerarem que "fundir câmaras ou juntas não resolve os problemas" como inclusive virem considerar que "se deveriam dar mais meios financeiros às autarquias", como ainda, pugnar pelo avanço da regionlização.
Isto apesar de o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses referente ao ano de 2009 indicar que:
- o rácio de independência financeira tem viondo a reduzir-se substancialamente entre 2006 e 2009, tendo verificado-se um aumento do peso das transferências da administração central e do recurso ao crédito e uma redução das receitas próprias (sobretudo do IMT) que afectou mais os pequenos municípios, um agudizar das dificuldades de tesouraria em 2009 que se traduz num aumento do número de municípios em que o prazo médio de pagamentos excede os 90 dias,
- aumentos significativos quer dos compromissos do exercício por pagar quer os compromissos a pagar em exercícios futuros,
- ao longo do quadriénio 2006/2009 a despesa realizada foi sempre manifestamente superior ao valor da receita liquidada, representando esse excesso em média cerca de 20,1% da receita liquidada (+1.873 milhões de euros em 2006, +1.583 milhões de euros em 2007, +1.252 milhões de euros em 2008 e +1.942 milhões de euros em 2009).
- o passivo elegível dos municípios aumentou 35,0% entre 2006 e 2009;
- "os custos totais cresceram 1.4888,1 milhões de euros (+25,5%) totaliuzando, em 2009, 7.326,3 milhões de euros, + 425 milhões de euros que em 2008";
- "pese embora as restrições colocadas ao aumento de despesas com pessoal, certo é que os custos com pessoal foram os que apresentaram maior volume de crescimento global nos custos autárquicos, ao aumentarem 422,6 milhões de euros (+21,2%). A maior parte deste aumento ocorreu em 2009, com um acréscimo de custos de 262,8 milhões de euros (+12,2%)" e que
- "os custos com os fornecimentos e serviços externos cresceram, entre 2006 e 2009, 26,3% apresentando um acréscimo de gastos de +392,2 milhões de euros".
Números que reflectindo valores agregados serão certamente injustos para alguns municipios, mas que não confirmam a imagem de frugalidade financeira dos municípios.
Diga-se, ainda, que de acordo com o referido Anuário mais de metade (180) dos municipios tinham menos de 20 mil habitantes e que existiam 281 empresas municipais e intermunicipais, valores que sugerem também nessas áreas haverá ganhos e poupanças que poderiam ser obtidos através de uma reorganização administrativa do território.
Isto apesar de o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses referente ao ano de 2009 indicar que:
- o rácio de independência financeira tem viondo a reduzir-se substancialamente entre 2006 e 2009, tendo verificado-se um aumento do peso das transferências da administração central e do recurso ao crédito e uma redução das receitas próprias (sobretudo do IMT) que afectou mais os pequenos municípios, um agudizar das dificuldades de tesouraria em 2009 que se traduz num aumento do número de municípios em que o prazo médio de pagamentos excede os 90 dias,
- aumentos significativos quer dos compromissos do exercício por pagar quer os compromissos a pagar em exercícios futuros,
- ao longo do quadriénio 2006/2009 a despesa realizada foi sempre manifestamente superior ao valor da receita liquidada, representando esse excesso em média cerca de 20,1% da receita liquidada (+1.873 milhões de euros em 2006, +1.583 milhões de euros em 2007, +1.252 milhões de euros em 2008 e +1.942 milhões de euros em 2009).
- o passivo elegível dos municípios aumentou 35,0% entre 2006 e 2009;
- "os custos totais cresceram 1.4888,1 milhões de euros (+25,5%) totaliuzando, em 2009, 7.326,3 milhões de euros, + 425 milhões de euros que em 2008";
- "pese embora as restrições colocadas ao aumento de despesas com pessoal, certo é que os custos com pessoal foram os que apresentaram maior volume de crescimento global nos custos autárquicos, ao aumentarem 422,6 milhões de euros (+21,2%). A maior parte deste aumento ocorreu em 2009, com um acréscimo de custos de 262,8 milhões de euros (+12,2%)" e que
- "os custos com os fornecimentos e serviços externos cresceram, entre 2006 e 2009, 26,3% apresentando um acréscimo de gastos de +392,2 milhões de euros".
