quarta-feira, 16 de março de 2011

Ou eu ou o FMI !


Como seria de esperar a entrevista à SIC Notícias não trouxe grandes novidades, tendo o primeiro-ministro José Sócrates utilizado esta oportunidade para reafirmar a sua narrativa dos acontecimentos dos últimos dias, procurando desfazer o que considerou ser um conjunto de "equívocos" sobre o anúncio de novas medidas de austeridade que  apresentou a como um "mero" conjunto de linhas orientadoras e de propostas que está disposto a discutir com a oposição (i.e., o PSD), procurando alijar quaisquer responsabilidades relativamente a uma eventual crise política que considerou que seria desastrosa para o país. José Sócrates repetiu a sua "narrativa" da génese da crise e a justificação das medidas, que apresentou como se fossem uma espécie de ritual propiciatório necessário para recuperar os favores dos Deuses ou, no caso, a confiança do BCE, da Comissão Europeia, dos nossos parceiros europeus e dos mercados. Sendo chocante a incapacidade para explicar porquê estas medidas ou o que espera obter a médio-longo prazo através deste conjunto de medidas, dando nota da total ausência de sentido estratégico das sucessivas medidas que vão sendo anunciadas.

Do ponto de vista político, o primeiro-ministro deixou uma mensagem clara de que um chumbo do programa de estabilidade e crescimento levará à demissão do Governo e a novas eleições nas quais José Sócrates tenciona se apresentar de novo como líder do PS e candidato a primeiro-ministro. Colocando sobre os ombros do PSD a responsabilidade de decidir se pretende precipitar já eleições e ser responsabilizado pelo (quase) certo recurso ao auxílio financeiro externo ou se, pelo contrário, opta por o deixar passar adiando a crise política.

Da entrevista resultou, igualmente, evidente que o Governo joga tudo na sua capacidade para evitar o pedido de auxílio financeiro externo cujas consequências Sócrates dramatizou. A forma quase "Ou eu ou o FMI" como colocou a questão confirma que o Governo apenas acederá a aceitar o auxílio financeiro externo numa situação absolutamente in extremis... e, por outro lado, que, mesmo tendo em conta a sua notável resiliência, lhe será virtualmente impossível sobreviver politicamente num tal cenário.

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