Embora, à semelhança da declaração do PR, procure montar a história da forma mais conveniente para o PS e o Governo (estou a referir-me ao modo como justifica as declarações dos deputados José Junqueiro e Vitalino Canas), a reacção do PS às declarações apesar de dura teve o mérito de ser clara e, embora por pouco, não me parece que tenha ultrapassado os limites do tolerável.
Contrariamente ao que seriam as expectativas de alguns sectores do PSD a declaração do PR não só não trouxe nada de verdadeiramente novo como não contribuiu em nada para melhorar a sua situação política, sendo verdadeiramente constrangedora a inabilidade com que o PR tem vindo a gerir todo este caso que ameaça marcar o fim definitivo do cavaquismo.
Esperemos que, depois da noite de hoje, se possa virar uma página sobre este caso rocambolesco e que a serenidade e o bom-senso retorne a Belém e a alguns sectores mais exaltados da esquerda onde se começa a pedir a cabeça do PR. O país agradece !
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
A declaração do Presidente da República
Hoje ficámos a saber, pelas palavras do Sr. Presidente da República (PR), que:
a) o PR nunca fez qualquer referência a "escutas" ou outra palavra com significado semelhante;
b) o PR não vê qualquer "crime" em que um membro do staff da casa civil do Presidente, tenha sentimentos de desconfiança, ou de outra natureza, em relação a atitudes de outras pessoas e os divulgue através dos jornais (?) e que as "alterações" na casa civil do PR ficaram a dever-se não ao teor das informações divulgadas mas sim por ter ficado no ar a dúvida de que o assessor em caus teria invocado estar a "falar em nome do PR";
c) existem "vulnerabilidades" que podem pôr em causa a protecção da "informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República".
Mas, o principal facto político é o PR ter afirmado que:
a) foi surpreendido com declarações de destacadas personalidades do partido do Governo exigindo-lhe que viesse falar sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD e considerou que essas declarações eram graves e constituiam um ultimato ao PR;
b) em seu entender essas declarações visaram: i) "puxar o Presidente para a luta político-partidária" e ii) "Desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos";
c) que o PR considera que existiram "graves manipulações" e que "foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência".
Depois destas declarações, obviamente que permanecerão dúvidas (que provavelmente nunca serão completamente sanadas) quanto ao real papel do PR na divulgação da notícias do jornal Público em Agosto e diferentes interpretações relativamente às razões pelas quais o PR decidiu na altura não se pronunciar (o que analisando retrospectivamente teria provavelmente permitido despoletar o assunto e talvez tivesse contribuido para uma campanha diferente), bem como quanto às razões (e fontes) da notícia do DN a uma semana das eleições (facto cujo impacto no resultado eleitoral nunca poderemos avaliar com certeza), mas uma coisa resulta claramente das declarações do PR: ao trazer o tema da colaboração de assessores do PR na elaboração do programa do PSD o PS (ou pelo menos alguns dos seus dirigentes), talvez inconscientemente, contribuiram para que se atingisse um ponto de ruptura numa relação institucional que já estava bastante degradada.
E, infelizmente, às dificuldades e incertezas que decorrem dos resultados eleitorais de domingo há que juntar aquelas que decorrem do estado deplorável do relacionamento institucional entre o PR e o partido mais votado.
a) o PR nunca fez qualquer referência a "escutas" ou outra palavra com significado semelhante;
b) o PR não vê qualquer "crime" em que um membro do staff da casa civil do Presidente, tenha sentimentos de desconfiança, ou de outra natureza, em relação a atitudes de outras pessoas e os divulgue através dos jornais (?) e que as "alterações" na casa civil do PR ficaram a dever-se não ao teor das informações divulgadas mas sim por ter ficado no ar a dúvida de que o assessor em caus teria invocado estar a "falar em nome do PR";
c) existem "vulnerabilidades" que podem pôr em causa a protecção da "informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República".
Mas, o principal facto político é o PR ter afirmado que:
a) foi surpreendido com declarações de destacadas personalidades do partido do Governo exigindo-lhe que viesse falar sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD e considerou que essas declarações eram graves e constituiam um ultimato ao PR;
b) em seu entender essas declarações visaram: i) "puxar o Presidente para a luta político-partidária" e ii) "Desviar as atenções do debate eleitoral das questões que realmente preocupavam os cidadãos";
c) que o PR considera que existiram "graves manipulações" e que "foram ultrapassados os limites do tolerável e da decência".
Depois destas declarações, obviamente que permanecerão dúvidas (que provavelmente nunca serão completamente sanadas) quanto ao real papel do PR na divulgação da notícias do jornal Público em Agosto e diferentes interpretações relativamente às razões pelas quais o PR decidiu na altura não se pronunciar (o que analisando retrospectivamente teria provavelmente permitido despoletar o assunto e talvez tivesse contribuido para uma campanha diferente), bem como quanto às razões (e fontes) da notícia do DN a uma semana das eleições (facto cujo impacto no resultado eleitoral nunca poderemos avaliar com certeza), mas uma coisa resulta claramente das declarações do PR: ao trazer o tema da colaboração de assessores do PR na elaboração do programa do PSD o PS (ou pelo menos alguns dos seus dirigentes), talvez inconscientemente, contribuiram para que se atingisse um ponto de ruptura numa relação institucional que já estava bastante degradada.
E, infelizmente, às dificuldades e incertezas que decorrem dos resultados eleitorais de domingo há que juntar aquelas que decorrem do estado deplorável do relacionamento institucional entre o PR e o partido mais votado.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Sobre a governabilidade
Numa conjuntura em que, como José Sócrates ontem fez questão de salientar, Portugal enfrenta sérios desafios e um quadro parlamentar complexo, a solução natural seria um entendimento PS+PSD. Até porque, excepção feita às grandes obras públicas (em que apesar de tudo não seria dificil encontrar um entendimento - por exemplo, construção do novo aeroporto por módulos e de apenas um das duas linhas do TGV), não parece de facto grandes diferenças programáticas que tornem impossível um entendimento. As dificuldades são sobretudo políticas: i) a instabilidade do PSD, ii) o elevado grau de crispação entre as direcções dos dois partidos e iii) o desgaste que tal solução implicaria para o PS perante uma esquerda que dificilmente lhe perdoaria tal opção e poderia custar bastante caro ao PS em futuras eleições, que, muito sinceramente, me parece ser o maior obstáculo a esta solução.
Ora, sendo esta última razão igualmente válida para os entendimentos com o CDS-PP, a solução natural será um Governo de maioria relativa que procure acordos parlamentares pontuais à esquerda e/ou à direita, sendo que nas situações em que a direita se una contra o PS-Governo, não bastará a abstenção dos dois partidos à esquerda.
E existe o risco sério de surgirem "casos" ou propostas que unam toda a oposição e que tornem muito complicada a sobrevivência do Governo.
Ora, sendo esta última razão igualmente válida para os entendimentos com o CDS-PP, a solução natural será um Governo de maioria relativa que procure acordos parlamentares pontuais à esquerda e/ou à direita, sendo que nas situações em que a direita se una contra o PS-Governo, não bastará a abstenção dos dois partidos à esquerda.
E existe o risco sério de surgirem "casos" ou propostas que unam toda a oposição e que tornem muito complicada a sobrevivência do Governo.
Uma noite sem grandes razões para festa
Contrariamente ao que seria de esperar numa campanha onde a crer no discurso de campanha do PS estava em confronto o melhor Governo dos últimos 35 anos em defesa da modernidade e contra a destruição do Estado social, a vitória de ontem traduziu-se em níveis de mobilização popular confrangedores.
O PS pode ter ganho as eleições mas, para além da maioria absoluta, parece ter perdido algo talvez ainda mais importante: a capacidade de galvanizar o país.
O PS pode ter ganho as eleições mas, para além da maioria absoluta, parece ter perdido algo talvez ainda mais importante: a capacidade de galvanizar o país.
Resultados das eleições na Alemanha
De acordo com a BBC os resultados oficiais preliminares indicam a CDU de Angela Merkel com 33%, o SPD com 23%, FDP com 14,6%, Partido da Esquerda com 11,9% e os Verdes com 10,7%, confirmando-se que a Alemanha irá ter um Governo CDU-FDP.
domingo, 27 de setembro de 2009
Maiorias parlamentares
Em termos de repartição de mandatos dois dados que parecem extremamente importantes do ponto vista político, quando falta ainda conhcer a votação nos círculos do estrangeiro que elegem 4 deputados, são que embora exista uma maioria de esquerda pois PS+BE+CDU têm 127 deputados. PS+BE obtêm apenas 112 deputados, quando o mais provável parece ser a sua repartição com o PSD , e, por outro lado, que PSD+CDS-PP têm mais deputados (99) do que o PS (96).
Para que PS+BE tivessem maioria absoluta e o PS mais deputados do que PSD+CDS seria pois necessário que o PS obtivesse a totalidade dos deputados pelos circulos no estrangeiro o que parece altamente improvavel, sendo de esperar que os mesmos venham a ser repartidos com o PSD e basta que o PSD obtenha apenas um desses deputados (o normal será que obtenha mais) para que em conjunto com CDS-PP disponha de mais deputados que o PS e impeça PS+BE de poderem formar uma maioria absoluta.
Para que PS+BE tivessem maioria absoluta e o PS mais deputados do que PSD+CDS seria pois necessário que o PS obtivesse a totalidade dos deputados pelos circulos no estrangeiro o que parece altamente improvavel, sendo de esperar que os mesmos venham a ser repartidos com o PSD e basta que o PSD obtenha apenas um desses deputados (o normal será que obtenha mais) para que em conjunto com CDS-PP disponha de mais deputados que o PS e impeça PS+BE de poderem formar uma maioria absoluta.
Vencedores e derrotados
Foi uma vitória confortável do PS com uma diferença face ao PSD próxima das indicações dadas pelas últimas sondagens que assim, embora com uma queda de cerca de 8,5 pontos percentuais relativamente a 2005 e uma derrota clara do PSD e de Manuela Ferreira Leite que embora suba ligeiramente (cerca de 0,3 pontos percentuais) fica muito longe do objectivo de ficar à frente do PS e não descola do péssimo resultado obtido sob a liderança de Pedro Santana Lopes.
Também indubitavelmente vencedores foram o Bloco de Esquerda que com mais quase 3,5 pontos percentuais fica muito próximo da barreira dos 10% de votos e, sobretudo, o CDS-PP de Paulo Portas que fruto de uma boa campanha obteve um crescimento também superior a 3 pontos percentuais, ultrapassando os 10% e colocando-se como o terceiro maior partido (embora com apenas uma pequena diferença para o Bloco).
Igualmente derrotados surgem os pequenos partidos e especialmente o MEP (teve apenas 25 mil votos correspondentes a 0,45%) que ficaram muito distantes da possibilidade de elegerem deputados.
Também indubitavelmente vencedores foram o Bloco de Esquerda que com mais quase 3,5 pontos percentuais fica muito próximo da barreira dos 10% de votos e, sobretudo, o CDS-PP de Paulo Portas que fruto de uma boa campanha obteve um crescimento também superior a 3 pontos percentuais, ultrapassando os 10% e colocando-se como o terceiro maior partido (embora com apenas uma pequena diferença para o Bloco).
Igualmente derrotados surgem os pequenos partidos e especialmente o MEP (teve apenas 25 mil votos correspondentes a 0,45%) que ficaram muito distantes da possibilidade de elegerem deputados.