Números que reflectindo valores agregados serão certamente injustos para alguns municipios, mas que não confirmam a imagem de frugalidade financeira dos municípios.
Diga-se, ainda, que de acordo com o referido Anuário mais de metade (180) dos municipios tinham menos de 20 mil habitantes e que existiam 281 empresas municipais e intermunicipais, valores que sugerem também nessas áreas haverá ganhos e poupanças que poderiam ser obtidos através de uma reorganização administrativa do território.
sábado, 9 de julho de 2011
Ler os Outros: O Murro - Rui Ramos
"A baixa de notação financeira foi má. A nossa reacção foi pior. (...)
Quando Louçã e Jerónimo anunciam que haverá "reestruturação", dizem a "verdade". Quando a Moody's concorda com eles, mente a soldo do imperialismo americado. Isto faz sentido?
(...) foi inquietante ver aqueles que se indignavam quando o engenheiro Sócrates rugia contra a especulação internacional - prontos para lhe copiar os piores tiques à primeira oportunidade. Aparentemenete, houve quem se tivesse convencido que a crise era o engenheiro Sócrates e que removido este e declaradas duas ou três boas intenções, não seriam precisos esforços nem resultados para tudo passar a correr muito bem. Já perceberam que estavam enganados?
Espro que façamos o possível para não "falhar". Mas se tiver de ser, tenetmos ao menos manter alguma dignidade, alguma inteligência. É pedir de mais?"
(excertos da crónica publicada no edição de hoje do jornal Expresso)
Quando Louçã e Jerónimo anunciam que haverá "reestruturação", dizem a "verdade". Quando a Moody's concorda com eles, mente a soldo do imperialismo americado. Isto faz sentido?
(...) foi inquietante ver aqueles que se indignavam quando o engenheiro Sócrates rugia contra a especulação internacional - prontos para lhe copiar os piores tiques à primeira oportunidade. Aparentemenete, houve quem se tivesse convencido que a crise era o engenheiro Sócrates e que removido este e declaradas duas ou três boas intenções, não seriam precisos esforços nem resultados para tudo passar a correr muito bem. Já perceberam que estavam enganados?
Espro que façamos o possível para não "falhar". Mas se tiver de ser, tenetmos ao menos manter alguma dignidade, alguma inteligência. É pedir de mais?"
(excertos da crónica publicada no edição de hoje do jornal Expresso)
Saudade - Heróis do Mar
Ao redor desta fogueira
Enquanto as armas descansam
Ergo meus olhos aos céus
Pelas estrelas dos teus
Saudade
Amada
Senhora
Pomba de cristal
Amada
Senhora
Morro de paixão
Ao redor desta fogueira
Enquanto as armas descansam
Ergo meus olhos aos céus
Por se não verem nos teus
Saudade
Amada
Senhora
Lágrima do céu
Amada
Senhora
Morro de paixão
Ao redor desta fogueira
Enquanto as armas descansam
Peito rasgado de amor
Troa o rufar do tambor
Amor quão longe tu estás
Amor quão longe tu estás
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Ler os Outros: Falta uma Europa Actuante - ANL
"Independentemente de ter sido absolutamente inoportuno, de se poder questionar o contraponto entre o zelo actual destas agências e a atitude abúlica do passado, o seu aparente preconceito face ao euro e à Europa continental por oposição à brandura com que tratam os emitentes soberanos anglo-saxónicos dos dois lados do Atlântico, o facto é que o que a Moody’s veio dizer é inconveniente mas defensável. Mais, veio penalizar Portugal por, essencialmente, duas razões, ambas verdadeiras: o governo de Sócrates deixou a economia portuguesa e as suas finanças públicas numa situação insustentável e a solução europeia para as dívidas soberanas dos países periféricos é parcial, insuficiente e implicará necessariamente novas medidas."
