Com o (re)surgimento de casos polémicos de natureza pessoal e ou da vida interna partidária a campanha eleitoral parece estar a resvalar para um tom demasiado crispado. Tal fenómeno, embora sempre lamentável, é no entanto característico dos períodos de campanha eleitoral, principalmente quando estas são bastante disputadas, pelo que não julgo que mereça ou deva ser dramatizado.
O facto mais evidente dos últimos dias de campanha parecem-me ser as dificuldades que o PS e José Sócrates têm vindo a evidenciar nos últimos dias da campanha em que o PSD parece estar a conseguir começar a criar uma dinâmica positiva que pode ser decisiva para o resultado eleitoral.
Curiosamente, uma das razões parece ser resultado de uma aposta da campanha do PS numa aparentemente excessiva personalização da campanha nos líderes partidários. Esta estratégia terá visado tirar partido da vantagem em termos de imagem que todas as sondagens atribuíam a José Sócrates mas a verdade é que implicava a assunção de um risco importante na medida em que o actual primeiro-ministro tende a polarizar opiniões (gerando em igual grau “ódios” e “simpatias”) limitando a eficácia da estratégia de “suavização” da imagem do primeiro-ministro que sinceramente me parece que, pelo menos, necessitaria de mais tempo para funcionar.
O contraste entre o primeiro-ministro “animal feroz” e o primeiro-ministro “bonzinho” foi demasiado abrupto e soa artificial pelas dificuldades que revela em encarnar a nova personagem (de que a desastrosa entrevista à Antena 1 é um exemplo paradigmático).
Contrariamente, Manuela Ferreira Leite tem denotado um comportamento positivo, tirando claros proveitos de uma imagem de autenticidade e despida de “mabalarismos” em que paradoxalmente até as gaffes/lapsos não a penalizam fortemente (ou até a beneficiam dando-lhe uma imagem mais humanizada) e tem vindo aparentemente a ganhar em confiança e consistência (ouça-se a sua entrevista à Antena 1, a sua presença nos Gatos Fedorentos ou as suas acções de rua).
Dir-se-á, com razão, que se tratam de aspectos meramente formais que pouco (ou nada) tem a ver com os programas e propostas para o país, mas o certo é que numa campanha bastante disputada e foi, de algum modo, o PS quem, acreditando que daí retiraria vantagem, procurou forçar essa personalização da campanha.
Outro erro que, quanto a mim, foi cometido pelo PS foi o deixar que o debate se centrasse excessivamente nos "defeitos" dos programas e propostas dos outros partidos. A ideia era claramente “empurrar” os adversários (BE e PSD) para as franjas captando voto no centro e surgindo como única alternativa responsável. Numa primeira fase esta estratégia, que nunca funcionou muito bem face ao PSD, resultou bem relativamente ao BE mas a verdade é que os seus efeitos parecem estar a esgotar-se, não só porque o BE se tem vindo lentamente a recompor desses “ataques”, mas, sobretudo, porque a obtenção plena dos efeitos à esquerda exigia que o PS tivesse a capacidade de marcar de diferenças entre o PS e o PSD que permitissem uma dramatização da campanha e levassem a uma polarização do eleitorado.
O PS tem procurado obter essa dramatização através do debate sobre o TGV o que me parece uma má opção. É que mesmo admitindo que a maioria do eleitorado seja favorável à construção do TGV, as eleições não vão ser um referendo sobre o TGV e para a vasta maioria do eleitorado a definição do seu sentido de voto irá ser pouco ou nada influenciada por este tema (e muito menos pelo tema das relações luso-espanholas que ninguém acreditará seriamente poderem estar em causa).
É certo que o PS tem tentado utilizar o TGV como um símbolo de uma diferença política mais profunda, mas se quiser ganhar estas eleições (o que parece estar a tornar-se cada vez mais difícil) sem ficar dependente de erros do adversário o PS terá de fazer mais. Terá de ser capaz de apresentar as suas propostas para a próxima legislatura e convencer o eleitorado de que, para além do TGV, existem outras áreas (economia, desemprego e justiça) em que diverge do PSD e para as quais tem propostas melhores.
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