Projecções eleitorais na Alemanha
As projecções eleitorais na Alemanha apontam para uma vitória clara da CDU de Angela Merkel com 33,5% dos votos que deverá ser suficente para governar em coligação com os liberais do FDP a que as projecções atribuem 14,5% dos votos.
sábado, 26 de setembro de 2009
Irão, Afeganistão e Palestina
Numa altura em que:
- a situação no Afeganistão tem vindo a complicar-se quer no aspecto militar (com os comandantes a mostrarem-se preocupados com a evolução da situação no terreno e a indicar a necessidade de um reforço substancial das forças ao seu dispor) quer no aspecto político (com a complicada situação gerada pelas fraudes nas eleições presidenciais);
- os contactos entre o Governo de Israel e os palestinianos promovidos pela Presidência Obama revelam dificuldades em superar o impasse quanto às condições para se iniciarem negociações; e
- continuam os sinais preocupantes de instabilidade no Paquistão.
A revelação de que o Irão estaria a construir há vários anos uma segunda unidade de enriquecimento de urânio num indicio claro da vontade do Irão em obter armas nucleares constitui um desafio à estratégia de diálogo e negociação defendida pelo Presidente Obama.
Com efeito numa região em que India, Paquistão e Israel possuem arsenais nucleares, a liderança iraniana parece encarar a obtenção, pelo menos, das condições para dispor de armas nucleares como uma condição para exercer influência regional e parece sentir a oposição ao seu programa nuclear (que na verdade se iniciou com "fins pacíficos" ainda no tempo do xá e com o apoio dos EUA) como injustificada. Por outro lado, além da posição de Israel, caso o Irão adquira um arsenal nuclear é de recear que outros países da região (nomeadamente a Arábia Saudita e eventualmente Egipto e Turquia) se sintam pressionadas a também obter bombas atómicas. Neste cenário, claro que a melhor solução seria "convencer" os Irão a aceitar um rigoroso controlo do seu programa por forma a assegurar que o mesmo visa apenas usos pacíficos.
A questão é que, infelizmente, não parece que o "diálogo" e "boa vontade" sejam suficientes para obter esse objectivo. Para poderem ser bem sucedidas essa negociações terão de ser apoiadas em factores de dissuasão credíveis (sejam militares sejam de sanções económicas) e/ou na disponibilidade para fazer concessões ao regime iraniano seja em termos de reconhecimento político (o que justifica a serenidade com que a administração Obama acompanhou todo o processo em torno das eleições presidenciais iranianas) seja em termos de influência regional (nomeadamente no vizinho Iraque).
- a situação no Afeganistão tem vindo a complicar-se quer no aspecto militar (com os comandantes a mostrarem-se preocupados com a evolução da situação no terreno e a indicar a necessidade de um reforço substancial das forças ao seu dispor) quer no aspecto político (com a complicada situação gerada pelas fraudes nas eleições presidenciais);
- os contactos entre o Governo de Israel e os palestinianos promovidos pela Presidência Obama revelam dificuldades em superar o impasse quanto às condições para se iniciarem negociações; e
- continuam os sinais preocupantes de instabilidade no Paquistão.
A revelação de que o Irão estaria a construir há vários anos uma segunda unidade de enriquecimento de urânio num indicio claro da vontade do Irão em obter armas nucleares constitui um desafio à estratégia de diálogo e negociação defendida pelo Presidente Obama.
Com efeito numa região em que India, Paquistão e Israel possuem arsenais nucleares, a liderança iraniana parece encarar a obtenção, pelo menos, das condições para dispor de armas nucleares como uma condição para exercer influência regional e parece sentir a oposição ao seu programa nuclear (que na verdade se iniciou com "fins pacíficos" ainda no tempo do xá e com o apoio dos EUA) como injustificada. Por outro lado, além da posição de Israel, caso o Irão adquira um arsenal nuclear é de recear que outros países da região (nomeadamente a Arábia Saudita e eventualmente Egipto e Turquia) se sintam pressionadas a também obter bombas atómicas. Neste cenário, claro que a melhor solução seria "convencer" os Irão a aceitar um rigoroso controlo do seu programa por forma a assegurar que o mesmo visa apenas usos pacíficos.
A questão é que, infelizmente, não parece que o "diálogo" e "boa vontade" sejam suficientes para obter esse objectivo. Para poderem ser bem sucedidas essa negociações terão de ser apoiadas em factores de dissuasão credíveis (sejam militares sejam de sanções económicas) e/ou na disponibilidade para fazer concessões ao regime iraniano seja em termos de reconhecimento político (o que justifica a serenidade com que a administração Obama acompanhou todo o processo em torno das eleições presidenciais iranianas) seja em termos de influência regional (nomeadamente no vizinho Iraque).
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Balanço de uma campanha
PS - Foi uma campanha profissional em que a principal preocupação parece ter sido não cometer erros e explorar bem os (muitos) erros dos principais adversários. Do ponto de vista positivo o bom trabalho para suavizar a imagem de Sócrates que teve um bom comportamento nos debates nomeadamente contra Francisco Louçã e Manuela Ferreira Leite. Menos positivo o "trabalho sujo" deixado às segundas figuras de desgastar a imagem dos líderes da concorrência (especialmente Manuela Ferreirta Leite) que em certas alturas forçaram demasiado a nota contribuindo para a crispação que se sentiu durante a campanha e talvez, também, a excessiva personalização da campanha em torno de José Sócrates. Importante na campanha foi o apoio dos históricos Mário Soares e, sobretudo, Manuel Alegre.
PSD - A ideia de construir a campanha com base na "Política de Verdade" que identificasse e enfrentasse com seriedade os problemas e as soluções de que o país evitando a promessa fácil poderia ter algum potencial mas a verdade é que a execução foi péssima. Em primeiro lugar porque o PSD não quis ou não foi capaz de centrar a agenda da campanha nos problemas estruturais do país, nomeadamente a questão de como aumentar a produtividade única forma de resolver o desemprego, o desequilíbrio externo e facilitar o equilíbrio orçamental, deixando que o tema do TGV (no qual tinha razão) se arrastasse durante demasiado tema. Mas, sobretudo, por ter criado um equivoco ao apostar no slogan da "asfixia democrática" que acabou por suplantar o inicial e que nunca soube definir capazmente. Tanto quanto pude perceber a asfixia democrática era uma expressão que englobava desde os casos de "pressão" sobre a comunicação social, alguns episódios de insensatez política como o "caso Charrua" e ao mesmo tempo, e esse era talvez o objectivo principal, uma certo conttrolo do aparelho de Estado utilizado como fonte de influência política e económica. Esta aposta revelou-se fatal na medida em que como é uso dizer-se "quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras" e o PSD tinha demasiados telhados de vidro. E desde a questão da Madeira, no inicio da campanha, a inclusão de António Preto nas listas até às "revelações" sobre o "caso das escutas" tudo o que podia ter corrido mal correu mesmo mal.
Bloco de Esquerda - Pareceu-me ter dificuldades em encontrar o equilíbrio entre a conquista do voto de descontentamento e a afirmação como partido capaz de participar em soluções governativas. Foi ainda afectado por pela primeira vez ter tido de sofrer os efeitos do desgaste resultantes das críticas dos outros partidos que compreenderam a necessidade de conter o crescimento do Bloco e expuseram algumas fragilidades do seu programa. Além disso, sofreu os efeitos de uma fraca prestação de Francisco Louçã nos debates televisivos principalmente no debate crucial perante Sócrates.
CDS - Se houvesse um prémio para a melhor campanha mais conseguida este deveria ir para o CDS. Elegeu um conjunto de temas chave (Segurança, Impostos, Rendimento Social / Pensões e Agricultura) e aproveitou a capacidade de Paulo Portas para passar essas mensagens, beneficiando de um PSD inteiramente focado no combate ao PS e apostado em ganhar o voto do centro.
CDU - Uma campanha com poucas novidades, excepto talvez a enfase nas micro, pequenas e médias empresas, suportada no voluntarismo e mobilização dos militantes do PCP e apoiada num líder empático e que no contexto da campanha se destacou não raras vezes pela serenidade e bom senso.
PSD - A ideia de construir a campanha com base na "Política de Verdade" que identificasse e enfrentasse com seriedade os problemas e as soluções de que o país evitando a promessa fácil poderia ter algum potencial mas a verdade é que a execução foi péssima. Em primeiro lugar porque o PSD não quis ou não foi capaz de centrar a agenda da campanha nos problemas estruturais do país, nomeadamente a questão de como aumentar a produtividade única forma de resolver o desemprego, o desequilíbrio externo e facilitar o equilíbrio orçamental, deixando que o tema do TGV (no qual tinha razão) se arrastasse durante demasiado tema. Mas, sobretudo, por ter criado um equivoco ao apostar no slogan da "asfixia democrática" que acabou por suplantar o inicial e que nunca soube definir capazmente. Tanto quanto pude perceber a asfixia democrática era uma expressão que englobava desde os casos de "pressão" sobre a comunicação social, alguns episódios de insensatez política como o "caso Charrua" e ao mesmo tempo, e esse era talvez o objectivo principal, uma certo conttrolo do aparelho de Estado utilizado como fonte de influência política e económica. Esta aposta revelou-se fatal na medida em que como é uso dizer-se "quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras" e o PSD tinha demasiados telhados de vidro. E desde a questão da Madeira, no inicio da campanha, a inclusão de António Preto nas listas até às "revelações" sobre o "caso das escutas" tudo o que podia ter corrido mal correu mesmo mal.
Bloco de Esquerda - Pareceu-me ter dificuldades em encontrar o equilíbrio entre a conquista do voto de descontentamento e a afirmação como partido capaz de participar em soluções governativas. Foi ainda afectado por pela primeira vez ter tido de sofrer os efeitos do desgaste resultantes das críticas dos outros partidos que compreenderam a necessidade de conter o crescimento do Bloco e expuseram algumas fragilidades do seu programa. Além disso, sofreu os efeitos de uma fraca prestação de Francisco Louçã nos debates televisivos principalmente no debate crucial perante Sócrates.
CDS - Se houvesse um prémio para a melhor campanha mais conseguida este deveria ir para o CDS. Elegeu um conjunto de temas chave (Segurança, Impostos, Rendimento Social / Pensões e Agricultura) e aproveitou a capacidade de Paulo Portas para passar essas mensagens, beneficiando de um PSD inteiramente focado no combate ao PS e apostado em ganhar o voto do centro.
CDU - Uma campanha com poucas novidades, excepto talvez a enfase nas micro, pequenas e médias empresas, suportada no voluntarismo e mobilização dos militantes do PCP e apoiada num líder empático e que no contexto da campanha se destacou não raras vezes pela serenidade e bom senso.
Resultados das sondagens
Todas as sondagens divulgadas nos últimos dois dias apontam para uma vantagem confortável do PS sobre o PSD (entre 8 e 10 pontos percentuais) atribuindo ao PS uma percentagem entre 38% e 40%. Ao mesmo tempo que indicam uma pequena descida do PSD (afectado pelo efeito do "caso das escutas") e uma descida um pouco mais substancial do BE (afectado pelo efeito voto útil e pela intervenção de Manuel Alegre e Mário Soares na campanha). Sendo de notar ainda a subida do PP beneficiando do desgaste do PSD e da boa campanha de Paulo Portas.
Os resultados do PS apontam para que venha a obter mais deputados do que o PSD e CDS no seu conjunto (que em termos políticos corresponderá à tal maioria clara que o PS almejava) e, adimitindo que traduzem uma dinâmica eleitoral, colocam-no mesmo muito perto da obtenção de uma maioria absoluta em 27 de Setembro.
