Mais do que as constantes referências à disponibilidade para cooperar com o Governo do discurso do Presidente (numa clara tentativa de contrariar os efeitos do chamado "caso das escutas") e da co-responsabilização dos partidos da oposição pelas (ausência de) soluções governativas do discurso do Primeiro-Ministro, os discursos marcam duas visões claramente distintas sobre o futuro do país.
Embora a questão da crise económica, desemprego e justiça social tenham estado presentes em ambos. A verdade é que as soluções preconizadas por Cavaco Silva e José Sócrates nos seus discursos são não só manifestamente distintas como até dificilmente compatíveis.
Enquanto para Cavaco Silva a questão do "endividamento externo" surge como problema fundamental e considera que a solução para o desemprego deve passar por "um aumento da produção nacional de bens transaccionáveis e um reforço da capacidade competitiva da economia portuguesa", considerando que "Sem o aumento da produção competitiva a nível internacional não será possível criar empregos sustentáveis e conter as necessidades de recurso ao financiamento externo" e chamando a atenção para a relação "entre o défice externo e o desequilíbrio das contas públicas, os chamados défices gémeos".
Para o primeiro ministro o caminho para a recuperação económica passa por um papel determinante do Estado "Apoiando o investimento privado e as empresas. Defendendo o emprego e incentivando a contratação. Promovendo o investimento público que, ao mesmo tempo, modernize o País, dê oportunidades às empresas e estimule a criação de emprego" e a relativamente ao endividamento externo a única referência que surge no seu discurso é a propósito da "aposta nas energias renováveis".
Trata-se de duas visões e de duas estratégias inconciliáveis pelo que, muito sinceramente, não se antevê como poderá funcionar a "cooperação estratégica" entre Belém e São Bento quando o Governo se propõe prosseguir uma política que o Presidente considera que só irá agravar o principal problema do país.
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