quinta-feira, 24 de março de 2011

As pressões europeias



As pressões europeias que vieram do presidente da Comissão Europeia, da chanceler alemã e do presidente do BCE reclamando um consenso nacional em torno dos objectivos orçamentais para 2011, 2012 e 2013 eram esperadas e constituem um aviso muito importante, que não estou seguro que tenha sido bem compreendido.

Como bem revelam as declarações do presidente do Eurogrupo apontando valores (75 mil milhões) para o montante do pacote de ajuda a Portugal, para as instituições e os nossos parceiros europeus o pedido de auxílio é nesta altura considerado como uma certeza, faltando apenas decidir a data e as condições em que vai ocorrer, sendo bastante provável que, tal como a Fitch hoje referiu, Portugal seja forçado a recorrer a essa ajuda nos próximos 2 meses, ou seja antes mesmo de se realizarem eleições antecipadas que decidirão qual o novo Governo. Sinceramente, não sei quais serão as intenções do Presidente, mas se houver espaço de manobra política,  a melhor solução seria indubitavlemente um Governo de "transição" que  pudesse negociar os termos e condições desse auxílio.

PS1: Estive os dois últimos dias no estrangeiro o que tem o saudável efeito de vermos como somos vistos lá fora, e a verdade é que (apesar do comunicado em inglês) na televisão e imprensa estrangeira a mensagem do PSD não passou e o chumbo do PEC 4 e a consequente demissão do Governo são apresentados como uma recusa da  austeridade e vistos com preocupação e alguma incredulidade e o tom geral é bastante favorável ao primeiro-ministro José Sócrates.

PS2: Parecem-me perigosas afirmações como estas de Miguel Relvas fazendo previsões sobre a evolução da taxa de juro ou estas de Carlos Moedas sobre a evolução futura do rating da República, porque demonstram  algum nervosismo e podem, mesmo que não seja essa a intenção, ser entendidas como promessas que não me parece que o PSD esteja em condições de cumprir. Infelizmente é provável que as taxas de juro ainda subam mais e que o rating da República se continue a deteriorar. Já me parecem no essencial correctas as declarações de Passos Coelho nomeadamente quando diz que "espera que os líderes europeus entendam a necessidade de um governo forte e comprometido com as reformas"... esperemos que os portugueses também. Notei, no entanto, que a forma como apareceram referidas nos diferentes jornais as suas referências aos impostos e salários e pensões não eram idênticas, correndo o risco de criar um ruído que o pode prejudicar.

Entre um "compromisso" para dar preferência a aumentos nos impostos sobre o consumo, em vez de cortes nos rendimentos das pessoas e nas “pensões mais degradadas" e confirmou que, a haver necessidade de ajustamentos, será nos impostos sobre o consumo e não sobre o rendimento, comprometendo-se a não cortar salários nem pensões, há uma diferença demasiado grande.


PS3: O país dispensava um diferendo entre PSD e CDS sobre um hipotético aumento de impostos. Esta reacção bem como a reacção do PS, mostram que infelizmente um consenso de que falei será quase impossível, mas mostra também que o PSD já está a comportar-se como partido do Governo numa altura em que ainda faltam dois meses para as eleições e que o PS a agir como partido da oposição.

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