quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Líbia de Kadhafi e as declarações de Luis Amado


Há 42 anos no poder, durante os quais enfrentou e sobreviveu a várias crises, o presidente líbio parece ter perdido o controlo sobre uma parte importante do país, tendo contra si não apenas a maior parte do povo líbio mas também várias figuras significativas do seu regime, entre as quais o seu Ministro do Interior que se terá demitido e apelado às forças de segurança que se juntassem ao povo e os representantes líbios na Liga Árabe e na ONU, bem como vários embaixadores (EUA, França e outros países).

A informação fragmentada que vai surgindo da Líbia revela um cenário dramático, com centenas de mortos, e quase surrreal de um país à beira de uma guerra civil com um presidente desligado da realidade e condenado pela comunidade internacional mas que parece disposto a sufocar a revolta das ruas num banho de sangue. Risco que não deve ser menosprezado até porque as forças armadas líbias não tem o grau de coesão, profissionalismo e disciplina que as egípicias revelaram e a Líbia será muito menos permeável às influências moderadoras do exterior, nomeadamente dos EUA e dos países europeus.

Neste cenário, julgo que seria de esperar do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal muito mais do que a mera negação de apoio ao regime. Seria de exigir, pelo menos, uma declaração clara de condenação do uso da força contra civis e um apelo a reformas demcráticas. Vir agora desculpar-se dizendo que o Governo “não fez nem mais nem menos que o que todos os Estados europeus, americanos e todos os que tentam internacionalizar as suas empresas fizeram” é, infelizmente, um retrato certeiro mas lamentável do que tem sido a política externa portuguesa nos últimos anos.

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