segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
A revolução no Egipto
A notícia de que o exército egípcio considera legitimas as aspirações populares e não usará a força contra os manifestantes e de que o vice-presidente irá iniciar contractos com os partidos da oposição sugere a queda do regime de Mubarak está iminente.
Apesar das comparações com a queda do Muro de Berlim em 1989, o contexto que se vive hoje no Egipto é, no entanto, substancialmente diferente do que então se verificava na Europa de Leste. Em 1989, não estava em dúvida a transição para a democracia parlamentar e a substituição de economia estatal para uma economia de mercado. A situação que se vive hoje no Egipto é consideravelmente mais confusa. Se hoje existe uma aliança entre os moderados e islamistas, que têm dado sinais de aceitar a liderança de El Baradei. Estes, representados pela Irmandade Muçulmana, estarão em princípio mais organizados e beneficiam de uma reputação de incorruptibilidade e da influência da religião, que lhes poderá garantir um resultado eleitoral capaz de lhes assegurar um peso importante num futuro governo.
sábado, 29 de janeiro de 2011
Hereafter - Outra vida
Clint Eastwood tem com uma capacidade invulgar de contar histórias de uma forma emocional, tocante e extremamente poderosa como demonstrou em filmes como Mystic River (para mim o melhor de todos), a Troca, Cartas de Iwo Jima ou Million Dollar Baby que fazem dele indiscutivelmente um dos melhores realizadores da actualidade.
É por isso natural que as expectativas de quem entra numa sala de cinema para assistir a um novo filme de Clint Eastwood sejam elevadas, até porque já alcançou um estatuto que lhe permite arriscar. Que outro realizador americano se permitiria fazer um filme com longos diálogos em francês? E neste filme Clint Eastwood arriscou imenso ao escolher fazer um filme um tema tão profundamente polémico como o da vida após a morte. Risco que foi conscientemente assumido como nos revela através da história da personagem Marie LeLay.
Sem querer estragar o filme a quem ainda não o tenha visto (se for o caso talvez esteja na altura de parar de ler este post), este não é, contudo, um filme que procure responder à questão de saber o que sucede depois da morte. Se tem uma posição, pessoal Eastwood abdica de a transmitir, mostrando-se claramente mais interessado em contar três histórias independentes de três vidas (três percursos em diferentes do mundo) afectadas pela experiência da morte. É aqui que Clint Eastwood revela (sobretudo através das histórias de Marcus e de Marie) uma vez mais a sua extraordinária mestria para retratar as reacções e os sentimentos humanos.
O filme é (um pouco) estragado com um final pouco convincente, mas só apenas depois de Eastwood nos ter brindado com uma belíssima pequena história dentro do filme (a do relacionamento entre George e Melanie – personagem com uma presença fugaz mas marcante) que talvez nos revele a resposta que nos queria transmitir: às vezes é melhor não saber demais !
A situação no Egipto
A chama da revolução está agora a assolar um Egipto onde os protestos continuam pelo 5.º dia consecutivo com os manifestantes a desafiarem o recolher obrigatório.
Tal como sucedeu na Tunísia estes protestos parecem ter surgido de forma espontânea o que torna a situação particularmente incerta na medida em que não parece haver uma força com a qual o Governo possa negociar uma solução.
No entanto, diferentemente do que aconteceu na Tunísia, as forças políciais e, embora com menos entusiasmo, o exército estão a dar sinais de que continuam a apoiar o poder. A nomeação do chefe dos serviços secretos como vice-presidente parece ser uma medida que visa sobretudo assegurar a fidelidade das forças militares fazendo recear a hipótese de uma repressão violenta das manifestações de protesto, que as notícias de pilhagens poderão ser utilizadas para justificar como uma medida indispensável para evitar o caos e repor a ordem.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Notícias dispersas que dispensam comentários
A Comissão Europeia confirmou que o governo violou o direito comunitário na concepção técnica e na adjudicação directa de mais de um milhão de computadores dos programas de educação, mais conhecidos por Magalhães, tendo referido nomeadamente que “os concursos abertos e transparentes exigidos pela regras europeias (...) implicam mais concorrência, maiores salvaguardas contra a corrupção e um melhor serviço e utilização do dinheiro para os contribuintes”.
O aviso interno foi feito com bastante antecedência, em Agosto: a Direcção-Geral da Administração Interna (DGAI) deveria enviar aos detentores do cartão de cidadão um aviso com o novo número de eleitor e a freguesia onde deveriam votar nas presidenciais de domingo. Mas tal não foi feito e as eleições ficaram marcadas por casos de eleitores que não puderam votar.