Os resultados do PS apontam para que venha a obter mais deputados do que o PSD e CDS no seu conjunto (que em termos políticos corresponderá à tal maioria clara que o PS almejava) e, adimitindo que traduzem uma dinâmica eleitoral, colocam-no mesmo muito perto da obtenção de uma maioria absoluta em 27 de Setembro.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Momentos de campanha
Segundo a TSF "Em Viseu, o secretário-geral do PS, José Sócrates, lembrou que não gosta de fazer comícios do «bota abaixo» e, por isso, coube ao cabeça-de-lista socialista em Viseu, José Junqueiro, tecer as críticas aos adversários." Isto a propósito de um comício em que José Junqueiro voltou a trazer Salazar para a campanha e recordou um despacho que ao que parece nem sequer foi assinado por Manuela Ferreira Leite. Dando a "deixa" para José Sócrates afirmar: "Estamos nesta campanha com elevação".
No dia em que também segundo a TSF o Governo suspendeu o programa de distribuição do computador Magalhães. Noticia que foi "contrariada" pelo secretário de Estado da Educação que terá dito "que não aceita o uso da palavra suspensão a propósito da distribuição dos portáteis Magalhães e esclareceu que a continuidade do programa será uma decisão do próximo governo", confirmando, no entanto, que não haverá entrega de computadores até que seja conhecido (?) o resultado das eleições. (Sinceramente pensava que "suspender" era "interromper temporariamente", pelo que se a distribuição foi interrompida e irá recomeçar após as eleições então isso para mim seria "suspender"... mas ele é que é Secretário de Estado da Educação).
A resposta do PSD não foi menos surpreendente dizendo que "O programa Magalhães não passou de um fogacho para fins eleitorais, em que o Governo recorreu a receitas extraordinárias", para depois garantir que que PSD vencer as eleições do próximo domingo, a distribuição dos computadores Magalhães vai manter-se sem esclarecer como será financiado.
No dia em que também segundo a TSF o Governo suspendeu o programa de distribuição do computador Magalhães. Noticia que foi "contrariada" pelo secretário de Estado da Educação que terá dito "que não aceita o uso da palavra suspensão a propósito da distribuição dos portáteis Magalhães e esclareceu que a continuidade do programa será uma decisão do próximo governo", confirmando, no entanto, que não haverá entrega de computadores até que seja conhecido (?) o resultado das eleições. (Sinceramente pensava que "suspender" era "interromper temporariamente", pelo que se a distribuição foi interrompida e irá recomeçar após as eleições então isso para mim seria "suspender"... mas ele é que é Secretário de Estado da Educação).
A resposta do PSD não foi menos surpreendente dizendo que "O programa Magalhães não passou de um fogacho para fins eleitorais, em que o Governo recorreu a receitas extraordinárias", para depois garantir que que PSD vencer as eleições do próximo domingo, a distribuição dos computadores Magalhães vai manter-se sem esclarecer como será financiado.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Notas sobre a campanha (IV)
A demissão de Fernando Lima desferiu um duro golpe, provavelmente fatal, sobre uma já abalada campanha do PSD que, numa atitude de aparente desespero, tem procurado focar as atenções numa possível futura aliança PS-Bloco (óbvia e prontamente desmentida pelo PS). Na actual situação Pacheco Pereira tem provavelmente razão quando diz que não seria pior para o PSD que o Presidente da República falasse já ao país. Nem que fosse para, sendo o caso, confirmar que tudo não passou de uma fabricação, pois tal talvez fosse a única forma de esvaziar um pouco um assunto que ameaça dominar completamente a agenda até ao fim da campanha.
Quanto ao PS não deixa de ser curiosa a forma como procurou habilmente "colar" o caso das escutas ao PSD enquanto simultaneamente se abstém de criticar a Presidência da República. É provavelmente uma estratégia eficaz. Pena seja que tudo aponte para que a ideia tenha surgido e sido concretizada em Belém e que, tanto quanto sei, não existam quaisquer indicios de envolvimento da direcção do PSD, mas talvez seja isso que o PS entende ser fazer uma campanha baseada no conteúdo e não em casos nem ataques pessoais.
Entretanto, a campanha do BE parece em claro crescendo aproveitando os dotes de tribuno de Francisco Louçã que inegavelmente está mais à vontade em comícios do que nos debates televisivos e visivelmente satisfeito com as atenções que PS/PSD e a comunicação social têm vindo a dispensar ao Bloco. Enquanto, Paulo Portas continua incansável nas acções de campanha de rua.
Finalmente, uma palavra para a campanha da CDU baseada na capacidade de mobilização que embora não tão vigorosa como noutras campanhas continua, juntamente com a sua influência na área sindical, a constituir principal força do PCP. Na sua aparição no programa dos Gatos Fedorentos, Jerónimo de Sousa não esteve mal tendo sido, no entanto, curioso notar a evidente satisfação que as atenções de uma monarca são capazes de despertar num dirigente comunista e a, talvez inconscientemente relacionada, confrangedora (não) resposta à provocação do Ricardo Araújo Pereira sobre a "democracia" norte-coreana que demonstrou que o PCP continua igual a si próprio na sua nostalgia sobre os tempos "áureos" da cortina de ferro.
Quanto ao PS não deixa de ser curiosa a forma como procurou habilmente "colar" o caso das escutas ao PSD enquanto simultaneamente se abstém de criticar a Presidência da República. É provavelmente uma estratégia eficaz. Pena seja que tudo aponte para que a ideia tenha surgido e sido concretizada em Belém e que, tanto quanto sei, não existam quaisquer indicios de envolvimento da direcção do PSD, mas talvez seja isso que o PS entende ser fazer uma campanha baseada no conteúdo e não em casos nem ataques pessoais.
Entretanto, a campanha do BE parece em claro crescendo aproveitando os dotes de tribuno de Francisco Louçã que inegavelmente está mais à vontade em comícios do que nos debates televisivos e visivelmente satisfeito com as atenções que PS/PSD e a comunicação social têm vindo a dispensar ao Bloco. Enquanto, Paulo Portas continua incansável nas acções de campanha de rua.
Finalmente, uma palavra para a campanha da CDU baseada na capacidade de mobilização que embora não tão vigorosa como noutras campanhas continua, juntamente com a sua influência na área sindical, a constituir principal força do PCP. Na sua aparição no programa dos Gatos Fedorentos, Jerónimo de Sousa não esteve mal tendo sido, no entanto, curioso notar a evidente satisfação que as atenções de uma monarca são capazes de despertar num dirigente comunista e a, talvez inconscientemente relacionada, confrangedora (não) resposta à provocação do Ricardo Araújo Pereira sobre a "democracia" norte-coreana que demonstrou que o PCP continua igual a si próprio na sua nostalgia sobre os tempos "áureos" da cortina de ferro.
Ainda o caso das escutas (II)
A forma a Presidência da República tem gerido o "caso das escutas" tem sido verdadeiramente desastrosa.
É que a ideia de que o assessor agora demitido terá agido por conta própria e sem conhecimento do PR é contrariada pelo teor do mail que apesar de em si não comprovar nada foi corroborado pelo silêncio da PR quando o caso foi despoletado em Agosto e recentemente pelas declarações proferidas pelo PR nas quais o PR se revelou preocupado com "questões de segurança".
Quanto à questão de fundo se partirmos do princípio de que havia suspeitas não se compreende porque razão a PR optou por passar a informação para a comunicação social em vez de por outros meios averiguar se existia ou não essa vigilância. Se essas suspeitas não existiam e se tudo não passou de uma história inventada para prejudicar o PS então o PR colocou-se numa situação bastante delicada que não fica sanada pela mera demissão de um assessor.
É que a ideia de que o assessor agora demitido terá agido por conta própria e sem conhecimento do PR é contrariada pelo teor do mail que apesar de em si não comprovar nada foi corroborado pelo silêncio da PR quando o caso foi despoletado em Agosto e recentemente pelas declarações proferidas pelo PR nas quais o PR se revelou preocupado com "questões de segurança".
Quanto à questão de fundo se partirmos do princípio de que havia suspeitas não se compreende porque razão a PR optou por passar a informação para a comunicação social em vez de por outros meios averiguar se existia ou não essa vigilância. Se essas suspeitas não existiam e se tudo não passou de uma história inventada para prejudicar o PS então o PR colocou-se numa situação bastante delicada que não fica sanada pela mera demissão de um assessor.
domingo, 20 de setembro de 2009
A minha decisão
Não faço uma avaliação global particularmente negativa do Governo na actual legislatura. No plano das Finanças Públicas o Governo fez um esforço assinalável em termos de redução do défice. É certo que o ajustamento é em grande parte atribuível à evolução das receitas para a qual contribuiu o aumento das taxas dos impostos e uma conjuntura internacional favorável, mas é também inegável que parte desse aumento ficou igualmente a dever-se a um esforço de aumento da eficiência fiscal e que houve um esforço sério de contenção da despesa pública. A favor do Governo coloco ainda, nomeadamente, a coragem, embora nem sempre bem dirigida, com que enfrentou pressões e grupos profissionais para implementar as políticas em que acreditava nas áreas da saúde (importante a aposta nos genéricos) e da educação (importante o reforço da rede pré-escolar, mas negativo a excessiva importância às estatísticas, o facilitismo, o clima de tensão que levou ao abandono de muitos professores com elevada qualidade e experiência e ridiculas as acções promocionais em torno do Magalhães) e o esforço de desburocratização que concretizou através do Programa Simplex. E, last but not least, a reforma da Segurança Social que em meu entender constitui um factor importante para a sustentabilidade do regime público de Segurança Social (embora, como seria inevitável, à custa de uma redução da taxa de substituição das pensões que nem sempre foi claramente assumido). Como também não esqueço a boa prestação aquando da Presidência da UE.
Também não faço a injustiça de considerar o Governo culpado pela divergência económica face à UE e o crescimento do desemprego. Para o bem e para o mal, numa economia de mercado inserida na economia global, a influência das decisões do Governo na evolução destas variáveis é muito menor quer daquilo que quem está Governo procura fazer crer quando os tempos são bons quer do que afirma a Oposição em tempos de crise. É certo que um mau Governo pode fazer piorar significativamente a situação mas não me parece que tal tenha ocorrido neste caso. Embora tenha reconhecido a crise um pouco tardiamente, a verdade é que depois o Governo fez, no essencial, o que podia e devia ter feito para obviar os efeitos da grave crise económica que ainda estamos a atravessar. E a verdade é que os desequilíbrios fundamentais da economia portuguesa (nomeadamente o famoso défice externo) já existia antes, que em 2008 o problema foi exarcebado pelo aumento dos preços do petróleo (e também dos produtos alimentares) e que em câmbios fixos os Governos não dispõem de instrumentos adequados à solução rápida desses desequilíbrios.
Devo dizer ainda que não considero que a (provável) vitória do PS constitua um desastre para o país e que até me agradaria ver continuar alguns dos ministros do actual Governo (nomeadamente, Teixeira dos Santos, Luís Amado e Vieira da Silva). E embora deva confessar que não sou capaz de me identificar com o estilo de fazer política utilizado por José Sócrates, Santos Silva, Lurdes Rodrigues, Mário Lino ou, o já demitido, Manuel Pinho tal não constituiria por si só razão suficiente para não votar PS.
Não obstante, nas próximas eleições irei votar no PSD. E faço-o por duas razões fundamentais. Em primeiro lugar porque creio sinceramente que a economia portuguesa irá enfrentar desafios sérios à competitividade e crescimento que em minha opinião o programa do PSD não só identifica mais claramente como aponta soluções mais adequadas baseadas na criação de condições e no estímulo à iniciativa privada, enquanto que o PS aposta excessivamente numa intervenção voluntarista do Estado. Em segundo lugar porque lendo o programa do PS e acompanhando a presente campanha verifico que existe uma quase ausência de propostas inovadoras, o que revela que o PS perdeu o impeto reformista e faz-me aumentar os receios de que, como a acção governativa do último ano e meio parece revelar, num governo minoritário o PS dificilmente resistirá a uma excessiva preocupação com o marketing político e a gestão do curto prazo.
