segunda-feira, 21 de março de 2011

Cuidado com os idos de Março



A escassa margem de manobra que ainda aparecia existir dissipou-se na troca de acusacções e contra-acusações entre os direigentes dos dois maiores partidos portugueses e com o anúncio de que o CDS irá mesmo exigir a votação do PEC no Parlamento. Sinceramente não vislumbro como, a não ser com algum truque regimental como o recurso à ausência do hemiclo de alguns deputados da oposição, ainda será possível evitar o chumbo do PEC e a consequente antecipação das eleições no Parlamento.

Luís Amado pôs o dedo na ferida quando referiu que "Estamos há demasiado tempo a jogar aos dados com o destino da economia portuguesa e dos portugueses". Não sei em quem estaria a pensar quando proferiu estas palavras mas elas adequam-se plenamente à atitude do Governo e do primeiro-ministro ao longo dos últimos meses de recusa obstinada em reconhecer a gravidade e as razões da situação económica e financeira que atravessamos e, em particular, à forma como conduziram e apresentaram o já famigerado PEC IV, que já deveriam saber que a liderança do PSD não estaria em condições de apoiar, e depois forçaram a discussão desse mesmo plano, criando o cenário para o respectivo chumbo e consequente antecipação das eleições. E continuam, ainda, a apresentar a ajuda externa como um cenário evitável atribuindo o eventual recurso ao FMI / FEEF à crise política.

Ora, importa dizer que não só Portugal já está, desde há vários meses, dependente dessa ajuda externa, que tem vindo a ser concretizada pelo BCE através aos nossos bancos e de intervenções fulcrais no mercado secundário da dívida pública portuguesa, como o recurso a esse auxílio parece inevitável, com ou sem crise política. E que o principal risco da crise política é que venha a complicar (ou no limite impossibilitar) a negociação dos termos em que esse auxílio se deverá processar, ao dificultar a criação de um quadro político favorável à criação de um consenso alargado que aprove e legitime as medidas a adoptar no quadro desse auxílio.

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