Mas as notícias que sinceramente mais me têm impressionado nos últimos dias são as que respeitam às testemunhas abonatórias de José Penedos:
Eduardo Catroga (...) Questionado sobre a oferta e recebimento de presentes por parte de Penedos, a testemunha admitiu que ele próprio sempre recebeu prendas de maior ou menor valor e que considera esta prática normal.
Por sua vez, Angelo Correia declarou que "Prendas e presépios são obrigatórios no Natal. É uma prática instituída, algo que se dá aos nossos amigos.", tendo garantido que é normal receber e oferecer prendas em termos empresariais.
E Jorge Sampaio declarou que há presentes e presentes - recebi centenas, e ninguém pode dizer que influenciaram qualquer das minhas decisões, confirmara o uso portugês de dar e receber canetas, vinho do Porto e outras lembranças de Natal com valores muito variáveis.
E António Vitorino valendo-se da sua experiência na Comissão da União Europeia, explicou ao tribunal a praxis da Europa em matéria de presentes de Natal, explicando que apenas nos países do Norte da Europa eles não eram uma realidade, estando, porém, profundamente enraizados na cultura dos países do Sul da Europa, como Portugal e Espanha.
Assunto sobre o qual recomendo a leitura deste post do Professor Luis Menezes Leitão no Albergue Espanhol.
O aviso interno foi feito com bastante antecedência, em Agosto: a Direcção-Geral da Administração Interna (DGAI) deveria enviar aos detentores do cartão de cidadão um aviso com o novo número de eleitor e a freguesia onde deveriam votar nas presidenciais de domingo. Mas tal não foi feito e as eleições ficaram marcadas por casos de eleitores que não puderam votar.
Mas as notícias que sinceramente mais me têm impressionado nos últimos dias são as que respeitam às testemunhas abonatórias de José Penedos:
Eduardo Catroga (...) Questionado sobre a oferta e recebimento de presentes por parte de Penedos, a testemunha admitiu que ele próprio sempre recebeu prendas de maior ou menor valor e que considera esta prática normal.
Por sua vez, Angelo Correia declarou que "Prendas e presépios são obrigatórios no Natal. É uma prática instituída, algo que se dá aos nossos amigos.", tendo garantido que é normal receber e oferecer prendas em termos empresariais.
E Jorge Sampaio declarou que há presentes e presentes - recebi centenas, e ninguém pode dizer que influenciaram qualquer das minhas decisões, confirmara o uso portugês de dar e receber canetas, vinho do Porto e outras lembranças de Natal com valores muito variáveis.
E António Vitorino valendo-se da sua experiência na Comissão da União Europeia, explicou ao tribunal a praxis da Europa em matéria de presentes de Natal, explicando que apenas nos países do Norte da Europa eles não eram uma realidade, estando, porém, profundamente enraizados na cultura dos países do Sul da Europa, como Portugal e Espanha.
Assunto sobre o qual recomendo a leitura deste post do Professor Luis Menezes Leitão no Albergue Espanhol.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
O discurso de Obama
Parece incrível que tenha sido apenas há pouco mais de 2 anos (em Novembro de 2008) que Barack Obama foi eleito Presidente dos EUA gerando uma onda de entusiasmo e gerando expectativas exageradas relativamente à sua Presidência. Esfumado esse entusiasmo estaremos talvez em condições de fazer um pequeno balanço sobre aquela que foi até agora a Presidência de Obama.
Qualquer balanço não pode deixar de atender às dificeis circunstâncias em que tem decorrido o actual mandato. Quando tomou posse como Presidente dos EUA (em 20 de Janeiro de 2009) os EUA estavam mergulhados numa profunda crise económica e financeira (entre 2008Q2 e 2009Q2 o PIB dos EUA caiu 4,1% e a taxa de desemprego subiu de cerca de 5% para valores próximos dos 10%), os EUA estavam envolvidos em duas guerras (no Afeganistão e no Iraque) e tendo sido eleito com uma plataforma liberal (no sentido americano do termo) podia contar com a oposição aguerrida de uma direita conservadora que tem um apelo fortissimo numa grande parte da América. Neste contexto, deve reconhecer-se que Obama obteve resultados razoáveis, embora certamente abaixo das expectativas dos seus muitos apoiantes e admiradores que havia granjeado em todo o mundo. A crise económica e financeira foi contida e a economia está a recuperar, a situação no Iraque evoluiu positivamente e conseguiu a aprovação da reforma do sistema de saúde que tinha elegido como uma das suas prioridades.