Também não faço a injustiça de considerar o Governo culpado pela divergência económica face à UE e o crescimento do desemprego. Para o bem e para o mal, numa economia de mercado inserida na economia global, a influência das decisões do Governo na evolução destas variáveis é muito menor quer daquilo que quem está Governo procura fazer crer quando os tempos são bons quer do que afirma a Oposição em tempos de crise. É certo que um mau Governo pode fazer piorar significativamente a situação mas não me parece que tal tenha ocorrido neste caso. Embora tenha reconhecido a crise um pouco tardiamente, a verdade é que depois o Governo fez, no essencial, o que podia e devia ter feito para obviar os efeitos da grave crise económica que ainda estamos a atravessar. E a verdade é que os desequilíbrios fundamentais da economia portuguesa (nomeadamente o famoso défice externo) já existia antes, que em 2008 o problema foi exarcebado pelo aumento dos preços do petróleo (e também dos produtos alimentares) e que em câmbios fixos os Governos não dispõem de instrumentos adequados à solução rápida desses desequilíbrios.
Devo dizer ainda que não considero que a (provável) vitória do PS constitua um desastre para o país e que até me agradaria ver continuar alguns dos ministros do actual Governo (nomeadamente, Teixeira dos Santos, Luís Amado e Vieira da Silva). E embora deva confessar que não sou capaz de me identificar com o estilo de fazer política utilizado por José Sócrates, Santos Silva, Lurdes Rodrigues, Mário Lino ou, o já demitido, Manuel Pinho tal não constituiria por si só razão suficiente para não votar PS.
Não obstante, nas próximas eleições irei votar no PSD. E faço-o por duas razões fundamentais. Em primeiro lugar porque creio sinceramente que a economia portuguesa irá enfrentar desafios sérios à competitividade e crescimento que em minha opinião o programa do PSD não só identifica mais claramente como aponta soluções mais adequadas baseadas na criação de condições e no estímulo à iniciativa privada, enquanto que o PS aposta excessivamente numa intervenção voluntarista do Estado. Em segundo lugar porque lendo o programa do PS e acompanhando a presente campanha verifico que existe uma quase ausência de propostas inovadoras, o que revela que o PS perdeu o impeto reformista e faz-me aumentar os receios de que, como a acção governativa do último ano e meio parece revelar, num governo minoritário o PS dificilmente resistirá a uma excessiva preocupação com o marketing político e a gestão do curto prazo.
Notas sobre a campanha (III)
O dia foi marcado pelo caso das escutas que não é claro que possa beneficiar ou prejudicar nem PS e PSD, mas que, no caso de, como as sondagens indicam, o PS vir a vencer as eleições ameaça afectar seriamente as relações entre o PR e o Governo (e no caso de não vencer inquinar as relações entre o PS e o PR). Talvez, por isso, quer o PR quer o PS procuraram (penso que bem) desdramatizar o caso.
No terreno, a campanha ficou marcada pelas aparições de Manuel Alegre e Marcelo Rebelo de Sousa, ambos formalmente muito bem e apostando na bipolarização, mas parecendo-me mais importante a presença de Manuel Alegre quer pelo efeito que pode ter na faixa do eleitorado que ainda esteja indecisa entre o PS e o BE quer pelo seu significado símbolico para a unidade do partido que José Sócrates soube muito bem explorar. Por todas estas razões o comício do PS em Coimbra constituiu um momento importante da campanha do PS que moralizada pelos resultados das sondagens parece agora em crescendo.
Ennquanto que inversamente, a campanha, claramente menos bem preparada, do PSD parece estar a sentir o efeito desmoralizador dos resultados das sondagens e o desgaste provocado pelo "caso Preto".
Nas margens, o PCP continua uma campanha igual a si próprio enquanto CDS e BE esforçam-se por contrariar o risco do "voto útil", sendo que, no caso do BE, a vantagem do PS nas sondagens pode ajudar o BE cujos dirigente foram ontem alvo de uma lamnetável manchete do jornal Expresso segundo a qual deteriam PPR's e acções insinuando uma contradição, que não existe, entre esse facto e o seu programa.
No terreno, a campanha ficou marcada pelas aparições de Manuel Alegre e Marcelo Rebelo de Sousa, ambos formalmente muito bem e apostando na bipolarização, mas parecendo-me mais importante a presença de Manuel Alegre quer pelo efeito que pode ter na faixa do eleitorado que ainda esteja indecisa entre o PS e o BE quer pelo seu significado símbolico para a unidade do partido que José Sócrates soube muito bem explorar. Por todas estas razões o comício do PS em Coimbra constituiu um momento importante da campanha do PS que moralizada pelos resultados das sondagens parece agora em crescendo.
Ennquanto que inversamente, a campanha, claramente menos bem preparada, do PSD parece estar a sentir o efeito desmoralizador dos resultados das sondagens e o desgaste provocado pelo "caso Preto".
Nas margens, o PCP continua uma campanha igual a si próprio enquanto CDS e BE esforçam-se por contrariar o risco do "voto útil", sendo que, no caso do BE, a vantagem do PS nas sondagens pode ajudar o BE cujos dirigente foram ontem alvo de uma lamnetável manchete do jornal Expresso segundo a qual deteriam PPR's e acções insinuando uma contradição, que não existe, entre esse facto e o seu programa.
Ainda sobre as escutas
De acordo com o Correio da Manhã: "o pedido de verificação sobre eventuais vigilâncias ilegais ao mais alto responsável do País não foi feito às instâncias policiais habitualmente vocacionadas para a investigação deste tipo de casos. O assunto não foi tratado nem ao nível do Ministério Público nem da Polícia Judiciária, por a Presidência da República entender que as mesmas poderiam não garantir a 'confidencialidade' do acto."
Não sei o que é mais interessante: se o facto da Presidência da República considerar que não pode confiar no Ministério Público nem na Polícia Judiciária ou a contradição entre a preocupação com a "confidencialidade" e a "colocação" da notícia na imprensa.
Não sei o que é mais interessante: se o facto da Presidência da República considerar que não pode confiar no Ministério Público nem na Polícia Judiciária ou a contradição entre a preocupação com a "confidencialidade" e a "colocação" da notícia na imprensa.
sábado, 19 de setembro de 2009
Sobre o caso das escutas a Belém
A confirmar-se a existência de escutas na Presidência da República tal constituiria um caso da maior gravidade, mas mesmo a mera existência de suspeitas da Presidência da República de que estaria a ser objecto de "espionagem" pelo "gabinete do primeiro-ministro"constitui notícia de notório interesse público. Como se diz no email agora divulgado tudo pode até não passar de paranóia da Presidência da República, mas, mesmo sendo paranóia, não deixa de ser grave que o Presidente da República pense isto.
Assim, sinceramente, não vejo que exista algo a apontar ao Público no tratamento que deu a esta notícia. Recordo que o que o Público noticiou foi precisamente a existência de que a Presidência da República suspeitava que estava a ser vigiada e identificou com toda a clareza que a noticia tinha fonte em Belém. Ora, as notícias e declarações dos últimos dias confirmam que essas suspeitas, apenas acrescentando que a fonte da informação terá sido Fernando Lima e divulgando o teor do e-mail acima.
Para além da curiosidade qaunto à origem da documentação agora divulgada pelo Diário de Notícias é possível concluir que ou as suspeitas são sérias e fundadas e estamos perante um caso da maior gravidade política e institucional, ou se trata "apenas" de uma montagem para prejudicar José Sócrates e estamos perante um caso de "baixa" política da maior relevância. Pois no primeiro caso devemos, no mínimo, concluir que (com ou sem razão) o Presidente da República acredita que o gabinete do primeiro-ministro seja capaz de o colocar sob vigilância e no segundo caso que está disposto a recorrer a "golpes baixos" para prejudicar o PS. Em qualquer dos casos estamos perante um facto da maior importância e que obviamente o Público fez bem em noticiar a existência de tais suspeitas indicando que as mesmas tinham fonte em Belém.
Sendo que mesmo no caso das suspeitas serem fundadas os meios utilizados pela Presidência são, no mínimo, questionáveis.
Assim, sinceramente, não vejo que exista algo a apontar ao Público no tratamento que deu a esta notícia. Recordo que o que o Público noticiou foi precisamente a existência de que a Presidência da República suspeitava que estava a ser vigiada e identificou com toda a clareza que a noticia tinha fonte em Belém. Ora, as notícias e declarações dos últimos dias confirmam que essas suspeitas, apenas acrescentando que a fonte da informação terá sido Fernando Lima e divulgando o teor do e-mail acima.
Para além da curiosidade qaunto à origem da documentação agora divulgada pelo Diário de Notícias é possível concluir que ou as suspeitas são sérias e fundadas e estamos perante um caso da maior gravidade política e institucional, ou se trata "apenas" de uma montagem para prejudicar José Sócrates e estamos perante um caso de "baixa" política da maior relevância. Pois no primeiro caso devemos, no mínimo, concluir que (com ou sem razão) o Presidente da República acredita que o gabinete do primeiro-ministro seja capaz de o colocar sob vigilância e no segundo caso que está disposto a recorrer a "golpes baixos" para prejudicar o PS. Em qualquer dos casos estamos perante um facto da maior importância e que obviamente o Público fez bem em noticiar a existência de tais suspeitas indicando que as mesmas tinham fonte em Belém.
Sendo que mesmo no caso das suspeitas serem fundadas os meios utilizados pela Presidência são, no mínimo, questionáveis.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Notas sobre a campanha eleitoral (II)
Tenho de reconhecer que fiquei um pouco surpreendido com os resultados das últimas sondagens (Aximage e da UCP) que apontam para uma vantagem confortável do PS que rondará os 6 pontos percentuais. Surgindo como facto mais saliente face às sondagens anteriores a descida do PSD na sondagem da UCP (de 35% para 32%) o que curiosamente não ocorre na sondagem da Aximagem que na sondagem anterior já apontava para uma diferença de precisamente 6 pontos percentuais e na qual as variações são muito pequenas.
Perante estes dados, naturalmente, que uma das hipóteses é a de que a minha análise anterior estar simplesmente errada.
Salientaria, no entanto, que o trabalho de campo da sondagem foi feito entre 11 e 14 de Setembro iniciando-se pois antes do fim dos debates e decorrendo antes do período em que, em minha opinião, a campanha do PSD pareceu evidenciar uma maior dinâmica.
Além disso, analisando os dados da sondagem da UCP é possível constatar alguns elementos interessantes. Em primeiro lugar que apenas 64% dizem já ter tomado a sua decisão enquanto que 30% admite mudar de ideias, sendo a percentagem particularmente elevada no BE (29%). Mesmo descontando o facto de que muitos poderão optar por se abster (23% dos indecisos dizem não saber se irão votar e 18% afirmam que em principio irão votar) e que outros já poderão, de facto, ter tomado a sua decisão isso significa que o resultado está em aberto.
Também é curioso que uma elevada percentagem dos inquiridos (cerca de 40%) diga que nos últimos dias tinha alterado a sua opinião quer em relação a José Sócrates quer em relação a Manuela Ferreira Leite. Sendo que 13% dos indecisos responderam que a sua opinião em relação a José Sócrates era agora melhor (9% no caso de Ferreira Leite) e 24% que a sua opinião piorou (20% no caso de Ferreira Leite).
