No lançamento do seu novo livro, José Saramago decidiu referir-se à Biblia como "um manual de maus costumes, um catálogo da crueldade e do pior da natureza humana". Frase que, como o autor terá intuido, gerou clamor (com um efeito publicitário não negligenciável). Mas, retire-se a palavra "manual" e se calhar a talvez as únicas coisas de que Saramago poderá ser criticado é de ter uma visão reducionista da Bíblia e de permanecer agarrado a uma visão literal da Bíblia desconhecendo as posições da Igreja relativamente à interpretação dos textos biblicos que critica precisamente a leitura fundamentalista baseada na ideia de que, sendo Palavra de Deus inspirada e isenta de erro, e portanto deve ser lida e interpretada literalmente em todos os seus detalhes.
O Antigo Testamento trata basicamente das relações entre Deus e o povo de Israel e é em grande parte uma história dos homens. Não será por isso de estranhar (antes pelo contrário) que o texto biblico retrate o melhor e o pior da natureza humana, nem me parece que isso seja um desvalor para a Biblia. Não pude alíás deixar de pensar que as criticas de Saramago poderiam igualmente ser dirigidas a muita da melhor literatura, dos textos de história e do cinema e interrogar-me sobre qual será a sua opinião relativamente aos "tenebrosos" clássicos da literatura infantil.
Curioso também que nas suas declarações Saramago se refira ao Deus "cruel" do Antigo Testamento esquecendo o Deus do Novo Testamento e aponte os efeitos negativos da religião ignorando o seu contributo civilizacional... de que aliás a sua obra é um reflexo.
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