(Excerto deste post publicado no Albergue Espanhol)
(Excerto deste post publicado no Albergue Espanhol)
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Assim não vamos lá !
Confesso que ainda estou aturdido com o tom patrioteiro das reacções à descida de rating pronunciada pela Moodys e sobretudo pela forma como afectou inclusive vários daqueles que ao longo dos últimos meses se tinham destacado por uma análise lúcida da realidade económica e financeira portuguesa.
Uma onda que José Castro Caldas ironica, mas certeiramente, baptizou como o movimento dos neo-indignados. Movimento a que Pedro Santos Guerreiro tenta dar um sentido e utilidade aconselhando Pedro Passos Coelho a deve usar esta união nacional contra as agências de rating para forçar a Comissão Europeia e a Alemanha a desafiarem o seu poderio.
Infelizmente o problema real não está nas agências de rating. Os nossos problemas reais estão num nível de dívida pública e externa demasiado elevado, na ausência de crescimento económico e nos níveis de alavacagem exagerados do nosso sistema financeiro, das empresas e das famílias. É na correcção desses factores e não numa "guerra" inútil contra as "agências" - que quais Dom Quixotes tomando moinhos de vento por gigantes vi e ouvi hoje atribuidos os poderes e motivações extraordinários - que devemos concentrar as nossas energias e a nossa imaginação numa tarefa que contrariamente ao que indica o titulo desta crónica do Pedro Santos Guerreiro está muito longe de estar feita, mas antes pelo contrário é uma tarefa para vários anos que está ainda nos primórdios da sua fase inicial. Uma tarefa que vai exigir determinação e serenidade para enfrentar os muitos escolhos e obstáculos que irão surgindo ao longo de um percurso que não é fácil e que apenas conseguiremos superar com o apoio das instituições e dos nossos parceiros europeus.
Um apoio que vai depender das condições políticas internas desses países, mas que apenas poderemos negociar em boas condições se formos capazes de demonstrar que o "merecemos". E isso consegue-se com determinação e clarividência e evitando o tipo de discurso que infelizmente inundou o espaço mediático e que na melhor das hipóteses será uma distração inútil e na pior uma fonte de perigosos populismos.
Uma onda que José Castro Caldas ironica, mas certeiramente, baptizou como o movimento dos neo-indignados. Movimento a que Pedro Santos Guerreiro tenta dar um sentido e utilidade aconselhando Pedro Passos Coelho a deve usar esta união nacional contra as agências de rating para forçar a Comissão Europeia e a Alemanha a desafiarem o seu poderio.
Infelizmente o problema real não está nas agências de rating. Os nossos problemas reais estão num nível de dívida pública e externa demasiado elevado, na ausência de crescimento económico e nos níveis de alavacagem exagerados do nosso sistema financeiro, das empresas e das famílias. É na correcção desses factores e não numa "guerra" inútil contra as "agências" - que quais Dom Quixotes tomando moinhos de vento por gigantes vi e ouvi hoje atribuidos os poderes e motivações extraordinários - que devemos concentrar as nossas energias e a nossa imaginação numa tarefa que contrariamente ao que indica o titulo desta crónica do Pedro Santos Guerreiro está muito longe de estar feita, mas antes pelo contrário é uma tarefa para vários anos que está ainda nos primórdios da sua fase inicial. Uma tarefa que vai exigir determinação e serenidade para enfrentar os muitos escolhos e obstáculos que irão surgindo ao longo de um percurso que não é fácil e que apenas conseguiremos superar com o apoio das instituições e dos nossos parceiros europeus.
Um apoio que vai depender das condições políticas internas desses países, mas que apenas poderemos negociar em boas condições se formos capazes de demonstrar que o "merecemos". E isso consegue-se com determinação e clarividência e evitando o tipo de discurso que infelizmente inundou o espaço mediático e que na melhor das hipóteses será uma distração inútil e na pior uma fonte de perigosos populismos.