Claro que nem tudo foi positivo, a nível internacional a situação no Afeganistão continua muito complicada, a reforma do sistema de saúde teve custos políticos elevados e, a nível económico, a evolução positiva do crescimento económico não tem sido suficiente para permitir uma redução significativa do desemprego que permancece em níveis muito elevados (em Dezembro situava-se nos 9,4%) e o défice federal situa-se em níveis próximos dos 10% do PIB.
Neste contexto, e numa altura em que já se iniciou a contagem decrescente para as eleições presidenciais, é natural que o discurso de Obama (mais uma vez formalmente muito bom) tenha-se centrado nas questões do emprego, na competitividade através do reforço da educação e do investimento em I&D e no investimento em infra-estruturas tendo estabelecido como objectivo para os próximos 25 anos "to give 80 percent of Americans access to high-speed rail", ao mesmo tempo que defendeu uma simplificação da tributação sobre as empresas que permita reduzir a taxa do imposto sem perda de receita e uma simplificação da regulação. A nível económico saliente-se, ainda, a aposta nas exportações relativamente às quais fixou o objectivo de duplicarem até 2014 e a proposta de congelamento da despesa federal durante os próximos 5 anos.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Comentário aos resultados das Presidenciais
Vitória clara e tranquila de Cavaco Silva que, embora com um score eleitoral abaixo dos 55% com que foi reeleito de Jorge Sampaio, obteve uma percentagem superior àquela com que havia sido eleito em 2006 (52,9% contra 50,5%) e conseguiu uma vantagem esmagadora (superior a 30 pontos percentuais) sobre o segundo candidato mais votado.
O grande derrotado da noite foi indiscutivelmente Manuel Alegre que apenas logrou 831 mil votos que não foram sequer suficientes para alcançar os 20% (embora por pequena margem pois teve 19,8%) o que é um resultado significativamente abaixo do obtido em 2006 onde, sem o apoio do PS nem do BE, havia obtido 1,1 milhões de votos e 20,7%. Este péssimo resultado representa uma pesada derrota pessoal do candidato, de uma estratégia eleitoral e dos partidos que o apoiaram, mas constitui, sobretudo, um sério revés para a ala esquerda do PS. Revés ampliado pelo facto de Fernando Nobre, embora ficando distante do 2.º candidato mais votado, ter obtido 14,1%, resultado que lhe permitiu surgir com um dos “vencedores” da noite eleitoral.
Numa campanha marcada por uma abstenção elevadíssima (53,4%), em que a reconhecida (embora continuamente subestimada) capacidade de mobilização do PCP permitiu a Francisco Lopes obter uns razoáveis 7,1%, merece destaque o resultado surpreendente do candidato José Manuel Coelho que com 189 mil votos obteve 4,5% (conseguindo uns notáveis 39% na Região Autónoma da Madeira), capitalizando um voto de protesto que se manifestou igualmente no elevado volume de votos brancos (191 mil correspondendo a 4,3% do total dos votantes) e nulos (86 mil, correspondendo a 1,9% dos votantes).
Que mais de 277 mil eleitores (6,2% do total) tenham optado por enfrentar o dia frio para votar branco ou nulo e os candidatos apoiados pelos partidos com representação parlamentar tenham obtido apenas 74,9% do total votos expressos constituem sinais de aviso do crescente afastamento dos cidadãos face aos principais partidos políticos nacionais que não devem ser ignorados.
O grande derrotado da noite foi indiscutivelmente Manuel Alegre que apenas logrou 831 mil votos que não foram sequer suficientes para alcançar os 20% (embora por pequena margem pois teve 19,8%) o que é um resultado significativamente abaixo do obtido em 2006 onde, sem o apoio do PS nem do BE, havia obtido 1,1 milhões de votos e 20,7%. Este péssimo resultado representa uma pesada derrota pessoal do candidato, de uma estratégia eleitoral e dos partidos que o apoiaram, mas constitui, sobretudo, um sério revés para a ala esquerda do PS. Revés ampliado pelo facto de Fernando Nobre, embora ficando distante do 2.º candidato mais votado, ter obtido 14,1%, resultado que lhe permitiu surgir com um dos “vencedores” da noite eleitoral.
