terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Aprender a rezar na Era da Técnica


Já tinha ouvido e lido referências elogiosas e tinha alguma curiosidade, mas só muito recentemente encontrei tempo e espaço para ler a obra de Gonçalo M. Tavares. Decidi começar pela tetralogia o Reino publicada entre 2003 e 2007 que fui lendo ao longo das últimas semanas por ordem cronológica.

Devo confessar que embora aprecie a escrita seco e incisivo que caracteriza todos os romances esta série, os dois primeiros romances: "Um Homem: Klaus Klump" e a "Máquina e Joseph Walser" me deixaram um certo sabor a pouco. Apesar de formalmente interessantes pareceu-me faltar-lhes algum fôlego talvez por as personagens serem excessivamente estereótipadas.

O mesmo já não sucedeu com "Jerusalém" onde o autor nos consegue fazer mergulhar na mente humana levando-nos numa viagem fascinante (embora profundamente pessimista) sobre a loucura - tema principal do livro, a maldade e a perversidade, num percurso onde é dificil identificar o Bem e o Mal e destrinçar entre o Destino e a Coincidência.

Mas, pessoalmente, o meu preferido é "Aprender a rezar na Era da Técnica", romance que fecha a tetralogia que é a história de um homem Lenz Buchmann, profundamente marcado pelo pai, desmesuradamente ambicioso, sem escrúpulos, com virtudes públicas e vícios privados que somos levados a acompanhar na viagem da sua vida desde a adolescência até ao desfecho inevitável da vida. Sofrendo com a personagem à medida em que somos tocados pelas suas fraquezas (mesmo quando escondidas por detrás de uma força aparente) que caracteriza e no fundo corresponde à humanidade (com "h" minúsculo) unida pela partilha da consciência da sua própria mortalidade.

1 comentário:

  1. Confesso que gostei bastante do livro. Infelizmente existe muita gente na política bastante parecida com este Lenz Buchumann, talvez isso explique porque chegamos a situação actual. Diria mais, quase toda a sociedade é tão hipócrita como esta personagem, com uma diferença, ao contrário de Lenz nunca viram o mundo do um ponto de vista mais alto.

    ResponderEliminar