sexta-feira, 3 de junho de 2011

Notas de campanha (IV) - Um balanço

PSD – Uma campanha em crescendo. Numa fase inicial teve algumas dificuldades em contra bater as responsabilidades do chumbo do designado PEC IV no pedido de assistência financeira externa e foi prejudicado por alguma cacafonia e instabilidade relativamente a algumas propostas, de algum modo natural atendendo à elaboração do programa eleitoral que a “máquina” do PS soube explorar, procurando colar ao PSD uma imagem de radicalismo e impreparação. O que se traduziu num estreitar da vantagem nas sondagens sobre o PS que a dado momento deu ideia de estar a afectar o moral. O ponto de viragem da tendência terá sido o debate entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho em que, contrariando muitas expectativas, o líder do PSD teve um bom comportamento, contribuindo para recuperar os níveis de confiança. A partir dai, o PSD fez uma campanha muito centrada no líder, que se revelou à altura do momento e revelou uma maior capacidade para calibrar o seu discurso, mantendo um equilíbrio entre, por um lado, as críticas à actuação do governo do PS e, por outro lado, a apresentação das suas propostas para o país, conseguindo, embora sem empolgar, criar uma dinâmica de vitória que contribuiu para uma maior coesão do partido em torno do presidente do partido.

PS – Uma campanha que foi o reverso da do PSD. Começou bem, baseada numa estratégia simples que consistia em, aproveitando o chumbo do PEC IV responsabilizar a oposição pelo recurso à ajuda externa e, desviar o debate da actuação do governo, fixando a discussão nos “perigos” do programa do seu principal adversário procurando assim conquistar o voto do centro e esperando que isso contribuísse para atrair o voto útil da esquerda. Era uma estratégia prometedora e que durante a primeira fase da campanha foi surtindo efeito, mas cujas fragilidades foram bem reveladas quer no debate entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho (que desfez o "mito da invencibilidade” do líder) quer, sobretudo, nos dias que se seguiram a este debate, em que a “indignação” do PS relativamente às propostas do PSD foi progressivamente cada vez mais forçada e sendo cada vez mais flagrante a falta de capacidade (ou vontade) para apresentar propostas convincentes e a aposta consciente num certo conservadorismo. O que conjugado com a descolgame do PSD nas sondagens contribuiu para uma crescente sensação de falta de convicção e de confiança. No entanto, atendendo às circunstâncias em que o acto eleitoral decorre, a concretizar-se um resultado acima dos 30% não deixará, contudo, de ser uma votação bastante razoável.

CDS-PP – Numas eleições que se esperariam bastante bipolarizadas, principalmente junto do eleitorado à direita para quem a prioridade era claramente a derrota do PS eo afastamento do actual primeiro-ministro, o principal adversário do CDS-PP era o voto útil que o partido de Paulo Portas combateu de forma eficaz evitando a armadilha que lhe foi sendo estendida pelo PSD de surgir como um potencial “salvador” de José Sócrates e apresentando um programa eleitoral com uma clara aposta em algumas bandeiras (v.g., a “lavoura”, os pensionistas e a recusa de aumentos de impostos), beneficiando ainda das dúvidas relativamente a Pedro Passos Coelho para procurar atrair o eleitorado de centro-direita. A acreditar nas sondagens a afirmação do presidente do PSD terá contido e até invertido a "fuga" de votos para o CDS-PP que, ainda assim, tudo aponta que irá obter um excelente resultado eleitoral.

Bloco de Esquerda – A confirmarem-se as indicações das sondagens, o Bloco será, logo a seguir ao PS, o grande derrotado destas eleições, pagando o preço de uma estratégia em que apostou na antecipação das consequências económico-sociais do programa de austeridade e numa demarcação das políticas do PS, nomeadamente através primeiro da apresentação da moção de censura contra o governo e depois do voto contra o PEC IV e a recusa de reunir com a troika. Esta estratégia custou-lhe a alienação de uma parte substancial do seu eleitorado de 2009 que preferiria um BE potencialmente aliado do PS numa "alternativa de esquerda" sem que, aparentemente, e contrariamente ao que seriam as expectativas da sua liderança, conseguisse compensar a perda desse eleitorado através da captação do voto dos descontentes, nomeadamente junto da juventude.

CDU – Uma campanha sem novidades, apostando num discurso duro contra o PS, o PSD e o CDS-PP e na recusa das medidas de austeridade da troika. Um partido que mantêm a sua coerência ideológica, mas que, apesar de ainda manter uma capacidade de organização e de militância assinaláveis, não conseguiu evitar a imagem de um partido em lenta decadência e preso a uma ideologia datada.

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