sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
A reacção do Governo português à situação na Líbia
Numa altura em que a única alternativa à queda do regime do coronel Kadhafi parece ser uma guerra civil e se receia que a Líbia caia num período de caos, vale a pena reflectir um pouco sobre aquelas que têm sido as reacções dos nossos ministros nos últimos dias sobre a sítuação na Líbia.
"É um regime anacrónico, muito específico nas suas dimensões internas e que deve por isso mesmo ser objeto de uma adaptação inadiável", respondeu o ministro [dos negócios estrangeiros] português a uma pergunta sobre se Muammar Kadhafi deve abandonar o poder.
Entretanto, noutra notícia dá-se conta:
O ministro das Obras Públicas, António Mendonça, fez hoje votos para uma "evolução positiva e rápida" da crise revolucionária vivida na Líbia e, segundo citação da agência Lusa, manifestou a sua preocupação com o processo em curso no conjunto do Norte de África.
e que o ministro da Economia, Vieira da Silva, considerou prematuro repensar as relações económicas com a Líbia: "Neste momento a situação que nós vivemos é uma situação de incerteza, vamos esperar que a situação acalme, nós sabemos que é sempre imprevisível e veremos depois qual será o desenvolvimento da situação".
Convirá recordar que o regime que os nossos ministros gostariam que se adaptasse e evoluisse de forma positiva e que ainda em 2009 contou com a presença do ministro Luis Amado nas comemorações dos 40 anos da chegada ao poder de Kadhafi num programa de visita que inclui a projecção de um "filme sobre a História Líbia desde há 5 mil anos até à chegada da Revolução e seus benefícios durante os últimos 40 anos" (meu sublinhado) é o mesmo que o mesmo que além de reprimir o seu próprio povo esteve implicado em vários actos terroristas como, para apenas citar alguns, os cometidos pelo grupo Setembro Negro de que era um dos principais financiadores, o ataque bombista a uma discoteca em Berlim ou o atentado de Lockerbie e que, ainda em 2009, defendeu os piratas somalis.
Tratava-se pois de um regime cuja crueldade e imprevisibilidade eram mais do que manifestas e, embora não se soubesse quando, teria um dia que acabar mal... E isto não foi realpolitik, mas cegueira pura face aos evidentes riscos de uma associação ao regime líbio. E nem sequer é correcto argumentar que a Espanha, a França e, em especial, a Itália adoptaram políticas semelhantes face ao regime líbio. Pois no caso destes países, e em particular a Itália, havia um claro quid pro quo com aquele país relacionado com a segurança da sua fronteira marítima e a contenção dos fluxos migratórios oriundos de África que no caso de Portugal são obviamente muito menos importantes.
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