Discordando daquilo que parece ser a percepção generalizada sobre a campanha eleitoral em curso, não julgo que esta campanha tenha sido pior ou mais desinteressante do que outras anteriores.
Na verdade esta campanha tem tido um pouco de tudo: casos polémicos, dramatização de posições e até alguma incerteza quanto ao resultado da primeira volta. Mas parece-me, sobretudo, analisar o comportamento daqueles que têm sido os principais actores políticos desta campanha.
Sendo o candidato da oposição da direita, o principal dilema de Cavaco Silva tem sido o de obter o equilíbrio entre, por um lado, combater a eventual abstenção do eleitorado de direita (especialmente após algum desgaste em consequência do não veto da lei que veio permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo) e, por outro lado, fazê-lo sem perder a sua vantagem no centro do eleitorado essencial para obter uma maioria clara. Daí que ao longo da campanha tenha procurado passar a mensagem de que iria ter uma postura mais interventiva no seu segundo mandato, sem ao mesmo tempo deixar de afirmar a importância da estabilidade.
Por sua vez, confrontado com as dificuldades naturais de um candidato que é simultaneamente o candidato do prinicpal partido de oposição de esquerda e do partido do Governo, Manuel Alegre demorou demasiado tempo a encontrar um tom de campanha que se adequasse a esta situação. Talvez por isso a sua campanha ficou marcada, em excesso, pelas reacções a Cavaco Silva do que na afirmação da própria candidatura. Nos últimos dias, tem vindo a apostar na dramatização da campanha, soibretudo através da diabolização de uma direita que Cavaco Silva putativamente representa, tentando assim mobilizar o eleitorado de esquerda e de centro-esquerda. O que até pode de algum modo convir a Cavaco Silva na medida em que contribua para dramatizar a campanha e, por essa via, contribuir para uma maior mobilização do eleitorado. Curiosamente esta estratégia parece assenta na ideia de que PSD-PP irão(naturalmente?) vencer as próximas eleições tornando decisiva a eleição de um Presidente de esquerda que bloqueie e impeça os “excessos” do Governo de direita. Trata-se no fundo de tentar repetir a estratégia que o PS aplicou com resultados positivos nas últimas eleições legislativas e que muito provavelmente irá constituir a sua base para a futura campanha do PS no contexto de eventuais futuras eleições legislativas.
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