quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A moção de censura do BE


O anúncio por Francisco Louçã de que o BE irá apresentar uma moção de censura ao Governo no dia 9 de Março foi deveras surpreendente. Apenas posso tentar supor o que estará por detrás desta iniciativa. Vejo duas hipóteses: i) o BE pensa que o PSD se irá abster e procura com isto associar PS e PSD e conquistar espaço à esquerda afirmando-se nomeadamente perante o PCP como a "verdadeira alternativa de esquerda", ou ii) julga que o PSD irá aproveitar para fazer cair o Governo e a iniciativa servirá sobretudo para acelerar o tempo político, fazendo com que PSD-PP cheguem mais cedo ao poder e sofram o consequente desagaste que permitiria, uma vez substituído Sócrates, criar a prazo condições para uma frente de esquerda (PS-BE) numas próximas eleições legislativas.

A circunstância invulgar de se tratar de um pré-anúncio com um mês de antecedência parece apontar fortemente para a primeira hipótese. Pois, como o PS fez questão de notar a última coisa que o país precisava actualmente era de um mês de indefinição política até à apresentação da moção de censura a que se seguiriam alguns meses em governo de gestão, com as limitações daí decorrentes, que o PS não deixaria certamente de aproveitar para se desculpabilizar relativamente à deterioração da situação económica, financeira e social atribuindo-a à crise internacional e à crise política.

Estrategicamente, o PS sai claramente a ganhar com esta iniciativa. Ou a moção de censura é reprovada e o Governo ganha um balão de oxigénio que, salvo imponderável, lhe permitirá governar com relativa tranquilidade política até à apresentação e discussão do OE para 2012. Ou é aprovada e ganha um mês extra e argumentos reforçados para se eximir de responsabilidades pela deterioração da situação económica e financeira.

E claramente a "batata quente" está nas mãos do PSD que correctamente evitou tomar posições de forma precipitada. Se por um lado, a tentação para derrubar o Governo deve ser certamente grande, por outro lado, julgo que a actual liderança do PSD tem plena consciência (se não o tivesse os acontecimentos de hoje nos mercados de dívida seriam suficientes para os alertar) que se trata de um presente envenenado.

Na minha opinião, a resposta mais racional do PSD seria abster-se invocando três argumentos: i) a inexistência de dados que permitam fazer uma avaliação da execução orçamental, ii) os riscos que a queda do Governo para a situação económica e financeira, e iii) a sua discordância face aos fundamentos da moção de censura. E anunciar essa sua posição o mais rapidamente possível.

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