Os mesmos indecisos quando questionados sobre se seria melhor uma vitória do PS ou o PSD consideraram melhor uma vitória do PS nas áreas da Educação (20% PS-13% PSD), Saúde (21%-10%) e Combate à pobreza (20%-9%). Enquanto que o PSD apresenta uma ligeira vantagem no caso do Emprego (11%-15%) e nas restantes áreas a diferença não é significativa: Economia (17%-14%), Justiça (12%-13%), Segurança (12%-13%) e Finanças Públicas (14%-15%). Sendo de assinalar, em todas estas questões, a elevada percentagem dos que consideram que seria indiferente (entre 37% e 45%) ou dizem não saber quem faria melhor (entre 28% e 34%).
A favor do PS o facto de 20% dos indecisos indicar simpatia pelo PS (contra 11% para o PSD) embora seja de assinalar que 54% afirmam não ter simpatia partidária e 7% não saberem/responderem.
Quanto aos últimos acontecimentos da campanha, o PSD teve um dia francamente negativo marcado pelas revelações relativas à compra de votos na distrital de Lisboa, estando a pagar um preço elevado pela decisão incompreensível de incluir António Preto e Helena da Costa nas listas de candidatos a deputados.
Enquanto isso, o PS prosseguiu a sua aposta no tema TGV que utilizou na viagem em TGV entre Paris e Bruxelas defendeu que Portugal “deve investir nas infra-estruturas que nos ligam aos mercados do centro da Europa” e associou a não construção desta infra-estrutura a uma situação de “isolamento económico”. Além do facto de a contribuição do TGV para a ligação aos “mercados (?) no centro da Europa (?)” ser uma ilusão. É que Paris situa-se a 300 km de Bruxelas (o que significa um percurso de cerca de 1h20) e a 500 km de Amesterdão ou Colónia, enquanto que a distância entre Lisboa e Madrid é superior a 600 km, e a distância entre Lisboa e Paris (a segunda capital europeia mais próxima de Lisboa) é de 1.750 km (o que significa um tempo de viagem nunca inferior a 7 horas, enquanto que de avião o mesmo percurso é realizado em cerca de 2 horas). É certo que poderia ser importante ter uma boa ligação ferroviária ao centro da Europa para transporte de mercadorias, mas isso é outra questão, sendo, aliás, muito discutível que essa ligação devesse passar por Madrid.
Finalmente, uma referência às prestações no programa dos Gatos Fedorentos em que Paulo Portas esteve francamente bem. Surgiu descontraído, revelou sentido de humor e respondeu bastante bem às “provocações” do Ricardo Araújo Pereira, enquanto que Francisco Louça ficou mais uma vez abaixo das expectativas, o que pareceu resultar não apenas de uma questão de personalidade, mas, principalmente, da dificuldade em encontrar um equilíbrio entre a captação do voto de protesto e a construção da imagem de um partido capaz de responsavelmente influenciar a definição das políticas governativas.
PS: Vi agora os resultados da Eurosondagem (realizada entre 13 e 16 de Setembro) na qual embora a vantagem do PS seja mais pequena (3,3 pontos percentuais) confirma a subida do PS.
Perante estes dados, naturalmente, que uma das hipóteses é a de que a minha análise anterior estar simplesmente errada.
Salientaria, no entanto, que o trabalho de campo da sondagem foi feito entre 11 e 14 de Setembro iniciando-se pois antes do fim dos debates e decorrendo antes do período em que, em minha opinião, a campanha do PSD pareceu evidenciar uma maior dinâmica.
Além disso, analisando os dados da sondagem da UCP é possível constatar alguns elementos interessantes. Em primeiro lugar que apenas 64% dizem já ter tomado a sua decisão enquanto que 30% admite mudar de ideias, sendo a percentagem particularmente elevada no BE (29%). Mesmo descontando o facto de que muitos poderão optar por se abster (23% dos indecisos dizem não saber se irão votar e 18% afirmam que em principio irão votar) e que outros já poderão, de facto, ter tomado a sua decisão isso significa que o resultado está em aberto.
Também é curioso que uma elevada percentagem dos inquiridos (cerca de 40%) diga que nos últimos dias tinha alterado a sua opinião quer em relação a José Sócrates quer em relação a Manuela Ferreira Leite. Sendo que 13% dos indecisos responderam que a sua opinião em relação a José Sócrates era agora melhor (9% no caso de Ferreira Leite) e 24% que a sua opinião piorou (20% no caso de Ferreira Leite).
Os mesmos indecisos quando questionados sobre se seria melhor uma vitória do PS ou o PSD consideraram melhor uma vitória do PS nas áreas da Educação (20% PS-13% PSD), Saúde (21%-10%) e Combate à pobreza (20%-9%). Enquanto que o PSD apresenta uma ligeira vantagem no caso do Emprego (11%-15%) e nas restantes áreas a diferença não é significativa: Economia (17%-14%), Justiça (12%-13%), Segurança (12%-13%) e Finanças Públicas (14%-15%). Sendo de assinalar, em todas estas questões, a elevada percentagem dos que consideram que seria indiferente (entre 37% e 45%) ou dizem não saber quem faria melhor (entre 28% e 34%).
A favor do PS o facto de 20% dos indecisos indicar simpatia pelo PS (contra 11% para o PSD) embora seja de assinalar que 54% afirmam não ter simpatia partidária e 7% não saberem/responderem.
Quanto aos últimos acontecimentos da campanha, o PSD teve um dia francamente negativo marcado pelas revelações relativas à compra de votos na distrital de Lisboa, estando a pagar um preço elevado pela decisão incompreensível de incluir António Preto e Helena da Costa nas listas de candidatos a deputados.
Enquanto isso, o PS prosseguiu a sua aposta no tema TGV que utilizou na viagem em TGV entre Paris e Bruxelas defendeu que Portugal “deve investir nas infra-estruturas que nos ligam aos mercados do centro da Europa” e associou a não construção desta infra-estrutura a uma situação de “isolamento económico”. Além do facto de a contribuição do TGV para a ligação aos “mercados (?) no centro da Europa (?)” ser uma ilusão. É que Paris situa-se a 300 km de Bruxelas (o que significa um percurso de cerca de 1h20) e a 500 km de Amesterdão ou Colónia, enquanto que a distância entre Lisboa e Madrid é superior a 600 km, e a distância entre Lisboa e Paris (a segunda capital europeia mais próxima de Lisboa) é de 1.750 km (o que significa um tempo de viagem nunca inferior a 7 horas, enquanto que de avião o mesmo percurso é realizado em cerca de 2 horas). É certo que poderia ser importante ter uma boa ligação ferroviária ao centro da Europa para transporte de mercadorias, mas isso é outra questão, sendo, aliás, muito discutível que essa ligação devesse passar por Madrid.
Finalmente, uma referência às prestações no programa dos Gatos Fedorentos em que Paulo Portas esteve francamente bem. Surgiu descontraído, revelou sentido de humor e respondeu bastante bem às “provocações” do Ricardo Araújo Pereira, enquanto que Francisco Louça ficou mais uma vez abaixo das expectativas, o que pareceu resultar não apenas de uma questão de personalidade, mas, principalmente, da dificuldade em encontrar um equilíbrio entre a captação do voto de protesto e a construção da imagem de um partido capaz de responsavelmente influenciar a definição das políticas governativas.
PS: Vi agora os resultados da Eurosondagem (realizada entre 13 e 16 de Setembro) na qual embora a vantagem do PS seja mais pequena (3,3 pontos percentuais) confirma a subida do PS.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Notas sobre a campanha eleitoral
Com o (re)surgimento de casos polémicos de natureza pessoal e ou da vida interna partidária a campanha eleitoral parece estar a resvalar para um tom demasiado crispado. Tal fenómeno, embora sempre lamentável, é no entanto característico dos períodos de campanha eleitoral, principalmente quando estas são bastante disputadas, pelo que não julgo que mereça ou deva ser dramatizado.
O facto mais evidente dos últimos dias de campanha parecem-me ser as dificuldades que o PS e José Sócrates têm vindo a evidenciar nos últimos dias da campanha em que o PSD parece estar a conseguir começar a criar uma dinâmica positiva que pode ser decisiva para o resultado eleitoral.
Curiosamente, uma das razões parece ser resultado de uma aposta da campanha do PS numa aparentemente excessiva personalização da campanha nos líderes partidários. Esta estratégia terá visado tirar partido da vantagem em termos de imagem que todas as sondagens atribuíam a José Sócrates mas a verdade é que implicava a assunção de um risco importante na medida em que o actual primeiro-ministro tende a polarizar opiniões (gerando em igual grau “ódios” e “simpatias”) limitando a eficácia da estratégia de “suavização” da imagem do primeiro-ministro que sinceramente me parece que, pelo menos, necessitaria de mais tempo para funcionar.
O contraste entre o primeiro-ministro “animal feroz” e o primeiro-ministro “bonzinho” foi demasiado abrupto e soa artificial pelas dificuldades que revela em encarnar a nova personagem (de que a desastrosa entrevista à Antena 1 é um exemplo paradigmático).
Contrariamente, Manuela Ferreira Leite tem denotado um comportamento positivo, tirando claros proveitos de uma imagem de autenticidade e despida de “mabalarismos” em que paradoxalmente até as gaffes/lapsos não a penalizam fortemente (ou até a beneficiam dando-lhe uma imagem mais humanizada) e tem vindo aparentemente a ganhar em confiança e consistência (ouça-se a sua entrevista à Antena 1, a sua presença nos Gatos Fedorentos ou as suas acções de rua).
Dir-se-á, com razão, que se tratam de aspectos meramente formais que pouco (ou nada) tem a ver com os programas e propostas para o país, mas o certo é que numa campanha bastante disputada e foi, de algum modo, o PS quem, acreditando que daí retiraria vantagem, procurou forçar essa personalização da campanha.
Outro erro que, quanto a mim, foi cometido pelo PS foi o deixar que o debate se centrasse excessivamente nos "defeitos" dos programas e propostas dos outros partidos. A ideia era claramente “empurrar” os adversários (BE e PSD) para as franjas captando voto no centro e surgindo como única alternativa responsável. Numa primeira fase esta estratégia, que nunca funcionou muito bem face ao PSD, resultou bem relativamente ao BE mas a verdade é que os seus efeitos parecem estar a esgotar-se, não só porque o BE se tem vindo lentamente a recompor desses “ataques”, mas, sobretudo, porque a obtenção plena dos efeitos à esquerda exigia que o PS tivesse a capacidade de marcar de diferenças entre o PS e o PSD que permitissem uma dramatização da campanha e levassem a uma polarização do eleitorado.
O PS tem procurado obter essa dramatização através do debate sobre o TGV o que me parece uma má opção. É que mesmo admitindo que a maioria do eleitorado seja favorável à construção do TGV, as eleições não vão ser um referendo sobre o TGV e para a vasta maioria do eleitorado a definição do seu sentido de voto irá ser pouco ou nada influenciada por este tema (e muito menos pelo tema das relações luso-espanholas que ninguém acreditará seriamente poderem estar em causa).
É certo que o PS tem tentado utilizar o TGV como um símbolo de uma diferença política mais profunda, mas se quiser ganhar estas eleições (o que parece estar a tornar-se cada vez mais difícil) sem ficar dependente de erros do adversário o PS terá de fazer mais. Terá de ser capaz de apresentar as suas propostas para a próxima legislatura e convencer o eleitorado de que, para além do TGV, existem outras áreas (economia, desemprego e justiça) em que diverge do PSD e para as quais tem propostas melhores.