Numa campanha marcada por uma abstenção elevadíssima (53,4%), em que a reconhecida (embora continuamente subestimada) capacidade de mobilização do PCP permitiu a Francisco Lopes obter uns razoáveis 7,1%, merece destaque o resultado surpreendente do candidato José Manuel Coelho que com 189 mil votos obteve 4,5% (conseguindo uns notáveis 39% na Região Autónoma da Madeira), capitalizando um voto de protesto que se manifestou igualmente no elevado volume de votos brancos (191 mil correspondendo a 4,3% do total dos votantes) e nulos (86 mil, correspondendo a 1,9% dos votantes).
Que mais de 277 mil eleitores (6,2% do total) tenham optado por enfrentar o dia frio para votar branco ou nulo e os candidatos apoiados pelos partidos com representação parlamentar tenham obtido apenas 74,9% do total votos expressos constituem sinais de aviso do crescente afastamento dos cidadãos face aos principais partidos políticos nacionais que não devem ser ignorados.
domingo, 23 de janeiro de 2011
Tambores da Noite - Teatro Dona Maria - 22 de Janeiro
A acção decorre em Janeiro de 1919, tendo por pano de fundo uma Berlim onde se desenrola a batalha decisiva do Bairro dos Jornais em que as tropas governamentais esmagaram aquela que ficou conhecida como a revolução espatarquista. Episódio que marcou o fim do movimento iniciado em Novembro de 1918, data do fim da 1ª Guerra Mundial e (começo do) fim da vaga revolucionária que assolou a Europa daquele período e das esperanças bolcheviques no sucesso de uma revolução socialista mundial.
Andreas Kragler, soldado desaparecido nas trincheiras, regressa 4 anos, para uma Berlim em convulsão e descobre que a mulher que amava (Anna Balicke filha de uma família burguesa) estava agora noiva, e grávida, do burguês Murk, que não só não havia combatido na guerra como havia enriquecido graças a ela.
Ana acaba por abandonar Murk e os pais e procura Kragler, e o casal termina junto. Estamos, porém, muito longe do final feliz hollywoodesco. A acção decorre sob o signo de um cartaz onde refere “Nada de olhares românticos” e a frase "my home is my castle" surge várias vezes na peça (simbolizando o lar pequeno burguês indiferente aos acontecimentos revolucionários). O casamento surge não como um lugar idílico, onde é possível ser feliz, mas como um refúgio para um Kragler que optou pelo compromisso e a capitulação, abandonando os seus colegas revolucionários (destinados a sucumbir numa luta desigual, mas heróica, pelos seus ideais) para ter uma existência "confortável" junto da mulher que o havia esquecido.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Sondagens presidenciais
Fazendo a média das últimas sondagens da Marktest, Intecampus, Eurosondagem, CESOP/Católica e Aximage (valores obtidos aqui) sem considerar os valores mais alto e baixo para cada um dos candidatos obtemos os seguintes resultados:
Cavaco Silva - 56,6%
Manuel Alegre - 23,3%
Fernando Nobre - 10,3%
Francisco Lopes - 5,8%
José Manuel Coelho - 2,2%
Defensor de Moura - 1,5%
Note-se que todas as sondagens indicam uma eleição de Cavaco Silva já na primeira volta com uma vantagem confortável, já que o valor mais baixo das cinco sondagens - o da sondagem da Intercampus - aponta para um resultado de 54,6%. Sendo Manuel Alegre o candidato relativamente ao qual existe uma maior dispersão dos resultados das diversas sondagens.
Cavaco Silva - 56,6%
Manuel Alegre - 23,3%
Fernando Nobre - 10,3%
Francisco Lopes - 5,8%
José Manuel Coelho - 2,2%
Defensor de Moura - 1,5%
Note-se que todas as sondagens indicam uma eleição de Cavaco Silva já na primeira volta com uma vantagem confortável, já que o valor mais baixo das cinco sondagens - o da sondagem da Intercampus - aponta para um resultado de 54,6%. Sendo Manuel Alegre o candidato relativamente ao qual existe uma maior dispersão dos resultados das diversas sondagens.
As razões para o meu voto em Cavaco Silva
No próximo domingo os portugueses serão chamados a escolher quem ocupará o cargo de Presidente da República (PR) nos próximos 5 anos.