Ler os Outros: A saga dos "ratings"
Um texto do Vítor Bento a não perder. Está tudo aqui:
"Mais uma decisão inesperada de uma agência de ‘rating'. Mais uma grande comoção nacional. Mais uma falta de serenidade analítica. E mais uma vez erra-se o alvo do problema.
A decisão da Moody's é inconveniente? É. Suscita uma sensação de injustiça, quando o Governo - e não só - se mostra totalmente empenhado em cumprir e ultrapassar os objectivos acordados com a ‘troika', tendo já mostrado esse empenho através de decisões difíceis? Sim. Mas centrar a discussão nestes aspectos e maldizer as agências de ‘rating' por estas consequências é atirar ao alvo errado.
As agências de ‘rating' regem-se por regras próprias e a sua missão é oferecer aos investidores uma classificação de risco dos devedores, para os orientar nas decisões de investimento. Ninguém é obrigado a seguir as suas classificações, mas é um facto que muitos investidores se orientam voluntariamente por elas e isso tem consequências para o acesso dos devedores ao mercado.
A reestruturação da dívida grega está a ser abertamente discutida, com o "estímulo" das autoridades europeias, e com a perspectiva de o seu resultado implicar perdas para os credores. Esta reestruturação, que acompanha o aumento da ajuda comunitária, está a ser activamente promovida pelas autoridades europeias, sinalizando que estas autoridades só se envolverão em mais ajudas, desde que os credores privados também participem e aceitem perder parte do valor investido. Neste quadro - que constitui, de facto, uma novidade - surpreende que as agências de ‘rating', tendo em conta a sua missão, alertem que aumentou o risco dos investimentos em devedores soberanos em situação problemática? Dificilmente...
(...)
A decisão é inconveniente, como já disse. Mas não adianta desperdiçar energia a discuti-la, porque tal não terá consequências. E muito menos deixarmo-nos desmoralizar. O que temos é que concentrar a energia em fazer o que é preciso ser feito - estabilizar as finanças e promover a competitividade e o crescimento - e cerrar os dentes até que os resultados comecem a manifestar-se. Pois só quando isso acontecer é que poderemos esperar que os juízos externos comecem a mudar.
(...)"
"Mais uma decisão inesperada de uma agência de ‘rating'. Mais uma grande comoção nacional. Mais uma falta de serenidade analítica. E mais uma vez erra-se o alvo do problema.
A decisão da Moody's é inconveniente? É. Suscita uma sensação de injustiça, quando o Governo - e não só - se mostra totalmente empenhado em cumprir e ultrapassar os objectivos acordados com a ‘troika', tendo já mostrado esse empenho através de decisões difíceis? Sim. Mas centrar a discussão nestes aspectos e maldizer as agências de ‘rating' por estas consequências é atirar ao alvo errado.
As agências de ‘rating' regem-se por regras próprias e a sua missão é oferecer aos investidores uma classificação de risco dos devedores, para os orientar nas decisões de investimento. Ninguém é obrigado a seguir as suas classificações, mas é um facto que muitos investidores se orientam voluntariamente por elas e isso tem consequências para o acesso dos devedores ao mercado.
A reestruturação da dívida grega está a ser abertamente discutida, com o "estímulo" das autoridades europeias, e com a perspectiva de o seu resultado implicar perdas para os credores. Esta reestruturação, que acompanha o aumento da ajuda comunitária, está a ser activamente promovida pelas autoridades europeias, sinalizando que estas autoridades só se envolverão em mais ajudas, desde que os credores privados também participem e aceitem perder parte do valor investido. Neste quadro - que constitui, de facto, uma novidade - surpreende que as agências de ‘rating', tendo em conta a sua missão, alertem que aumentou o risco dos investimentos em devedores soberanos em situação problemática? Dificilmente...
(...)