O facto mais evidente dos últimos dias de campanha parecem-me ser as dificuldades que o PS e José Sócrates têm vindo a evidenciar nos últimos dias da campanha em que o PSD parece estar a conseguir começar a criar uma dinâmica positiva que pode ser decisiva para o resultado eleitoral.
Curiosamente, uma das razões parece ser resultado de uma aposta da campanha do PS numa aparentemente excessiva personalização da campanha nos líderes partidários. Esta estratégia terá visado tirar partido da vantagem em termos de imagem que todas as sondagens atribuíam a José Sócrates mas a verdade é que implicava a assunção de um risco importante na medida em que o actual primeiro-ministro tende a polarizar opiniões (gerando em igual grau “ódios” e “simpatias”) limitando a eficácia da estratégia de “suavização” da imagem do primeiro-ministro que sinceramente me parece que, pelo menos, necessitaria de mais tempo para funcionar.
O contraste entre o primeiro-ministro “animal feroz” e o primeiro-ministro “bonzinho” foi demasiado abrupto e soa artificial pelas dificuldades que revela em encarnar a nova personagem (de que a desastrosa entrevista à Antena 1 é um exemplo paradigmático).
Contrariamente, Manuela Ferreira Leite tem denotado um comportamento positivo, tirando claros proveitos de uma imagem de autenticidade e despida de “mabalarismos” em que paradoxalmente até as gaffes/lapsos não a penalizam fortemente (ou até a beneficiam dando-lhe uma imagem mais humanizada) e tem vindo aparentemente a ganhar em confiança e consistência (ouça-se a sua entrevista à Antena 1, a sua presença nos Gatos Fedorentos ou as suas acções de rua).
Dir-se-á, com razão, que se tratam de aspectos meramente formais que pouco (ou nada) tem a ver com os programas e propostas para o país, mas o certo é que numa campanha bastante disputada e foi, de algum modo, o PS quem, acreditando que daí retiraria vantagem, procurou forçar essa personalização da campanha.
Outro erro que, quanto a mim, foi cometido pelo PS foi o deixar que o debate se centrasse excessivamente nos "defeitos" dos programas e propostas dos outros partidos. A ideia era claramente “empurrar” os adversários (BE e PSD) para as franjas captando voto no centro e surgindo como única alternativa responsável. Numa primeira fase esta estratégia, que nunca funcionou muito bem face ao PSD, resultou bem relativamente ao BE mas a verdade é que os seus efeitos parecem estar a esgotar-se, não só porque o BE se tem vindo lentamente a recompor desses “ataques”, mas, sobretudo, porque a obtenção plena dos efeitos à esquerda exigia que o PS tivesse a capacidade de marcar de diferenças entre o PS e o PSD que permitissem uma dramatização da campanha e levassem a uma polarização do eleitorado.
O PS tem procurado obter essa dramatização através do debate sobre o TGV o que me parece uma má opção. É que mesmo admitindo que a maioria do eleitorado seja favorável à construção do TGV, as eleições não vão ser um referendo sobre o TGV e para a vasta maioria do eleitorado a definição do seu sentido de voto irá ser pouco ou nada influenciada por este tema (e muito menos pelo tema das relações luso-espanholas que ninguém acreditará seriamente poderem estar em causa).
É certo que o PS tem tentado utilizar o TGV como um símbolo de uma diferença política mais profunda, mas se quiser ganhar estas eleições (o que parece estar a tornar-se cada vez mais difícil) sem ficar dependente de erros do adversário o PS terá de fazer mais. Terá de ser capaz de apresentar as suas propostas para a próxima legislatura e convencer o eleitorado de que, para além do TGV, existem outras áreas (economia, desemprego e justiça) em que diverge do PSD e para as quais tem propostas melhores.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Esmiuçando o segundo programa dos Gatos Fedorentos
Ontem apenas tinha visto o programa a partir do final da primeira parte e por isso devo dizer que não fiz inteiramente justiça ao programa que apenas ontem pude visualizar aqui. É que a primeira parte dos dois programas foi muito boa, ao nível mesmo do melhor que se vê no Daily Show.
Quanto à entrevista com Manuela Ferreira Leite, confirmou-se a qualidade das perguntas, genial aquela em que Ricardo Araujo Pereira pergunta se acha que os pais se devem divorciar por não procriarem desde 1974, a que Manuela Ferreira Leite conseguiu sair-se muito bem arrancando-lhe mesmo um "É possível que a Sra.Drª, neste momento, tenha ganho os votos dos meus pais". Manuela Ferreira Leite adoptou uma atituide mais formal do que Sócrates, mas simultaneamente pareceu menos artificial, tendo respondido muito bem às perguntas (nesse particular pareceu-me melhor do que Sócrates).
Do ponto de vista político, foi particularmente interessante a resposta de Manuela Ferreira Leite "estou a pressentir em quem não vota" em que ficou claro que tem plena consciência da importância de ser o partido mais votado e que isso depende, em muito, dos votos que os dois partidos percam à direita e à esquerda.
Quanto à entrevista com Manuela Ferreira Leite, confirmou-se a qualidade das perguntas, genial aquela em que Ricardo Araujo Pereira pergunta se acha que os pais se devem divorciar por não procriarem desde 1974, a que Manuela Ferreira Leite conseguiu sair-se muito bem arrancando-lhe mesmo um "É possível que a Sra.Drª, neste momento, tenha ganho os votos dos meus pais". Manuela Ferreira Leite adoptou uma atituide mais formal do que Sócrates, mas simultaneamente pareceu menos artificial, tendo respondido muito bem às perguntas (nesse particular pareceu-me melhor do que Sócrates).
Do ponto de vista político, foi particularmente interessante a resposta de Manuela Ferreira Leite "estou a pressentir em quem não vota" em que ficou claro que tem plena consciência da importância de ser o partido mais votado e que isso depende, em muito, dos votos que os dois partidos percam à direita e à esquerda.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Esmiuçando o programa dos Gatos Fedorentos
Não é o Daily Show do Jon Stewart que muito aprecio mas gostei sinceramente do programa e da entrevista do Ricardo Araújo Pereira a José Sócrates. As perguntas eram quase geniais (especialmente a última), tendo faltado apenas uma maior desenvoltura na forma como eram colocadas e a habilidade de Jon Stewart para “agarrar” as respostas do convidado para dar maior ritmo e naturalidade à entrevista.
Na entrevista de ontem,José Sócrates esteve bastante bem principalmente quando respondeu de forma mais formal (embora não tão bem nas vezes em que tentou responder num tom mais humorístico, ocasiões em que pareceu demasiado hirto), tendo sido particularmente interessante a sua resposta à questão sobre os outros líderes europeus e, em especial, a surpreendente revelação da sua admiração por Sarkozy.
É que apesar de Sarkozy ter em comum com Sócrates o gostar de apresentar-se como um modernizador e um desportista (é igualmente um praticante de jogging) nada me levaria, à partida, a supor existir essa admiração.
Sarkozy é um político de direita que enquanto foi Ministro do Interior advogou uma política musculada de defesa da “lei e da ordem” (foi famosa a sua referência à “canalha” feita antes dos conflitos nos subúrbios ocorridos em 2005) e foi responsável pela redução dos direitos dos emigrantes (políticas que mereceram muitas críticas da esquerda que o comparou a Le Pen, e que fariam Paulo Portas parecer um candidato moderado), sendo conhecida a sua oposição à entrada da Turquia na União Europeia.
Em termos de política económica, Sarkozy tem por diversas vezes manifestado uma posição negligente em relação às finanças públicas e promovido uma política fiscal que reduz as taxas máximas de tributação e aprovado medidas que reduziram a protecção social aos desempregados . Ainda em termos económicos Sarkozy é instintivamente um defensor do proteccionismo e tende a adoptar uma atitude dirigista com ingerência directa do Estado nos negócios privados procurando promover “campeões nacionais” (o que curiosamente Manuela Ferreira Leite tem “acusado” Sócrates de fazer).
Além disso, Sarkozy é geralmente considerado como um hiper-activo (o que não é propriamente um elogio), de ter um comportamento narcisista e de possuir uma verdadeira obsessão com a sua imagem. Tendo adoptado um estilo de vida caracterizado por um elevado grau de exposição da sua vida privada.
Seria pois curioso que Sócrates tivesse explanado um pouco mais sobre as razões da sua admiração por Sarkozy.
Na entrevista de ontem,José Sócrates esteve bastante bem principalmente quando respondeu de forma mais formal (embora não tão bem nas vezes em que tentou responder num tom mais humorístico, ocasiões em que pareceu demasiado hirto), tendo sido particularmente interessante a sua resposta à questão sobre os outros líderes europeus e, em especial, a surpreendente revelação da sua admiração por Sarkozy.
É que apesar de Sarkozy ter em comum com Sócrates o gostar de apresentar-se como um modernizador e um desportista (é igualmente um praticante de jogging) nada me levaria, à partida, a supor existir essa admiração.
Sarkozy é um político de direita que enquanto foi Ministro do Interior advogou uma política musculada de defesa da “lei e da ordem” (foi famosa a sua referência à “canalha” feita antes dos conflitos nos subúrbios ocorridos em 2005) e foi responsável pela redução dos direitos dos emigrantes (políticas que mereceram muitas críticas da esquerda que o comparou a Le Pen, e que fariam Paulo Portas parecer um candidato moderado), sendo conhecida a sua oposição à entrada da Turquia na União Europeia.
Em termos de política económica, Sarkozy tem por diversas vezes manifestado uma posição negligente em relação às finanças públicas e promovido uma política fiscal que reduz as taxas máximas de tributação e aprovado medidas que reduziram a protecção social aos desempregados . Ainda em termos económicos Sarkozy é instintivamente um defensor do proteccionismo e tende a adoptar uma atitude dirigista com ingerência directa do Estado nos negócios privados procurando promover “campeões nacionais” (o que curiosamente Manuela Ferreira Leite tem “acusado” Sócrates de fazer).
Além disso, Sarkozy é geralmente considerado como um hiper-activo (o que não é propriamente um elogio), de ter um comportamento narcisista e de possuir uma verdadeira obsessão com a sua imagem. Tendo adoptado um estilo de vida caracterizado por um elevado grau de exposição da sua vida privada.
Seria pois curioso que Sócrates tivesse explanado um pouco mais sobre as razões da sua admiração por Sarkozy.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
O TGV e Espanha
No decorrer do debate entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates pareceu-me que a referência a Espanha quanto ao TGV tinha sido um erro, pois afirmar que a decisão sobre o TGV deve ser tomada com base no interesse português pareceu-me afirmar o óbvio e simultaneamente a dar azo a acusações de partilhar de uma visão isolacionista e anti-espanhola, desviando a questão de uma discussão quanto aos méritos e deméritos do projecto para a questão das relações Portugal-Espanha.
Fiquei, no entanto, surpreendido que, segundo o DN, José Sócrates em tivesse vindo dizer que Ferreira Leite tinha acusado o Governo e ele próprio de estarem a “soldo dos espanhóis”, o que corresponde a uma desvirtuação do que Manuela Ferreira Leite que, no debate concretizou que as suas críticas se dirigiram a autarcas da região fronteiriça, numa estratégia de vitimização da qual não penso que dificilmente poderá retirar quaisquer proventos eleitorais.
E fiquei, ainda, mais surpreendido pelas declarações que vi hoje atribuídas a responsáveis governamentais e regionais espanhóis, que podem facilmente interpretados como pressões e assim acabaram, objectivamente, por fazer um favor ao PSD, justificando, a posteriori, as declarações da Dra. Manuela Ferreira Leite e permitindo-lhe surgir como defensora dos interesses nacionais.
