Definir vencedores de debates políticos é um exercício que sempre me colocou diversos problemas. Como revela uma leitura dos comentários ao debate, salvo uma catástrofe, os "fiéis" de cada um dos candidatos tendem a identificar-se com as propostas e posições do candidato que a priori já preferiam, sendo muito dificil que um debate os leve a mudar de candidato. Sendo, por isso, é natural que os candidatos vencedores de um debate sejam aqueles que já à partida dispunham de mais apoio e provavelmente os comentários aos debates dizem-nos muito mais sobre quem os comentadores já previamente apoiavam do que sobre o "resultado" do debate em si. Sou, também, relativamente incrédulo quanto à possibilidade de um debate ser, só por si, ser suficiente para definir a posição dos eleitores indecisos.
Neste contexto, além de evitar erros e procurarem passar uma boa imagem que facilite a identificação do eleitorado e a adesão ao seu programa, os debates servem sobretudo para definir um posicionamento político permitindo-lhes apresentar directamente a um eleitorado mais vasto as suas propostas.
E obviamente, candidatos diferentes podem ter objectivos diferentes. Feito este intróito, parece-me que, considerando os cinco debates a que assisti, num certo sentido, Paulo Portas terá sido o principal "vencedor". Não por ter "impressionado" a maioria do eleitorado (não era esse o objectivo), mas porque soube aproveitar bem a possibilidade para fazer passar um conjunto de mensagens dirigidas a um eleitorado de direita e conservador em matéria de política de rendimentos, fiscalidade e segurança, aproveitando bem o posicionamento centro e à esquerda do espectro político adoptado pelos restantes candidatos dos maiores partidos.
Inversamente, Francisco Louçã terá sido o maior "derrotado" porque não conseguiu evitar que o programa BE ficasse associado a uma imagem de uma certa utopia/radicalismo, afectando a sua imagem de parceiro num eventual Governo de esquerda e consequentemente dificultando a sua expansão no eleitorado situado mais ao centro.
Só por isso, Jerónimo de Sousa ganhou pois resultou a imagem de que o programa do PCP mais consistente do que o do BE o que não sendo suficiente para uma expansão significativa é importante para estancar um temido esvaziamento da votação no PCP.
Quanto aos dois partidos do centro, José Sócrates conseguiu parcialmente aquilo que era um dos seus objectivos: ocupar o centro político ganhando votos à esquerda e à direita através da demonstração do radicalismo das propostas dos adversários. O que resultou à esquerda, nomeadamente face ao BE, mas, pelo menos não tão bem, face ao PSD. Conseguiu ainda, com algum sucesso, esbater a imagem de uma certa arrogância e autoristarismo que lhe era muitas vezes associada. Julgo, ainda, que se tratou de uma estratégia bem delineada e adequada ao perfil do candidato mas que teve a desvantagem de desvalorizar o programa do PS para a próxima legislatura. Foi algo estrando que o programa do BE, do CDS e do PSD tivessem sido bastante mais discutidos do que o do PS. Além disso, mas aí é uma questão de estilo e talvez seja precondeito meu devo dizer que não gostei da forma como sistematicamente utilizou (e abusou) da técnica de atribuir declarações, afirmações e decisões aos outros candidatos. Não digo que seja uma técnica que por vezes não se justifique (e que não possa ser eficaz) mas, além de pessoalmente não apreciar esse estilo a verdade é que me soou sempre como demasiado forçado e artificial.
Finalmente, Manuela Ferreira Leite tomou claramente a opção de descobrir o flanco direito (oferencendo-o a Paulo Portas) fazendo um esforço titânico para que José Sócrates não ocupasse o centro político. Daí, talvez, que o debate que me pareceu que lhe correu pior foi o debate com Paulo Portas, em que, julgo que bem, optou por defender a sua posição ao centro em vez de disputar com o CDS o eleitorado mais conservador. Talvez por isso, e pela estratégia adoptada pelo PS e José Sócrates, passou uma parte importante dos debates a defender-se de acusações de pretender "destruir" o Estado social, conseguindo ainda assim marcar algumas diferenças face ao PS. Foi uma opção que teve alguns custos mas que me pareceu em que conseguiu o seu objectivo de frustrar a estratégia do PS (o que ironicamente pode beneficiar o BE ao evitar o sentimento de polarização à esquerda para defender o país da ofensiva neo-liberal, permitindo a este partido capitalizar o voto de protesto). Manuela Ferreira Leite teve, no entanto, um problema ao longo dos debates que tem sido aproveitado pelos adversários que se prende com alguma "incoerência" resultante das suas posições face à Madeira e às listas para deputados, questões que em si são relativamente laterais mas que desgastam a sua imagem de seriedade e credibilidade.
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