sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Notas sobre a campanha eleitoral (II)

Tenho de reconhecer que fiquei um pouco surpreendido com os resultados das últimas sondagens (Aximage e da UCP) que apontam para uma vantagem confortável do PS que rondará os 6 pontos percentuais. Surgindo como facto mais saliente face às sondagens anteriores a descida do PSD na sondagem da UCP (de 35% para 32%) o que curiosamente não ocorre na sondagem da Aximagem que na sondagem anterior já apontava para uma diferença de precisamente 6 pontos percentuais e na qual as variações são muito pequenas.

Perante estes dados, naturalmente, que uma das hipóteses é a de que a minha análise anterior estar simplesmente errada.

Salientaria, no entanto, que o trabalho de campo da sondagem foi feito entre 11 e 14 de Setembro iniciando-se pois antes do fim dos debates e decorrendo antes do período em que, em minha opinião, a campanha do PSD pareceu evidenciar uma maior dinâmica.

Além disso, analisando os dados da sondagem da UCP é possível constatar alguns elementos interessantes. Em primeiro lugar que apenas 64% dizem já ter tomado a sua decisão enquanto que 30% admite mudar de ideias, sendo a percentagem particularmente elevada no BE (29%). Mesmo descontando o facto de que muitos poderão optar por se abster (23% dos indecisos dizem não saber se irão votar e 18% afirmam que em principio irão votar) e que outros já poderão, de facto, ter tomado a sua decisão isso significa que o resultado está em aberto.

Também é curioso que uma elevada percentagem dos inquiridos (cerca de 40%) diga que nos últimos dias tinha alterado a sua opinião quer em relação a José Sócrates quer em relação a Manuela Ferreira Leite. Sendo que 13% dos indecisos responderam que a sua opinião em relação a José Sócrates era agora melhor (9% no caso de Ferreira Leite) e 24% que a sua opinião piorou (20% no caso de Ferreira Leite).

Os mesmos indecisos quando questionados sobre se seria melhor uma vitória do PS ou o PSD consideraram melhor uma vitória do PS nas áreas da Educação (20% PS-13% PSD), Saúde (21%-10%) e Combate à pobreza (20%-9%). Enquanto que o PSD apresenta uma ligeira vantagem no caso do Emprego (11%-15%) e nas restantes áreas a diferença não é significativa: Economia (17%-14%), Justiça (12%-13%), Segurança (12%-13%) e Finanças Públicas (14%-15%). Sendo de assinalar, em todas estas questões, a elevada percentagem dos que consideram que seria indiferente (entre 37% e 45%) ou dizem não saber quem faria melhor (entre 28% e 34%).

A favor do PS o facto de 20% dos indecisos indicar simpatia pelo PS (contra 11% para o PSD) embora seja de assinalar que 54% afirmam não ter simpatia partidária e 7% não saberem/responderem.

Quanto aos últimos acontecimentos da campanha, o PSD teve um dia francamente negativo marcado pelas revelações relativas à compra de votos na distrital de Lisboa, estando a pagar um preço elevado pela decisão incompreensível de incluir António Preto e Helena da Costa nas listas de candidatos a deputados.

Enquanto isso, o PS prosseguiu a sua aposta no tema TGV que utilizou na viagem em TGV entre Paris e Bruxelas defendeu que Portugal “deve investir nas infra-estruturas que nos ligam aos mercados do centro da Europa” e associou a não construção desta infra-estrutura a uma situação de “isolamento económico”. Além do facto de a contribuição do TGV para a ligação aos “mercados (?) no centro da Europa (?)” ser uma ilusão. É que Paris situa-se a 300 km de Bruxelas (o que significa um percurso de cerca de 1h20) e a 500 km de Amesterdão ou Colónia, enquanto que a distância entre Lisboa e Madrid é superior a 600 km, e a distância entre Lisboa e Paris (a segunda capital europeia mais próxima de Lisboa) é de 1.750 km (o que significa um tempo de viagem nunca inferior a 7 horas, enquanto que de avião o mesmo percurso é realizado em cerca de 2 horas). É certo que poderia ser importante ter uma boa ligação ferroviária ao centro da Europa para transporte de mercadorias, mas isso é outra questão, sendo, aliás, muito discutível que essa ligação devesse passar por Madrid.

Finalmente, uma referência às prestações no programa dos Gatos Fedorentos em que Paulo Portas esteve francamente bem. Surgiu descontraído, revelou sentido de humor e respondeu bastante bem às “provocações” do Ricardo Araújo Pereira, enquanto que Francisco Louça ficou mais uma vez abaixo das expectativas, o que pareceu resultar não apenas de uma questão de personalidade, mas, principalmente, da dificuldade em encontrar um equilíbrio entre a captação do voto de protesto e a construção da imagem de um partido capaz de responsavelmente influenciar a definição das políticas governativas.

PS: Vi agora os resultados da Eurosondagem (realizada entre 13 e 16 de Setembro) na qual embora a vantagem do PS seja mais pequena (3,3 pontos percentuais) confirma a subida do PS.

Sem comentários:

Enviar um comentário