Fiquei, no entanto, surpreendido que, segundo o DN, José Sócrates em tivesse vindo dizer que Ferreira Leite tinha acusado o Governo e ele próprio de estarem a “soldo dos espanhóis”, o que corresponde a uma desvirtuação do que Manuela Ferreira Leite que, no debate concretizou que as suas críticas se dirigiram a autarcas da região fronteiriça, numa estratégia de vitimização da qual não penso que dificilmente poderá retirar quaisquer proventos eleitorais.
E fiquei, ainda, mais surpreendido pelas declarações que vi hoje atribuídas a responsáveis governamentais e regionais espanhóis, que podem facilmente interpretados como pressões e assim acabaram, objectivamente, por fazer um favor ao PSD, justificando, a posteriori, as declarações da Dra. Manuela Ferreira Leite e permitindo-lhe surgir como defensora dos interesses nacionais.
domingo, 13 de setembro de 2009
Quem "venceu" os debates ?
Definir vencedores de debates políticos é um exercício que sempre me colocou diversos problemas. Como revela uma leitura dos comentários ao debate, salvo uma catástrofe, os "fiéis" de cada um dos candidatos tendem a identificar-se com as propostas e posições do candidato que a priori já preferiam, sendo muito dificil que um debate os leve a mudar de candidato. Sendo, por isso, é natural que os candidatos vencedores de um debate sejam aqueles que já à partida dispunham de mais apoio e provavelmente os comentários aos debates dizem-nos muito mais sobre quem os comentadores já previamente apoiavam do que sobre o "resultado" do debate em si. Sou, também, relativamente incrédulo quanto à possibilidade de um debate ser, só por si, ser suficiente para definir a posição dos eleitores indecisos.
Neste contexto, além de evitar erros e procurarem passar uma boa imagem que facilite a identificação do eleitorado e a adesão ao seu programa, os debates servem sobretudo para definir um posicionamento político permitindo-lhes apresentar directamente a um eleitorado mais vasto as suas propostas.
E obviamente, candidatos diferentes podem ter objectivos diferentes. Feito este intróito, parece-me que, considerando os cinco debates a que assisti, num certo sentido, Paulo Portas terá sido o principal "vencedor". Não por ter "impressionado" a maioria do eleitorado (não era esse o objectivo), mas porque soube aproveitar bem a possibilidade para fazer passar um conjunto de mensagens dirigidas a um eleitorado de direita e conservador em matéria de política de rendimentos, fiscalidade e segurança, aproveitando bem o posicionamento centro e à esquerda do espectro político adoptado pelos restantes candidatos dos maiores partidos.
Inversamente, Francisco Louçã terá sido o maior "derrotado" porque não conseguiu evitar que o programa BE ficasse associado a uma imagem de uma certa utopia/radicalismo, afectando a sua imagem de parceiro num eventual Governo de esquerda e consequentemente dificultando a sua expansão no eleitorado situado mais ao centro.
Só por isso, Jerónimo de Sousa ganhou pois resultou a imagem de que o programa do PCP mais consistente do que o do BE o que não sendo suficiente para uma expansão significativa é importante para estancar um temido esvaziamento da votação no PCP.
Quanto aos dois partidos do centro, José Sócrates conseguiu parcialmente aquilo que era um dos seus objectivos: ocupar o centro político ganhando votos à esquerda e à direita através da demonstração do radicalismo das propostas dos adversários. O que resultou à esquerda, nomeadamente face ao BE, mas, pelo menos não tão bem, face ao PSD. Conseguiu ainda, com algum sucesso, esbater a imagem de uma certa arrogância e autoristarismo que lhe era muitas vezes associada. Julgo, ainda, que se tratou de uma estratégia bem delineada e adequada ao perfil do candidato mas que teve a desvantagem de desvalorizar o programa do PS para a próxima legislatura. Foi algo estrando que o programa do BE, do CDS e do PSD tivessem sido bastante mais discutidos do que o do PS. Além disso, mas aí é uma questão de estilo e talvez seja precondeito meu devo dizer que não gostei da forma como sistematicamente utilizou (e abusou) da técnica de atribuir declarações, afirmações e decisões aos outros candidatos. Não digo que seja uma técnica que por vezes não se justifique (e que não possa ser eficaz) mas, além de pessoalmente não apreciar esse estilo a verdade é que me soou sempre como demasiado forçado e artificial.
Finalmente, Manuela Ferreira Leite tomou claramente a opção de descobrir o flanco direito (oferencendo-o a Paulo Portas) fazendo um esforço titânico para que José Sócrates não ocupasse o centro político. Daí, talvez, que o debate que me pareceu que lhe correu pior foi o debate com Paulo Portas, em que, julgo que bem, optou por defender a sua posição ao centro em vez de disputar com o CDS o eleitorado mais conservador. Talvez por isso, e pela estratégia adoptada pelo PS e José Sócrates, passou uma parte importante dos debates a defender-se de acusações de pretender "destruir" o Estado social, conseguindo ainda assim marcar algumas diferenças face ao PS. Foi uma opção que teve alguns custos mas que me pareceu em que conseguiu o seu objectivo de frustrar a estratégia do PS (o que ironicamente pode beneficiar o BE ao evitar o sentimento de polarização à esquerda para defender o país da ofensiva neo-liberal, permitindo a este partido capitalizar o voto de protesto). Manuela Ferreira Leite teve, no entanto, um problema ao longo dos debates que tem sido aproveitado pelos adversários que se prende com alguma "incoerência" resultante das suas posições face à Madeira e às listas para deputados, questões que em si são relativamente laterais mas que desgastam a sua imagem de seriedade e credibilidade.
Neste contexto, além de evitar erros e procurarem passar uma boa imagem que facilite a identificação do eleitorado e a adesão ao seu programa, os debates servem sobretudo para definir um posicionamento político permitindo-lhes apresentar directamente a um eleitorado mais vasto as suas propostas.
E obviamente, candidatos diferentes podem ter objectivos diferentes. Feito este intróito, parece-me que, considerando os cinco debates a que assisti, num certo sentido, Paulo Portas terá sido o principal "vencedor". Não por ter "impressionado" a maioria do eleitorado (não era esse o objectivo), mas porque soube aproveitar bem a possibilidade para fazer passar um conjunto de mensagens dirigidas a um eleitorado de direita e conservador em matéria de política de rendimentos, fiscalidade e segurança, aproveitando bem o posicionamento centro e à esquerda do espectro político adoptado pelos restantes candidatos dos maiores partidos.
Inversamente, Francisco Louçã terá sido o maior "derrotado" porque não conseguiu evitar que o programa BE ficasse associado a uma imagem de uma certa utopia/radicalismo, afectando a sua imagem de parceiro num eventual Governo de esquerda e consequentemente dificultando a sua expansão no eleitorado situado mais ao centro.
Só por isso, Jerónimo de Sousa ganhou pois resultou a imagem de que o programa do PCP mais consistente do que o do BE o que não sendo suficiente para uma expansão significativa é importante para estancar um temido esvaziamento da votação no PCP.
Quanto aos dois partidos do centro, José Sócrates conseguiu parcialmente aquilo que era um dos seus objectivos: ocupar o centro político ganhando votos à esquerda e à direita através da demonstração do radicalismo das propostas dos adversários. O que resultou à esquerda, nomeadamente face ao BE, mas, pelo menos não tão bem, face ao PSD. Conseguiu ainda, com algum sucesso, esbater a imagem de uma certa arrogância e autoristarismo que lhe era muitas vezes associada. Julgo, ainda, que se tratou de uma estratégia bem delineada e adequada ao perfil do candidato mas que teve a desvantagem de desvalorizar o programa do PS para a próxima legislatura. Foi algo estrando que o programa do BE, do CDS e do PSD tivessem sido bastante mais discutidos do que o do PS. Além disso, mas aí é uma questão de estilo e talvez seja precondeito meu devo dizer que não gostei da forma como sistematicamente utilizou (e abusou) da técnica de atribuir declarações, afirmações e decisões aos outros candidatos. Não digo que seja uma técnica que por vezes não se justifique (e que não possa ser eficaz) mas, além de pessoalmente não apreciar esse estilo a verdade é que me soou sempre como demasiado forçado e artificial.
Finalmente, Manuela Ferreira Leite tomou claramente a opção de descobrir o flanco direito (oferencendo-o a Paulo Portas) fazendo um esforço titânico para que José Sócrates não ocupasse o centro político. Daí, talvez, que o debate que me pareceu que lhe correu pior foi o debate com Paulo Portas, em que, julgo que bem, optou por defender a sua posição ao centro em vez de disputar com o CDS o eleitorado mais conservador. Talvez por isso, e pela estratégia adoptada pelo PS e José Sócrates, passou uma parte importante dos debates a defender-se de acusações de pretender "destruir" o Estado social, conseguindo ainda assim marcar algumas diferenças face ao PS. Foi uma opção que teve alguns custos mas que me pareceu em que conseguiu o seu objectivo de frustrar a estratégia do PS (o que ironicamente pode beneficiar o BE ao evitar o sentimento de polarização à esquerda para defender o país da ofensiva neo-liberal, permitindo a este partido capitalizar o voto de protesto). Manuela Ferreira Leite teve, no entanto, um problema ao longo dos debates que tem sido aproveitado pelos adversários que se prende com alguma "incoerência" resultante das suas posições face à Madeira e às listas para deputados, questões que em si são relativamente laterais mas que desgastam a sua imagem de seriedade e credibilidade.
sábado, 12 de setembro de 2009
Debate José Socrates - Manuela Ferreira Leite
Era o debate mais aguardado e importante porque claramente um dos dois será o primeiro-ministro do próximo Governo. Consciente deste facto Sócrates, como sempre bem preparado, optou por uma atitude claramente de ataque e talvez por isso, curiosamente, o debate centrou-se mais no que Manuela Ferreira Leite disse ou fez e no programa do PSD enquanto, àparte a questão do TGV, as propostas do PS para a próxima legislatura estiveram quase ausentes do debate.
Neste debate, José Sócrates procurou três coisas: i) afastar Manuela Ferreira Leite do centro político, utilizando questões como a segurança social, saúde e educação; ii) desgastar a imagem de credibilidade de Manuela Ferreira Leite, elencando alguns temas em que ela terá alterado a sua posição e tentando, mesmo, colar-lhe uma imgem de "oportunismo político" e iii) à semelhança do que tinha feito no debate com Francisco Louçã trazer para o debate uma questão - no caso as SCUT's - sensível para determinadas franjas do eleitorado e que coloque o adversário numa posição incómoda.
O primeiro objectivo pareceu-me francamente pouco conseguido, pela forma convincente e categórica como Manuela Ferreira Leite desmentiu categoricamente não ter as intenções que José Sócrates lhe atribuiu.
Quanto ao segundo onbjectivo, José Sócrates aproveitou inteligentemente a inclusão de Jardim como cabeça de lista fazendo Manuela Ferreira Leite, situação relativamente à qual ela respondeu utilizando um argumento (o facto de que o cargo de Presidente do Governo Regional não é electivo) no qual deu a sensacção de que nem ela própria acredita, e as alterações de posição de Manuela Ferreira Leite quanto ao TGV, ponto em que me pareceu que ela se defendeu melhor insistindo na alteração de circunstâncias, tal como também se defendeu bem no que se refere ao IMI e ao Pagamento Especial por Conta.