Não tendo poderes executivos, que constitucionalmente estão atribuídos ao Governo a quem compete a condução da política geral do país e a gestão da administração pública, nem iniciativa legislativa, repartida pelo Governo e pela Assembleia da República, a CRP atribui ao PR poderes importantes. Além de ser, por inerência, o comandante supremo das forças armadas, o PR tem poderes importantes no processo legislativo nomeadamente através do veto político dos diplomas e da possibilidade de requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade, cabendo-lhe, ainda, nomear e exonerar o primeiro-ministro e os membros do Governo. E claro tem o poder de dissolução da Assembleia da República.
Não é, portanto, indiferente saber quem irá ocupar o cargo nos próximos anos. Na situação económica e social em que nos encontramos será, mais do que nunca, importante que o PR seja, sobretudo, alguém que seja capaz de criar as condições para que a condução política da nação se desenrole com normalidade. O que implica alguém que evite uma situação de guerrilha institucional com o Governo e a AR mas que simultaneamente tenha a capacidade política para encontrar as soluções mais adequadas no caso de, como é possível ou até provável que venha a suceder durante o mandato do próximo PR, vir a surgir uma crise política.
Ora, considero que Cavaco Silva é, de entre todos os candidatos, aquele que dá mais garantias de que terá o comportamento que julgo mais adequado às funções presidenciais. Não apenas pela sua experiência política, mas sobretudo porque é alguém que tem plena consciência da gravidade da situação que o país atravessa e o seu percurso político revela que não é um homem esteja disposto a arriscar o futuro do país e o seu lugar na história em nome de quaisquer interesses meramente partidários ou de facção.
Para além de ser o candidato que estará em melhores condições para moderar a natural ânsia dos partidos da direita em derrubar o Governo seja através da apresentação de uma moção de censura seja através do chumbo da proposta de orçamento. Tenho, igualmente, uma profunda convicção que uma vez eleito utilizará os seus poderes com moderação e em particular que apenas dissolverá a AR se tiver certeza de que o eleitorado confirmará a justeza dessa decisão, ou seja que das subsequentes eleições legislativas resultará não apenas uma nova maioria, mas uma composição do parlamento que permita governar com condições de estabilidade política.
Não tendo poderes executivos, que constitucionalmente estão atribuídos ao Governo a quem compete a condução da política geral do país e a gestão da administração pública, nem iniciativa legislativa, repartida pelo Governo e pela Assembleia da República, a CRP atribui ao PR poderes importantes. Além de ser, por inerência, o comandante supremo das forças armadas, o PR tem poderes importantes no processo legislativo nomeadamente através do veto político dos diplomas e da possibilidade de requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade, cabendo-lhe, ainda, nomear e exonerar o primeiro-ministro e os membros do Governo. E claro tem o poder de dissolução da Assembleia da República.
Não é, portanto, indiferente saber quem irá ocupar o cargo nos próximos anos. Na situação económica e social em que nos encontramos será, mais do que nunca, importante que o PR seja, sobretudo, alguém que seja capaz de criar as condições para que a condução política da nação se desenrole com normalidade. O que implica alguém que evite uma situação de guerrilha institucional com o Governo e a AR mas que simultaneamente tenha a capacidade política para encontrar as soluções mais adequadas no caso de, como é possível ou até provável que venha a suceder durante o mandato do próximo PR, vir a surgir uma crise política.
Ora, considero que Cavaco Silva é, de entre todos os candidatos, aquele que dá mais garantias de que terá o comportamento que julgo mais adequado às funções presidenciais. Não apenas pela sua experiência política, mas sobretudo porque é alguém que tem plena consciência da gravidade da situação que o país atravessa e o seu percurso político revela que não é um homem esteja disposto a arriscar o futuro do país e o seu lugar na história em nome de quaisquer interesses meramente partidários ou de facção.
Para além de ser o candidato que estará em melhores condições para moderar a natural ânsia dos partidos da direita em derrubar o Governo seja através da apresentação de uma moção de censura seja através do chumbo da proposta de orçamento. Tenho, igualmente, uma profunda convicção que uma vez eleito utilizará os seus poderes com moderação e em particular que apenas dissolverá a AR se tiver certeza de que o eleitorado confirmará a justeza dessa decisão, ou seja que das subsequentes eleições legislativas resultará não apenas uma nova maioria, mas uma composição do parlamento que permita governar com condições de estabilidade política.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
A campanha eleitoral para a Presidência da República
Discordando daquilo que parece ser a percepção generalizada sobre a campanha eleitoral em curso, não julgo que esta campanha tenha sido pior ou mais desinteressante do que outras anteriores.
