domingo, 9 de janeiro de 2011

Campanha presidencial

Tenho acompanhado com particular desinteresse a (pré-)campanha para as próximas eleições presidenciais, não tendo sequer assistido a nenhum dos debates ou entrevistas. Em grande parte porque, embora sem grande entusiasmo, há já bastante tempo decidi que o meu voto iria para o actual Presidente, mas também porque pelos ecos publicados me parece uma campanha insípida cheia de lugares comuns, com as tradicionais visitas aos mercados, os contactos de "rua" com o "povo" e, sobretudo, uma confrangedora ausência de qualquer verdadeiro "debate" político. Em suma, uma campanha que parece estar a ser conduzida com o desígnio de confirmar o diagnóstico de Ferreira Leite de que "a classe política tornou-se num mundo à parte, em que os cidadãos não se revêem e em que, na maior parte das vezes, os políticos falam em circuito fechado".

Para confirmar este desolador contexto, nem sequer as polémicas em torno do candidatos têm conseguido ultrapassar o grau de mediocridade que tem caracterizado esta campanha.

Não me choca, antes pelo contrário, que se discuta a actuação dos políticos nos seus negócios privados, e compreendo que, à falta de melhor, os outros candidatos e, em particular Manuel Alegre, tenham dificuldade em resistir a aproveitar todos os meios ao seu alcance para reduzir a esmagadora diferença nas intenções de voto que os separam do actual detentor do cargo.

Mas, não deixa de ser sintomático do estado da nossa política que se discuta como se fossem revelações bombásticas as mais-valias obtidas pelo actual Presidente da República através da compra e venda de acções da SLN. Independentemente do juízo que se faça do negócio a verdade é que o mesmo já era do conhecimento público desde, pelo menos, Maio de 2009 através de um artigo publicado no Expresso onde se discutia quer a questão do preço de venda quer do preço de aquisição referindo-se nomeadamente que "Os €2,4 não andavam, ao que o  apurou, muito longe dos valores praticados noutras transacções de acções da SLN naquela altura. O BPN não estava cotado na Bolsa, pelo que a determinação do preço das acções não era feita pelas regras de mercado. Não havia, por isso, um preço de referência para as acções definido oficialmente" e que "A participação de Cavaco na SLN não terá sido muito diferente da de muitas pessoas que foram atraídas para o projecto de Oliveira Costa pelas perspectivas de valorização do grupo. O banqueiro utilizava os seus conhecimentos para trazer para o grupo accionistas de relevo, quer da área política quer da empresarial. Por isso não é de estranhar que também Cavaco tenha acedido a participar no projecto SLN/BPN, tendo em conta que Oliveira Costa foi secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de um dos seus governos". E, sinceramente, até agora não tive conhecimento de nenhum facto que desmentisse estas informações.

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