sábado, 11 de junho de 2011

Wolf Hall - Hilary Mantel


Um excelente romance histórico sobre a vida de Thomas Cromwell,  aquele que foi o principal primeiro-ministro de Henrique VIII, tendo sido o  "arquitecto" da ruptura entre a coroa inglesa e o papado e da liquidação dos mosteiros, figura de origens algo obscuras e odiada na sua época e que no romance surge algo inesperada e inverosimelmente como um herói.

O romance retrata em poucas páginas a fase inicial da sua vida - sobre a qual há poucas informações - mas que a autora descreve como a de um miserável filho de um ferreiro extremamente violento que o agredia e aterrorizava que fugiu de Inglaterra aos 15 anos e que terá sido soldado mercenário, comerciante e aprendido os segredos da banca e do direito centrando-se no período após o seu regresso a Inglaterra - já depois dos 40 anos - como empregado do cardeal Wolsey - que serviu até à sua queda em desgraça e morte -, terminando o livro com a morte de Thomas More  - arqui-inimigo de Wolsey e Cromwell retratado por Mantel como um homem culto mas teatral, frio e preocupado sobretudo com a sua reputação e implacável na defesa da ortodoxia "He would, for a difference in your Greek, kill you" que se manteve fiel ao papado recusando reconhecer Henrique VIII como chefe da Igreja acabando decapitado. Mostrando-nos um Thomas Cromwell como um cortesão hábil e um político e administrador competente que, apesar de (surpreendentemente) humano e piedoso, não hesitava em usar todos os meios e recursos em favor do seu Princípe.

Um homem que surge num quadro de Hans Hoblein com  um ollar que a autora refere como o de um assassino e como uma figura com uma extraordinária diversidade de competências "at home in courtroom or waterfront, bishop's palace or inn yard. He can draft a contract, train a falcon, draw a map, stop a street fight, furnish a house and fix a jury" fluente em diversas línguas, culto e com uma presença física intimidatória.

Mas o romance vale sobretudo pela visão que nos dá de uma época crucial da Inglatrerra e da Europa, marcada pelas disputas religiosas entre católicos e protestantes e o pulsar da corte de Henrique VIII ainda assombrada pelas memórias da Guerra Civil (a chamada Guerra das Rosas) que deu origem à dinastia dos Tudor e pela obsessão do rei em conseguir um herdeiro que garantisse a continuidade da dinastia, cujo reinado ficou marcado pelo seu divórcio da rainha Catarina de Aragão e o seu casamento com Ana de Bolena personagem por quem a autora não consegue esconder a sua admiração apresentando-a como uma mulher formidável mas impulsiva.

Uma época em que a vida era precária e a morte e as epidemias que vitimaram a mulher e filhas de Thomas Cromwell numa das passagens mais emociontes do livro em que no seu luto se apoia na - proibida - biblia em inglês do Tyndale  "now abideth faith, hope and love, even these three; but the greatest of these is love". E em que a queda estava sempre próxima e a execução foi o destino das principais personagens do livro incluindo o herói que veio a ser executado em 1540  sob a acusação de traição, heresia e corrupção, sobrevivendo apenas 8 anos a Thomas More e 4 anos a Ana de Bolena, para cuja queda Cromwell terá contribuído.

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