Na verdade esta campanha tem tido um pouco de tudo: casos polémicos, dramatização de posições e até alguma incerteza quanto ao resultado da primeira volta. Mas parece-me, sobretudo, analisar o comportamento daqueles que têm sido os principais actores políticos desta campanha.
Sendo o candidato da oposição da direita, o principal dilema de Cavaco Silva tem sido o de obter o equilíbrio entre, por um lado, combater a eventual abstenção do eleitorado de direita (especialmente após algum desgaste em consequência do não veto da lei que veio permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo) e, por outro lado, fazê-lo sem perder a sua vantagem no centro do eleitorado essencial para obter uma maioria clara. Daí que ao longo da campanha tenha procurado passar a mensagem de que iria ter uma postura mais interventiva no seu segundo mandato, sem ao mesmo tempo deixar de afirmar a importância da estabilidade.
Por sua vez, confrontado com as dificuldades naturais de um candidato que é simultaneamente o candidato do prinicpal partido de oposição de esquerda e do partido do Governo, Manuel Alegre demorou demasiado tempo a encontrar um tom de campanha que se adequasse a esta situação. Talvez por isso a sua campanha ficou marcada, em excesso, pelas reacções a Cavaco Silva do que na afirmação da própria candidatura. Nos últimos dias, tem vindo a apostar na dramatização da campanha, soibretudo através da diabolização de uma direita que Cavaco Silva putativamente representa, tentando assim mobilizar o eleitorado de esquerda e de centro-esquerda. O que até pode de algum modo convir a Cavaco Silva na medida em que contribua para dramatizar a campanha e, por essa via, contribuir para uma maior mobilização do eleitorado. Curiosamente esta estratégia parece assenta na ideia de que PSD-PP irão(naturalmente?) vencer as próximas eleições tornando decisiva a eleição de um Presidente de esquerda que bloqueie e impeça os “excessos” do Governo de direita. Trata-se no fundo de tentar repetir a estratégia que o PS aplicou com resultados positivos nas últimas eleições legislativas e que muito provavelmente irá constituir a sua base para a futura campanha do PS no contexto de eventuais futuras eleições legislativas.
Na verdade esta campanha tem tido um pouco de tudo: casos polémicos, dramatização de posições e até alguma incerteza quanto ao resultado da primeira volta. Mas parece-me, sobretudo, analisar o comportamento daqueles que têm sido os principais actores políticos desta campanha.
Sendo o candidato da oposição da direita, o principal dilema de Cavaco Silva tem sido o de obter o equilíbrio entre, por um lado, combater a eventual abstenção do eleitorado de direita (especialmente após algum desgaste em consequência do não veto da lei que veio permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo) e, por outro lado, fazê-lo sem perder a sua vantagem no centro do eleitorado essencial para obter uma maioria clara. Daí que ao longo da campanha tenha procurado passar a mensagem de que iria ter uma postura mais interventiva no seu segundo mandato, sem ao mesmo tempo deixar de afirmar a importância da estabilidade.
Por sua vez, confrontado com as dificuldades naturais de um candidato que é simultaneamente o candidato do prinicpal partido de oposição de esquerda e do partido do Governo, Manuel Alegre demorou demasiado tempo a encontrar um tom de campanha que se adequasse a esta situação. Talvez por isso a sua campanha ficou marcada, em excesso, pelas reacções a Cavaco Silva do que na afirmação da própria candidatura. Nos últimos dias, tem vindo a apostar na dramatização da campanha, soibretudo através da diabolização de uma direita que Cavaco Silva putativamente representa, tentando assim mobilizar o eleitorado de esquerda e de centro-esquerda. O que até pode de algum modo convir a Cavaco Silva na medida em que contribua para dramatizar a campanha e, por essa via, contribuir para uma maior mobilização do eleitorado. Curiosamente esta estratégia parece assenta na ideia de que PSD-PP irão(naturalmente?) vencer as próximas eleições tornando decisiva a eleição de um Presidente de esquerda que bloqueie e impeça os “excessos” do Governo de direita. Trata-se no fundo de tentar repetir a estratégia que o PS aplicou com resultados positivos nas últimas eleições legislativas e que muito provavelmente irá constituir a sua base para a futura campanha do PS no contexto de eventuais futuras eleições legislativas.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
A revolução na Tunísia
A revolução tunisina constitui indubitavelmente um sinal de esperança para todos os que, como o autor do
post, acreditam no carácter universal dos valores da democracia e da liberdade.