A decisão é inconveniente, como já disse. Mas não adianta desperdiçar energia a discuti-la, porque tal não terá consequências. E muito menos deixarmo-nos desmoralizar. O que temos é que concentrar a energia em fazer o que é preciso ser feito - estabilizar as finanças e promover a competitividade e o crescimento - e cerrar os dentes até que os resultados comecem a manifestar-se. Pois só quando isso acontecer é que poderemos esperar que os juízos externos comecem a mudar.
(...)"
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Ler os Outros: A Impaciência de Alguns - Nuno Gouveia
"O governo está em funções há duas semanas e os críticos já planam por todos os lados. E isto sem o Partido Socialista estar organizado, ainda à deriva à procura de um rumo. Se não me surpreende a falta de vergonha daqueles que durante anos apoiaram o governo PS que nos trouxe a esta situação dramática, o mesmo não posso dizer de muitos sectores da direita. Se era de esperar que a claque socrática demonstrasse uma inequívoca amnésia em relação a tudo que nos conduziu até ao pedido de ajuda externa, reparo que alguns à direita, lendo por aí uma certa blogosfera, nem sequer dão o benefício da dúvida ao governo da coligação PSD/CDS.
(,,,)
Este é um governo para os próximos quatro anos. A situação em que assumiu os destinos da nação é das piores da nossa história, e deve ter uma oportunidade para trabalhar e apresentar resultados."
(retirado do post publicado no Cachimbo de Magritte)
(,,,)
Este é um governo para os próximos quatro anos. A situação em que assumiu os destinos da nação é das piores da nossa história, e deve ter uma oportunidade para trabalhar e apresentar resultados."
(retirado do post publicado no Cachimbo de Magritte)
terça-feira, 5 de julho de 2011
Pior era impossível...
A seguir ao erro de casting da candiatura desastrada a Presidente da Assembleia da República que se saldou num vexame e à promessa de que iria ficar como deputado enquanto entendesse que a sua participação seria útil ao país (ver aqui). Fernando Nobre optouy por cometer um verdadeiro hara-kiri político e embaraçar uma última vez a liderança do PSD ao renunciar ao mandato de deputado por entender que será "mais útil aos portugueses, a Portugal e ao mundo na acção cívica e humanitária".
segunda-feira, 4 de julho de 2011
A limitação da soberania da Grécia
Como se esperava depois da passagem do novo pacote de austeridade no Parlamento grego, o Eurogrupo aprovou ontem o pagamento da tranche de 12 mil milhões de euros evitando assim uma situação de incumprimento. No comunicado é de realçar que os ministros além de realçar a necessidade de um forte comprometimento para a implementação de medidas de consolidação orçamental e de reformas estruturais acrescentam que estas "will be supplemented by large-scale technical assistance, provided by the Commission and Member States", o que como o presidente do Eurogrupo não terá hesitado em assumir numa entrevista citada pela Reuters indica uma limitação importante da soberania da Grécia que se destinará nomeadamente a assegurar o cumprimento de um plano de privatizações em larga escala.
domingo, 3 de julho de 2011
Babel - Alejandro Inarritu
Um filme em que se entrecruzam três histórias em quatro países de três continentes apresentadas de forma não linear, formalmente ligadas por uma arma, mas unidas pelo efeito trágico de decisões erradas mas não mal-intencionadas: o rapaz em Marrocos que decide testar o alcance de uma arma atirando contra um autocarro e ferindo gravemente uma turista americana que as autoridades americanas se precipitam a declarar como um acto terrorista, a ama que atravessa a fronteira para o México com duas crianças para poder ir assistir ao casamento do filho ou o seu sobrinho - bêbado e que sabe que a tia é uma imigrante ilegal nos EUA - que a abandona no deserto com as crianças planeando voltar mas colocando-a a ela e às crinaças em grave risco .
