segunda-feira, 14 de março de 2011

A declaração de José Sócrates



Num um discurso em que, mais uma vez, foi incapaz de reconhecer qualquer erro e revelou uma profunda incompreensão da crise económica e financeira que, num momento Kim-Il-Sung, designou por "crise das dívidas soberanas que afecta toda a Europa" e que nas suas palavras é "apenas" uma crise de confiança, confesso que a minha grande surpresa foi ouvir o primeiro-ministro dizer que Portugal “conseguiu uma vitória importante” na última cimeira da zona Euro ao obter esta declaração conjunta por parte da Comissão Europeia e Banco Central Europeu em que estas duas instituições europeias consideraram que, num cenário macroeconómico razoável, o défice do Estado em 2011 seria 0,75 pp (ou seja 1,3 mil milhões de euros) superior ao objectivo de 4,6%, pondo de forma absolutamente clara em causa a credibilidade das previsões do Governo e alertam para os riscos que impendem sobre o nosso sistema financeiro. O que, mesmo atendendo aos baixos padrões de respeito pela verdade dos factos a que o primeiro-ministro nos tem habituado, corresponde a uma mistificação dos factos que me deixa estupefacto.

Quanto ao resto ressalto:
- a admissão implicita de que  sem as medidas anunciadas teria sido forçado a pedir ajuda financeira externa;
- a forma como foi notoriamente incapaz de explicar porque razão não discutiu previamente com os partidos da oposição as medidas do PEC IV, erro (forçado pelas circunstâncias ?) que procurou corrigir através do anúncio da sua disponibilidade para discutir (com o PSD) medidas alternativas de redução da despesa e, ainda,
- as constantes referências à importância da estabilidade política que considerou como indispensável para evitar o recurso à ajuda externa, deixando claro, para quem ainda tivesse dúvidas, que o PS não deixará de (tentar) imputar a responsabilidade pela necessidade de recurso a essa ajuda a quem precipitar ou contribuir para uma eventual crise política.

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