Apesar disso existem três grandes incertezas. Em primeiro lugar, no curto prazo quanto a ser possível uma normalização da situação do país que permita a realização de eleições livres e democráticas. Em segundo lugar quanto a um eventual efeito de dominó desastibilizador que o exemplo da Tunísia possa ter sobre outros países do chamado mundo árabe e em particular na Argélia e no Egipto. Em terceiro lugar, a possibilidade de a evolução da situação poder a prazo conduzir a uma vitória da posição do integrismo islâmico, com consequências perversas sobre a situação dos direitos humanos e em particular À condição feminina, nomeadamente no caso de as forças moderadas e progressistas não tiverem capacidade não só de construir uma alternativas política víável que lhes permita governar e implementar políticas que combatam a corrupção e promovam o crescimento económico e uma maior justiça social.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Ute Lumper - Gulbenkian - 14 de Janeiro
Uma viagem no tempo através de algumas canções icónicas do século XX, com passagem, na primeira parte, pelos anos da República de Weimar e o heroísmo daqueles que ousaram resistir ao nazismo em que o universo brechtiano teve merecido lugar de destaque com versos de ressonância intemporal como sucede em Das Wasserrad (A roda de água):
É verdade que a roda não pára de girar
Que o que está em cima, não há de lá ficar
Mas, infelizmente, para a água em baixo
Isso significa somente: que terá de mover a roda sem
parar
E uma belissima segunda parte (magníficas as interpretações de Amesterdam e Padam) com um conjunto de canções unidas pelo tema universal da impossibilidade do amor expressa de forma sublime nos versos de Milord:
L' amour, ça fait pleurer
Comme quoi l'existence
Ça vous donne toute les chances
Pour les reprendre après
É verdade que a roda não pára de girar
Que o que está em cima, não há de lá ficar
Mas, infelizmente, para a água em baixo
Isso significa somente: que terá de mover a roda sem
parar
E uma belissima segunda parte (magníficas as interpretações de Amesterdam e Padam) com um conjunto de canções unidas pelo tema universal da impossibilidade do amor expressa de forma sublime nos versos de Milord:
L' amour, ça fait pleurer
Comme quoi l'existence
Ça vous donne toute les chances
Pour les reprendre après
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Aprender a rezar na Era da Técnica
Já tinha ouvido e lido referências elogiosas e tinha alguma curiosidade, mas só muito recentemente encontrei tempo e espaço para ler a obra de Gonçalo M. Tavares. Decidi começar pela tetralogia o Reino publicada entre 2003 e 2007 que fui lendo ao longo das últimas semanas por ordem cronológica.
Devo confessar que embora aprecie a escrita seco e incisivo que caracteriza todos os romances esta série, os dois primeiros romances: "Um Homem: Klaus Klump" e a "Máquina e Joseph Walser" me deixaram um certo sabor a pouco. Apesar de formalmente interessantes pareceu-me faltar-lhes algum fôlego talvez por as personagens serem excessivamente estereótipadas.
O mesmo já não sucedeu com "Jerusalém" onde o autor nos consegue fazer mergulhar na mente humana levando-nos numa viagem fascinante (embora profundamente pessimista) sobre a loucura - tema principal do livro, a maldade e a perversidade, num percurso onde é dificil identificar o Bem e o Mal e destrinçar entre o Destino e a Coincidência.
Mas, pessoalmente, o meu preferido é "Aprender a rezar na Era da Técnica", romance que fecha a tetralogia que é a história de um homem Lenz Buchmann, profundamente marcado pelo pai, desmesuradamente ambicioso, sem escrúpulos, com virtudes públicas e vícios privados que somos levados a acompanhar na viagem da sua vida desde a adolescência até ao desfecho inevitável da vida. Sofrendo com a personagem à medida em que somos tocados pelas suas fraquezas (mesmo quando escondidas por detrás de uma força aparente) que caracteriza e no fundo corresponde à humanidade (com "h" minúsculo) unida pela partilha da consciência da sua própria mortalidade.
domingo, 9 de janeiro de 2011
Campanha presidencial
Tenho acompanhado com particular desinteresse a (pré-)campanha para as próximas eleições presidenciais, não tendo sequer assistido a nenhum dos debates ou entrevistas. Em grande parte porque, embora sem grande entusiasmo, há já bastante tempo decidi que o meu voto iria para o actual Presidente, mas também porque pelos ecos publicados me parece uma campanha insípida cheia de lugares comuns, com as tradicionais visitas aos mercados, os contactos de "rua" com o "povo" e, sobretudo, uma confrangedora ausência de qualquer verdadeiro "debate" político. Em suma, uma campanha que parece estar a ser conduzida com o desígnio de confirmar o diagnóstico de Ferreira Leite de que "a classe política tornou-se num mundo à parte, em que os cidadãos não se revêem e em que, na maior parte das vezes, os políticos falam em circuito fechado".
