A crónica de Pedro Santos Guerreiro no Jornal de Negócios chama a atenção para a circunstância do processo «Face Oculta» ter exposto diversas situações de comportamentos menos correctos, e até fraudes, nos escalões mais elevados da hierarquia de diversas empresas nas quais o Estado tem presença. E tem obviamente toda a razão quando diz que a situação de Rui Pedro Soares na PT é absolutamente insustentável e que se este não sair, "ou pelo seu pé ou ao pontapé" será a própria credibilidade de toda a administração e por arrastamento da própria empresa que estará em jogo.
Mas, talvez mais importante do que isso, está o facto deste processo corroborar as suspeitas de relações de promiscuidade entre o poder político e várias das grandes empresas deste país que ultrapassa aquilo que seria normal e aceitável. E pior que, como se refere na crónica a propósito da PT, os accionistas aparentemente "vivem bem com isso ou até muito bem à custa disso".
PS: Sobre o mesmo assunto recomendo a leitura deste post no Arrastão. Não concordo com a tese de que o problema esteja na "prevalência do capitalismo financeiro", mas subscrevo (quase) inteiramente na parte em que refere:
"Se os que governam determinam as políticas que favorecem ou prejudicam os negócios (não há políticas neutras) e se a informação decide quem serão os que governam, seria estranho que os que governam e os que são donos do negócio da informação não tratassem do assunto por ajuste directo. E não transpusessem para os combates políticos os combates dos negócios e para os negócios os combates políticos. Afinal de contas, para quem joga com estas regras do jogo, são exactamente o mesmo combate. Este tipo de políticos e estes homens de negócios querem apenas estar com quem os pode fazer ganhar. E, se for necessário e tiverem essa possibilidade, destruir quem os pode destruir. O controlo da informação mediada, que retirámos, ao enfraquecer a sua autonomia, das mãos dos jornalistas, é hoje só mais um negócio: o negócio do poder."
Com a ressalva de que não considero que este tipo de comportamento possa ser considerado como aceitável ou sequer natural e, por isso, espero que a sociedade e a classe política seja ainda capaz de transmitir uma mensagem clara que de estes "negócios" não são aceitáveis. Se tal não vier a suceder rapidamente será um sinal de que se atingiu um grau de degradação da vida pública tal que já perdemos, enquanto sociedade, a capacidade de reagir.
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