quarta-feira, 9 de março de 2011

O discurso de tomada de posse do Presidente da República


O discurso que Cavaco Silva hoje proferiu na sua tomada de posse foi um excelente discurso. Não me recordo mesmo de um discurso político recente com o qual me tenha identificado mais, no qual chamou a atenção para a importância de um diagnóstico correcto e um discurso de verdade sobre a situação nacional, que não se coibiu de, suportado em dados em concretos e objectivos, classificar como sendo de emergência económica, financeira e social para destacar a urgência de encontrar soluções de natureza conjuntural - que permitam mitigar as graves consequências sociais da crise - e estrutural - que permitam reduzir o défice externo e aumentar a produtividade da economia. Um discurso no qual chamou a atenção para "o risco de prosseguir políticas públicas baeadas no instinto ou em mero voluntarismo", para o erro que constitui "privilegiar grandes investimentos que não temos condições de financiar, que não contribuem para o crescimento da produtividade e que têm um efeito temporário e residual na criação de emprego". E no qual criticou a cultura "altamente nociva" de dependência e falta de transparência entre empresas e os poderes públicos e alertou para necessidade de alterações numa classe política em que muitos agentes "não conhecem o país real, só conhecem o país virtual e mediático".

Mas um discurso que foi simultaneamente de confiança na capacidade dos portugueses para, colectivamente, superarem a dificil situação com que o país se defronta, apontando caminhos para a solução dos problemas e apelando a uma mobilização da sociedade civil e, em particular, dos jovens.

Foi um discurso dirigido aos portugueses em que os alertou para a urgência da situação, para o caminho dificil que o país terá de trilhar, mas simultaneamente de esperança no futuro do país.

Infelizmente o futuro não se ganha (só) com discursos, e a reacção do PS, que pela voz do líder da sua bancada parlamentar veio considerar o discurso do Presidente da República como "impróprio e sectário", revela que não parecem existir as condições políticas para a desejada construção de um "programa estratégico de médio prazo, objecto de um alargado consenso político e social" e que, porventura por saber que a situação financeira é insustentável, o PS prefere preferir aumentar a tensão no relacionamento entre Belém e São Bento esperando, talvez, que, num cenário de eleições antecipadas, isso lhe permita apostar numa estratégia de vitimização da qual possa obter dividendos eleitorais.

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