Para confirmar este desolador contexto, nem sequer as polémicas em torno do candidatos têm conseguido ultrapassar o grau de mediocridade que tem caracterizado esta campanha.
Não me choca, antes pelo contrário, que se discuta a actuação dos políticos nos seus negócios privados, e compreendo que, à falta de melhor, os outros candidatos e, em particular Manuel Alegre, tenham dificuldade em resistir a aproveitar todos os meios ao seu alcance para reduzir a esmagadora diferença nas intenções de voto que os separam do actual detentor do cargo.
Mas, não deixa de ser sintomático do estado da nossa política que se discuta como se fossem revelações bombásticas as mais-valias obtidas pelo actual Presidente da República através da compra e venda de acções da SLN. Independentemente do juízo que se faça do negócio a verdade é que o mesmo já era do conhecimento público desde, pelo menos, Maio de 2009 através de um artigo publicado no Expresso onde se discutia quer a questão do preço de venda quer do preço de aquisição referindo-se nomeadamente que "Os €2,4 não andavam, ao que o apurou, muito longe dos valores praticados noutras transacções de acções da SLN naquela altura. O BPN não estava cotado na Bolsa, pelo que a determinação do preço das acções não era feita pelas regras de mercado. Não havia, por isso, um preço de referência para as acções definido oficialmente" e que "A participação de Cavaco na SLN não terá sido muito diferente da de muitas pessoas que foram atraídas para o projecto de Oliveira Costa pelas perspectivas de valorização do grupo. O banqueiro utilizava os seus conhecimentos para trazer para o grupo accionistas de relevo, quer da área política quer da empresarial. Por isso não é de estranhar que também Cavaco tenha acedido a participar no projecto SLN/BPN, tendo em conta que Oliveira Costa foi secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de um dos seus governos". E, sinceramente, até agora não tive conhecimento de nenhum facto que desmentisse estas informações.
Para confirmar este desolador contexto, nem sequer as polémicas em torno do candidatos têm conseguido ultrapassar o grau de mediocridade que tem caracterizado esta campanha.
Não me choca, antes pelo contrário, que se discuta a actuação dos políticos nos seus negócios privados, e compreendo que, à falta de melhor, os outros candidatos e, em particular Manuel Alegre, tenham dificuldade em resistir a aproveitar todos os meios ao seu alcance para reduzir a esmagadora diferença nas intenções de voto que os separam do actual detentor do cargo.
Mas, não deixa de ser sintomático do estado da nossa política que se discuta como se fossem revelações bombásticas as mais-valias obtidas pelo actual Presidente da República através da compra e venda de acções da SLN. Independentemente do juízo que se faça do negócio a verdade é que o mesmo já era do conhecimento público desde, pelo menos, Maio de 2009 através de um artigo publicado no Expresso onde se discutia quer a questão do preço de venda quer do preço de aquisição referindo-se nomeadamente que "Os €2,4 não andavam, ao que o apurou, muito longe dos valores praticados noutras transacções de acções da SLN naquela altura. O BPN não estava cotado na Bolsa, pelo que a determinação do preço das acções não era feita pelas regras de mercado. Não havia, por isso, um preço de referência para as acções definido oficialmente" e que "A participação de Cavaco na SLN não terá sido muito diferente da de muitas pessoas que foram atraídas para o projecto de Oliveira Costa pelas perspectivas de valorização do grupo. O banqueiro utilizava os seus conhecimentos para trazer para o grupo accionistas de relevo, quer da área política quer da empresarial. Por isso não é de estranhar que também Cavaco tenha acedido a participar no projecto SLN/BPN, tendo em conta que Oliveira Costa foi secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de um dos seus governos". E, sinceramente, até agora não tive conhecimento de nenhum facto que desmentisse estas informações.
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