sábado, 12 de março de 2011

Os dias do fim ?


Apesar de não aprovar a forma como o primeiro-ministro tem "conduzido" Portugal, em particular desde 2008, - a quem critico o excessivo voluntarismo e, sobretudo, a forma despudorada e arrogante como "lida" com os factos e as estatísticas - não consigo deixar de admirar a sua aparentemente inextinguível capacidade para resistir mesmo nos momentos mais dificeis. Pressionado pelos mercados, pelos outros líderes europeus, pela Comissão Europeia e pelo BCE, o Governo português parece ser o único a acreditar que será possível Portugal continuar (durante quanto tempo ?) a evitar o recurso ao FEEF... e regressar ao "ringue" mesmo quando já está encostado às cordas e quase knockout.

Num calendário extremamente adverso com uma votação de uma moção de censura no Parlamento na quinta-feira antes da qual não poderia apresentar novas medidas de austeridade e um Conselho Europeu no dia seguinte no qual tinha de comparecer com um pacote de medidas que "convencesse" os parceiros, o Governo conseguiu gerir do único modo possível (com a óbvia cumplicidade do BCE e da Comissão Europeia que mantiveram em segredo os resultados das suas estimativas sobre o défice até ontem).

Dito isto, o Governo tem claramente um grave problema de credibilidade já de si extremamente fragilizada depois do que aconteceu em 2010. Pois, não é aceitável que apenas 9 dias depois de o primeiro-ministro ter dito que "Portugal está em condições de apresentar este ano um défice abaixo dos 4,6% prometidos, tendo em conta os «resultados muito positivos» de execução orçamental do início deste ano" e que "Em Janeiro e Fevereiro a execução orçamental teve um resultado muito positivo que nos deixa muito confortáveis no objectivo de ter até ao final de 2011 um défice abaixo da media europeia", que é de 4,6%", sejam anunciadas medidas adicionais no montante de 0,8% do PIB (ou seja quase 1,4 mil milhões de euros) para cumprir essa mesma meta, apresentando aquele que é o quarto conjunto de medidas em menos de um ano sendo que todos os anteriores foram anunciados como suficientes para cumprir os objectivos fixados. E isto num contexto em que a conjuntura internacional tem sido relativamente benévola permitindo nomeadamente uma forte recuperação das exportações e o BCE tem dado um importantissimo apoio à economia portuguesa - que não tenho visto ser publicamente reconhecido pelo Governo - ao assegurar a liquidez do sistema bancário português e evitando um agravamento ainda maior das taxas de juro da dívida pública através da aquisição dessa dívida no mercado secundário.

E se é verdade que o facto de as medidas agora anunciadas para 2011 não carecerem de aprovação pelo Parlamento a partir de ontem o PS ficou ainda mais isolado politicamente, na medida em que a liderança do PSD se tinha comprometido com as medidas anteriores, mas não tem obviamente as minimas condições nem vontade para se comprometer com mais um pacote de medidas de austeridade por um Governo de um país condenado a uma profunda crise económica e social e que está na iminência de ter de atirar a toalha ao tapete e solicitar o auxílio financeiro internacional (que desde Novembro do ano passado me parece - cada vez mais - inevitável).... resta saber se o primeiro-ministro ainda terá algum coelho para tirar da cartola.

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