Tem-se dito que o novo Governo é um Governo de continuidade. O que sinceramente me causa estranheza por duas razões, aparentemente contraditórias, não só porque não me parece que alguém tivesse à espera de grandes rupturas, mas, também, porque apesar não haverem entradas sonantes as diferenças são muitas.
Em primeiro lugar, porque num Governo com 16 ministros temos 8 novos ministros (50%) e 2 ministros que mudam de pasta (12,5%). Ou seja, temos apenas 6 manutenções sendo que 3 dos ministros que se mantém nas respectivas pastas (Teixeira dos Santos, Rui Pereira e Ana Jorge) entraram no Governo já no decorrer da passada legislatura. O que significa que comparando o novo Governo com aquele que tomou posse em Março de 2005, além do primeiro-ministro, apenas temos 2 manutenções (Silva Pereira e Mariano Gago), havendo apenas mais 3 ministros (Luís Amado, Vieira da Silva e Augusto Santos Silva) que iniciaram funções nessa data mas que entretanto transitaram de pastas. Em segundo lugar, porque, apesar de esperadas, se verificam as alterações em algumas das pastas mais importantes, como sejam a Educação, Obras Públicas e Economia.
De um ponto de vista político a composição do Governo privilegiou a pacificação nos sectores mais controversos, procurando, de algum modo, reproduzir o efeito obtido na Saúde com a substituição de Correia Campos por Ana Jorge. Tal é particularmente evidente na Educação onde a nova ministra parece ter as condições para, pelo menos, merecer o benefício da dúvida dos principais agentes no sector.
Parece igualmente existir uma tentativa de viragem à esquerda do Governo, nomeadamente através da nova ministra do Trabalho e da mudança de Vieira da Silva para a Economia (e também, eventualmente, do novo ministro das Obras Pùblicas), nomes que poderão ter alguma capacidade para conter o descontentamento laboral e sindical e que, no segundo caso, correspondem a um claro reforço do peso político do ministério.
Onde as escolhas poderão colocar à partida mais dúvidas são na Justiça, Assuntos Parlamentares e Defesa onde apesar de tudo se tratam de ministros com peso específico dentro do PS mas sobretudo nas escolhas, para mim as mais surpreendentes em face dos currículos divulgados, de António Mendonça para as Obras Públicas e de António Serrano para a Agricultura, curiosamente dois professores universitários cujas áreas de interesse académico (no primeiro caso, economia internacional e, no segundo, caso gestão de empresas e gestão da informação) não parecem estar muito relacionadas com os sectores pelos quais irão ser responsáveis.
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