Um filme com uma fotografia belíssima - sobretudos das paisagens desoladas de Marrocos - mas que vale sobretudo pelo lado humano das histórias. Em que, regra geral, cada personagem (em particular os polícias que surgem nas três histórias) tenta cumprir o seu papel o melhor que sabe, onde por cada acto de egoísmo como o dos truristas que insistem em deixar a mulher com um ferimento grave e o marido para trás porque o autocarro tem o ar condicionado desligado, há um acto de generosidade e abnegação, mas em que a barreira da língua, os preconceitos ou a simples dificuldade de compreender e de aceitarmos os nossos defeitos, superarmos as nossas tragédias e controlarnos os nossos impulsos geram mal-entendidos e infelicidade. Mas onde sobressai também a humanidade das personagens.
sábado, 2 de julho de 2011
A ministra da Justiça
Das intervenções dos ministros durante o debate sobre o programa de Governo aquela que mais apreciei foi a da Ministra da Justiça que, revelando um profundo conhecimento do sector, para além da promessa de redução dadas situações de desperdício e duplicação de recursos da "máquina" do Ministério "de forma a libertar recursos para o sistema judiciário", defendeu novas regras processuais para reduzir as pendências e adiantou que a criminalização do enriquecimento ilícito e o crime urbanístico irão naturalmente constar da revisão do Código Penal e de Processo Penal.
sexta-feira, 1 de julho de 2011
A apresentação do programa de Governo
Uma discussão parlamentar francamente morna sobre um programa de Governo que passou na Assembleia da República sem votação apesar dos muitos pontos de interesse como sejam a antecipação das privatizações da REN e EDP, as intenções dos novos ministros da Educação e da Justiça de redução do peso das "máquinas" dos respectivos ministérios, mas que ficou marcado pelo anuncio de um imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal. Uma medida que é dura, que vai ter efeitos recessivos, mas que também surge como inevitável uma das poucas opções que o Governo teria para assegurar o objectivo essencial de atingir os objectivos do défice para este ano.
Será a situação na Grécia sustentável ?
Anteontem e ontem o Governo grego conseguiu fazer aprovar no Parlamento as medidas de austeridade essenciais para o desbloqueamento da próxima tranche da assistência financeira à Grécia e para a aprovação de um segundo plano de assistência, afastando os receios de uma situação de incumprimento receado pelos mercados e conduzindo a fortes subidas das cotações das acções - com destaque para o sector bancário - e do euro.
A questão que se coloca é a sustentabilidade da situação política e social da Grécia onde uma sondagem recente indicava que 50% dos gregos defendia que o plano deveria ser renegociado, 23% defendia a rejeição do plano mesmo com o risco de bancarrota e apenas 21,7% achavam que o plano deveria ser implementado. É certo que 57% dos que defendiam a renegociação preferiam a aprovação do plano a uma situação de bancarrota, o suficiente para dar uma ligeira maioria em favor da aprovação do plano.
Mas estes números conjugados com o facto de o principal partido da oposição estar à frente nas sondagens, embora por uma pequena margem, e a fortre mobilização nas ruas contra os sucessivos pacotes de austeridade e o acentuar dos efeitos recessivos do novo plano gera fortes preocupações quanto à sustentabilidade da situação social e política na Grécia.
A questão que se coloca é a sustentabilidade da situação política e social da Grécia onde uma sondagem recente indicava que 50% dos gregos defendia que o plano deveria ser renegociado, 23% defendia a rejeição do plano mesmo com o risco de bancarrota e apenas 21,7% achavam que o plano deveria ser implementado. É certo que 57% dos que defendiam a renegociação preferiam a aprovação do plano a uma situação de bancarrota, o suficiente para dar uma ligeira maioria em favor da aprovação do plano.
Mas estes números conjugados com o facto de o principal partido da oposição estar à frente nas sondagens, embora por uma pequena margem, e a fortre mobilização nas ruas contra os sucessivos pacotes de austeridade e o acentuar dos efeitos recessivos do novo plano gera fortes preocupações quanto à sustentabilidade da situação social e política na Grécia.
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