quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Revolução no Egipto (II)


Concordo com este artigo de Henrique Raposo quando diz que a geração que hoje exige no Cairo a queda imediata do regime de Mubarak é diferente da geração nacionalista e da geração islamista. E pessoalmente muito gostaria (e desejo sinceramente) que o resultado final seja o triunfo da democracia. Com toda a humildade que a história nos obriga a ter, temo, porém, que as coisas não sejam assim tão simples.  Como os acontecimentos de hoje recordam, não existem ainda garantias de que seja possível uma transição pacífica, até porque continua a não existir uma liderança clara que permita negociar uma saída honrosa para o actual presidente.

Mais importante, uma vez obtida a queda do regime é provável que surjam divisões entre as diversas correntes que estão agora unidas contra Mubarak, não sendo claro que seja possível formar algum tipo de governo de unidade nacional que conduza o país até às próximas eleições.

Além disso, os jovens que se manifestam nas ruas do Cairo por uma mudança, não querem apenas a queda do regime e eleições livres. Querem acabar com a corrupção, querem emprego e melhores condições de vida. A probabilidade de que venham a sentirem-se desiludidos com os resultados que vierem a ser alcançados pelo futuro regime é elevada, o que pode conduzir a fenómenos de radicalização.

Finalmente, importa não esquecer que o Egipto não são apenas os 1-2 milhões que saíram à rua para derrubar Mubarak. O Egipto é um país com mais de 80 milhões de habitantes, taxas de crescimento demográfico e de analfabetismo elevadas e em que quase 30% da mão-obra, ainda, trabalha no sector agrícola.

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