segunda-feira, 21 de março de 2011

As Estações - Joseph Haydn - Centro Cultural de Belém



Uma obra perfeita para o fim de tarde de ontem em que se sentiu "o sopro agradável" da Primavera, com uma orquestração que se liga maravilhosamente com as vozes dos solistas e do coro, repleta de pequenos deliciosos detalhes.

E um libreto recheado de episódios deliciosos, numa orátória onde o sagrado e o profano (presente nas peças que nos falam da alegria e sobretudo no sublime dueto de Lucas e Hanne que termina com "Amar e ser amado / é o mais alto cume da alegria / a delícia e a felicidade de viver") não só convivem como se complementam. Onde a passagem das estações é um pretexto para uma sucessão de quadros melódicos - entre os quais sobressaem as cenas da tempestade de Verão e da caça no Outono e as duas canções que Haydn integrou no Outono - que nos contam a vida quotidiana e nos falam da relação do Homem com a natureza, com o tempo e com Deus.

Uma obra onde é evidente a marca da "ética protestante" na forma como glorifica o trabalho e o esforço: 

"De ti, esforço vem toda a salvação.
A casa que nos abriga,
a lã que nos cobre,
a comida que nos sustenta,
tudo é dávida tua.

Ó esforço, nobre esforço
De ti vem toda a salvação.
Infundes a virtude
e suavizas os hábitos rudes.
Defendes dos vícios
e purificas o coração humano.
Fortaleces a coragem e a inteligência
para o bem e para o dever."

Que surgem como via para a virtude e a salvação, única esperança do homem para alcançar a "eterna Primavera", vencendo a terrível tirania da passagem do tempo:

"Repara já, homem enganado,
repara na imagem da tua vida.
Passou a tua curta Primavera.
Esgotou-se a força do teu Verão.
Com a idade murchou o teu Outono.
Aproxima-se já o pálido Inverno,
indicando-te o sepulcro aberto.
Onde estão agora os grandes projectos;
as esperanças de felicidade,
a procura de um grande nome,
o peso das preocupações?
(...)"

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