No que se refere às SCUT's Sócrates procurou transmitir implicitamente a ideia de que Manuela Ferreira Leite defende a criação de portagens nas SCUT's, o que esta não desmentiu, tendo chamado a atenção para a dimensão dos encargos assumidos com as SCUT's cuja dimensão perguntou a José Sócrates se conhecia, sem que este tivesse igualmente respondido tal como também não respondeu convincentemente quando Manuela Ferreira Leite o questionou quanto a não assumir o impacto das alterações da Segurança Social sobre o montante das pensões de reforma.
No global a estratégia de Sócrates permitiu-lhe dominar os temas do debate, mas a verdade é que, contrariamente ao que havia sucedido no debate com Francisco Louçã, Manuela Ferreira Leite defendeu-se geralmente bem (a principal excepção sendo o caso relativamente ,marginal da inclusão de João Jardim nas listas do PSD) e foi capaz de ir marcando alguns pontos quer afirmando as suas diferenças em termos de projecto, quer reafirmando a sua posição quanto ao Estado Social, quer ainda frisando as repsonsabilidades das políticas dos Governos PS na situação actual.
Duas notas marcaram a parte final do debate, a resposta de Sócrates a uma questão de Clara de Sousa quanto à recondução da Ministra da Educação em que admitiu implicitamente que Lurdes Rodrigues não seria Ministra da Educação num futuro Governo de Sócrates e a recusa categórica de Manuela Ferreira Leite da possibilidade de um Governo PS-PSD e a afirmação da sua disponibilidade para chefiar um Governo sem maioria absoluta na Assembleia da República.
Neste debate, José Sócrates procurou três coisas: i) afastar Manuela Ferreira Leite do centro político, utilizando questões como a segurança social, saúde e educação; ii) desgastar a imagem de credibilidade de Manuela Ferreira Leite, elencando alguns temas em que ela terá alterado a sua posição e tentando, mesmo, colar-lhe uma imgem de "oportunismo político" e iii) à semelhança do que tinha feito no debate com Francisco Louçã trazer para o debate uma questão - no caso as SCUT's - sensível para determinadas franjas do eleitorado e que coloque o adversário numa posição incómoda.
O primeiro objectivo pareceu-me francamente pouco conseguido, pela forma convincente e categórica como Manuela Ferreira Leite desmentiu categoricamente não ter as intenções que José Sócrates lhe atribuiu.
Quanto ao segundo onbjectivo, José Sócrates aproveitou inteligentemente a inclusão de Jardim como cabeça de lista fazendo Manuela Ferreira Leite, situação relativamente à qual ela respondeu utilizando um argumento (o facto de que o cargo de Presidente do Governo Regional não é electivo) no qual deu a sensacção de que nem ela própria acredita, e as alterações de posição de Manuela Ferreira Leite quanto ao TGV, ponto em que me pareceu que ela se defendeu melhor insistindo na alteração de circunstâncias, tal como também se defendeu bem no que se refere ao IMI e ao Pagamento Especial por Conta.
No que se refere às SCUT's Sócrates procurou transmitir implicitamente a ideia de que Manuela Ferreira Leite defende a criação de portagens nas SCUT's, o que esta não desmentiu, tendo chamado a atenção para a dimensão dos encargos assumidos com as SCUT's cuja dimensão perguntou a José Sócrates se conhecia, sem que este tivesse igualmente respondido tal como também não respondeu convincentemente quando Manuela Ferreira Leite o questionou quanto a não assumir o impacto das alterações da Segurança Social sobre o montante das pensões de reforma.
No global a estratégia de Sócrates permitiu-lhe dominar os temas do debate, mas a verdade é que, contrariamente ao que havia sucedido no debate com Francisco Louçã, Manuela Ferreira Leite defendeu-se geralmente bem (a principal excepção sendo o caso relativamente ,marginal da inclusão de João Jardim nas listas do PSD) e foi capaz de ir marcando alguns pontos quer afirmando as suas diferenças em termos de projecto, quer reafirmando a sua posição quanto ao Estado Social, quer ainda frisando as repsonsabilidades das políticas dos Governos PS na situação actual.
Duas notas marcaram a parte final do debate, a resposta de Sócrates a uma questão de Clara de Sousa quanto à recondução da Ministra da Educação em que admitiu implicitamente que Lurdes Rodrigues não seria Ministra da Educação num futuro Governo de Sócrates e a recusa categórica de Manuela Ferreira Leite da possibilidade de um Governo PS-PSD e a afirmação da sua disponibilidade para chefiar um Governo sem maioria absoluta na Assembleia da República.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Debate Paulo Portas - Francisco Louçã
Este debate constituia à partida uma boa oportunidade para os dois candidatos, que obviamente se dirigem a fatias distintas do eleitorado, apresentarem as suas propostas. Foi o que me pareceu que ambos procuraram fazer mas Paulo Portas fez indubitavelmente melhor e de forma mais eficaz, tendo sido capaz de encontrar respostas adequadas nas áreas das políticas sociais e imigração, revelando um discurso já mais consolidado e que, em termos essenciais, deverá corresponder ao que irá utilizar durante a campanha eleitoral.
Quanto a Francisco Louçã passou, uma vez mais, uma imagem de que o programa do BE se centra demasiado nas propostas de nacionalizações no sector da energia agora reduzidas à (re)aquisição das parte da GALP detidas pela Amorim Energia, à recusa de privatização da REN e Águas de Portugal e pouco mais, parecendo estranhamente incomodado e incapaz de sustentar as suas propostas em matéria fiscal. Tendo, além disso, revelado algumas dificuldades em responder adequadamente a propósito das politicas sociais e à (mais dificil) questão das soluções de governabilidade.
Quanto a Francisco Louçã passou, uma vez mais, uma imagem de que o programa do BE se centra demasiado nas propostas de nacionalizações no sector da energia agora reduzidas à (re)aquisição das parte da GALP detidas pela Amorim Energia, à recusa de privatização da REN e Águas de Portugal e pouco mais, parecendo estranhamente incomodado e incapaz de sustentar as suas propostas em matéria fiscal. Tendo, além disso, revelado algumas dificuldades em responder adequadamente a propósito das politicas sociais e à (mais dificil) questão das soluções de governabilidade.
Debate Manuela Ferreira Leite – Paulo Portas
Dos três debates a que assisti foi certamente o mais vivo e interessante. Talvez um pouco favorecido pelos temas, Paulo Portas esteve particularmente eficaz conseguindo demarcar claramente diferenças entre as propostas dos partidos nos domínios da fiscalidade, prestações sociais e segurança, áreas em que não teve receio de defender de forma clara posições caras ao eleitorado situado mais à direita, sem que, contudo, deixar de ter o cuidado de realçar a sua disponibilidade para formar governo com o PSD. Enquanto que, pelo contrário, Manuela Ferreira Leite adoptou claramente a defesa de posições centristas quer em matéria social, afastando-se, nomeadamente, das posições do CDS quanto ao Rendimento Social de Inserção quer em matéria de segurança, tendo contudo revelado certa insegurança em algumas respostas (por exemplo, a propósito da compensação da proposta de descida das contribuições sociais) e resvalado para um tom mais crispado em certas situações.
Inteligentemente, Paulo Portas fez questão de afastar a possibilidade de acordo com o PS e deu claras indicações de que espera poder governar com o PSD neutralizando as tentativas esboçadas por Manuela Ferreira Leite de apelar ao voto útil de direita, e obtendo mesmo de Manuela Ferreira Leite sinais de que também ela deseja essa possibilidade.
Inteligentemente, Paulo Portas fez questão de afastar a possibilidade de acordo com o PS e deu claras indicações de que espera poder governar com o PSD neutralizando as tentativas esboçadas por Manuela Ferreira Leite de apelar ao voto útil de direita, e obtendo mesmo de Manuela Ferreira Leite sinais de que também ela deseja essa possibilidade.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Debate Manuela Ferreira Leite – Jerónimo de Sousa
Talvez ajudada pelo contraste com a patente falta de à-vontade de Jerónimo de Sousa, Manuela Ferreira Leite pareceu descontraída, embora, como está na moda dizer, assertiva, manifestando uma preocupação em afastar as acusações de radicalismo que lhe têm sido imputadas (principalmente) pelo PS como ficou patente sobretudo nas questões relativas ao emprego que elegeu como prioridade (mesmo que à custa de um aumento do défice) e quando afirmou não tencionar voltar a mexer no Código do Trabalho. O que acabou por conduzir a um, pelo menos aparente, esbatimento das diferenças entre os dois partidos tendo ficado no entanto vincadas as diferenças em matéria de política fiscal, recusando a proposta do PCP de aumento dos impostos sobre as “grandes empresas” considerando que a carga fiscal já é excessiva (cometendo, no entanto, um lapso ao trocar as taxas do IRC e do IRS) e defendeu a descida da taxa social única, e investimento público, área em que voltou a defender a “suspensão” do TGV argumentando que se trata de um projecto que não contribui para o emprego e que se traduziria em encargos que o país não se encontra em condições de suportar.
Para além da gaffe, Ferreira Leite teve ainda outro ponto menos positivo quando desvalorizou uma proposta do seu próprio programa (respeitante à avaliação dos juízes), o que não impediu contudo que para Ferreira Leite e o PSD tenha sido um bom ensaio para o debate com Sócrates.
Para além da gaffe, Ferreira Leite teve ainda outro ponto menos positivo quando desvalorizou uma proposta do seu próprio programa (respeitante à avaliação dos juízes), o que não impediu contudo que para Ferreira Leite e o PSD tenha sido um bom ensaio para o debate com Sócrates.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Debate Sócrates-Louçã
Por razões de disponibilidade, assisti ontem ao um primeiro debate desta campanha. E sinceramente fiquei desiludido quer com a moderação demasiado passiva quer com a prestação de ambos os candidatos. Ambos gastaram demasiado do seu tempo a atacar as medidas do adversário do que a apresentar os seus projectos e propostas. Ficou claro que a estratégia do PS consiste na recuperação do centro (o que é inteligente), tentando convencer o eleitorado de que quer BE e o PCP, à esquerda, quer o PSD e o PP, à direita, têm uma agenda radical, o que não embora no caso do PSD e do PP não corresponda à realidade é uma atitude tacticamente inteligente e que pode resultar e que justifica a atenção que os elementos do PS têm prestado aos programas dos partidos da oposição. Colocando esta estratégia em prática Sócrates elegeu dois temas: as propostas de nacionalizações do BE e a questão das deduções da educação e saúde no IRS, e a verdade é que conseguiu perturbar Louçã talvez apanhado desprevenido.
Foi, contudo, um debate fraco e que apesar de dominado por temas económicos ficámos (eu pelo menos fiquei) sem saber a estratégia de qualquer um dos dois candidatos propõe reequilibrar as contas públicas.
E talvez contra muitas expectativas foi um debate que decorreu no tom morno de uma campanha eleitoral que, pelo menos até agora, tem sido dominada por epifenómenos e da qual o eleitorado parece fundamentalmente alheado como revelam quer as fracas audiências dos debates até agora realizados (tem sido vistos por apenas cerca de 1 milhão de espectadores) quer a escassa mobilização “popular” nas iniciativas dos diversos partidos.
Foi, contudo, um debate fraco e que apesar de dominado por temas económicos ficámos (eu pelo menos fiquei) sem saber a estratégia de qualquer um dos dois candidatos propõe reequilibrar as contas públicas.
E talvez contra muitas expectativas foi um debate que decorreu no tom morno de uma campanha eleitoral que, pelo menos até agora, tem sido dominada por epifenómenos e da qual o eleitorado parece fundamentalmente alheado como revelam quer as fracas audiências dos debates até agora realizados (tem sido vistos por apenas cerca de 1 milhão de espectadores) quer a escassa mobilização “popular” nas iniciativas dos diversos partidos.
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