terça-feira, 8 de março de 2011

Inside the Kingdom - Robert Lacey


Numa altura em que os acontecimentos no mundo árabe ocupam as atenções internacionais, este livro é uma boa maneira de ficar a conhecer mais acerca do país onde estão mais de um quinto das reservas conhecidas de petróleo e que é um dos principais aliados dos EUA.

Muito bem escrito o livro e assente numa pesquisa cuidada, o livro descreve os principais acontecimentos políticos no Reino Saudita no período entre 1979 e 2009, tendo como personagens principais os elementos da classe dirigente e a sua relação com os cléricos, o livro relata a ascensão do fundamentalismo como uma reacção de rejeição da modernidade por uma sociedade extremamente conservadora que encontra numa observância rígida dos dogmas religiosos uma forma de proteger os seus valores tradicionais dos efeitos das "inovações". E que foi alimentado pelo papel que a Arábia Saudita, aliada aos EUA e Paquistão, desempenhou no conflito sovieto-afegão onde de forma aberta apoiou os mujahadeen na sua jihad contra os infiéis comunistas e que serviu de inspiração e de campo de treino a uma geração de sauditas cujo elemento mais ilustre é Bin Laden (de quem Lacey diz que era um amante de futebol e um excelente avançado centro) e que vão desempenhar um papel fundamental no terrorismo saudita, na Al-Qaeda e, nomeadamente, nos atentados do 11 de Setembro. Sobre o que um estudante saudita refere no livro que: "(...) my explanation of 9/11 is down to defective human mechanisms - wackos. And every human society has wackos. But we have to accept that most of themn were Saudi wackos. Fifteen out of nineteen. We cannot shift the blame. If you subject a society to all those pressures - the rigid religion, the tribe, the law, the traditions, the family, the police and, above all, the oppressive political system in which you can't express yourself - you are going to end up with wackos. And if you then present them with the doctrine of takfeer, the idea that all their problems come from outside themselves, and that you should try to destroy people who do not share your own particular view of God, then you're going to end up with some folks who are very dangeous indeed."

O livro descreve ainda os altos e baixos das relações entre o Reino e os EUA neste período e a forma como foram afectadas pelo conflito israelo-palestiniano relativamente ao qual os sauditas consideram que os EUA tem uma posição demasiado favorável às posições do Estado de Israel, o que gerou fortes tensões entre a casa real saudita e a administração Bush e conduziu a uma aproximação do Reino à Rússia e China.
 
E guia-nos através de um regime autocrático, ainda que numa versão relativamente benevolente, onde não
há liberdade de expressão e de manifestação ("that's not the Saudi way"), onde os opositores podem ser detidos sem acusação e ser torturados. De um país onde a família e a "honra" tem uma importância fulcral e onde metade da população (as mulheres) são excluídas da vida pública e vivem numa situação de completa subalternização face aos homens. E de um país onde existe uma importante minoria xiita que corresponderá a 10-15% do total da população concentrada nas regiões petrolíferas da costa do Golfo Pérsico e que tem sido alvo de discriminação económica e religiosa.
 
Não obstante o livro dá-nos várias razões de esperança. Ao longo do livro surgem várias personagens que lutam por uma Arábia Saudita mais democrática e moderna onde os direitos humanos sejam respeitados e exista igualdade entre homens e mulheres. E como Robert Lacey nos recorda no prefácio: "The modern Saudi experience may seem remote, but it was not so long ago in the West - certainly in our parents' and grandparents' memory - that most people were devout and rather intolerant, scared and suspicious of other races and faiths; the 'weaker' sex did not vote; capital punishments was considered a necessity; books and plays were censored (our films still are); Father knew best, and 'nice' girls kept themselves pure until marriage".
 

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