sábado, 30 de abril de 2011

Enquanto quis Fortuna que tivesse - Camões

Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co'o tormento,
Para que seus enganos não dissesse

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades! Quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

Verdades puras são e não defeitos;
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.

PS: Poema referido pelo Pedro Mexia na sua entrevista ao suplemento Ipsilon da edição do Público da passada sexta-feira, cuja beleza confesso me tinha passado despercebida até hoje.

O bloco central

Muito se tem falado das indiscutíveis capacidades comunicacionais do actual primeiro-ministro, não menos importante, apesar de menos referenciada, é a sua maleabilidade táctica que lhe permite adaptar-se rapidamente às alterações do contexto político e mediático, que voltou a demonstrar na forma como se apressou a corrigir algum excesso de crispação e apresentar-se como um defensor do diálogo e do consenso que garanta a constituição de um governo estável após as eleições do próximo dia 5 de Junho.

Indo de encontro ao sentimento que se generalizou da necessidade de uma unidade nacional que corresponda ao grave momento económico e social potenciada por três receios. Em primeiro lugar, o receiro de que no próximo acto eleitoral não resulte  nenhuma maioria absoluta na assembleia da república (e.g. que o PSD e CDS não consigam obter mais de 50% dos deputados). Em segundo, o receio de que um PS afastado do Governo possa "radicalizar-se" à esquerda alimentando a conflitualidade social e sindical prejudicando ou mesmo tornando impossível a implementação das "reformas indispensáveis", surgindo a participação do PS como um factor moderador dessa conflitualidade. E, finalmente, o receio de que um Governo PSD (ou PSD+CDS) tenda a adoptar medidas demasiado "neo-liberais" que ponham em causa o Estado social, surgindo a participação do PS  no Governo como uma garantia de que tais intuitos seriam contidos.

O parece conduzir à conclusão de que a melhor solução para o país seria um Governo de bloco central PS+PSD eeventualmente com a participação do CDS ou, pelo menos, que pudesse contar com o apoio do PS nas matérias essenciais na Assembleia da República.

No entanto, mesmo ignorando as dificuldades em imaginar a adaptação do actual líder do PS - que sempre teve dificuldades em conviver com ministros independentes e/ou com peso político específico - às exigências de permanente negociação e espírito de compromisso inerentes a uma tal solução, a verdade é que um "bloco central" constituiria uma experiência certamente desgastante para ambos os partidos e, admitindo o envolvimento do CDS-PP, em especial para o PS que iria certamente enfrentar não só a ameaça dos partidos à sua esquerda como também dificuldades e divisões internas.

Pelo que um tal Governo constituiria sempre uma solução inerentemente frágil e instável, o que reforçaria as dificuldades e resistências naturais para tomar medidas impopulares.

PS: Recomendo a leitura da crónica que Vasco Pulido Valente publica no Público de hoje (transcrita aqui).

Irresistível

O FMI chegou há poucas semanas e Portugal já está mais parecido com a Finlandia (aqui no 31 da Armada).

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Road to Nowhere - Sem destino


É um filme estranho que não encaixa facilmente em nenhum género ou categoria, com cenas lentas e longos silêncios sublinhados pela poesia agreste do tema que dá túitulo ao filme e que se conjugam para criar uma atmosfera onirifica em que é dificil distinguir a ilusão da realidade, o presente do passado e o filme do realizador do filme dentro do filme que a personagem Mitch Haven está a realizar sobre a misteriosa história de Velma Duran e o seu amante Rafe Taschen. Um filme de que se gosta ou que se detesta... ou talvez nem uma coisa nem outra, mas ao qual não é fácil ficar indiferente.

As cenas iniciais do filme, onde sobressaem as espectaculares imagens da dramática queda de uma avioneta num lago,  parecem antecipar um filme negro centrado numa história da tragédia - verdadeira ou encenada - de Velma e Rafe. Puro engano, depressa percebemos que Hellman / Haven não estão interessados em contar a verdadeira história do desaparecimento do casal e "perdem-se" na contemplação da magnética e trágica Velma / Laurel que Haven descobre num filme e escolhe para protagonista do seu filme, acabando por representar  o seu próprio papel, transformando o filme num jogo de bonecas russas em que verdade e ilusão se entrelaçam e fundem, com Velma (personagem) e Laurel (personagem e protagonista) a ocuparem todo o ecrã com o(s) realizador(es) a transmitirem-nos o seu fascínio pelo seu mistério - sem nunca o revelar - dando-nos a conhecer uma mulher auto-contida, através da qual podemos sentir como é por vezes dificil representar o nosso próprio papel.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O papel dos grupos de reflexão

Os grupos de reflexão (think tanks) podem e devem ter um papel importante na definição de políticas públicas, nomeadamente porque permitem uma reflexão de um cariz mais teórico e livre, porque menos condicionada pela agenda política e mediática imediata, podendo funcionar como "laboratório" de ideias que são analisadas, desenvolvidas... e muitas vezes rejeitadas quando esse processo venha a revelar a sua inadequação.

Neste contexto é louvável que os partidos estejam receptivos a iniciativas deste tipo e, até, que as apadrinhem. Julgo, no entanto, que o PSD não temn cuidado de conseguir distinguir de forma suficiente aquelas que são as ideias que emergem desses grupos e aquelas que são as posições políticas do próprio partido, prestando-se a equívocos que dão azo a títulos como o de hoje no jornal Público de que o "PSD desiste da ideia dos independentes do Mais Sociedade para reduzir pensões" (meu sublinhado).

Bem sei que, como é infelizmente demasiado frequente, o título da notícianão corresponde ao conteúdo da notícia, mas ainda assim julgo que, para bem do esclarecimento e evitar um ruído desnecessário e prejudicial, o PSD deverá ponderar rever a forma como estas iniciativas são apresentadas de forma a evitar equívocos.

Love Hurts - Gun's and Roses

terça-feira, 26 de abril de 2011

Os discursos das comemorações do 25 de Abril

Considero que vivemos um momento de emergência nacional que exige que exista, pelo menos, um entendimento mínimo entre os principais partidos do nosso sistema político que permita assegurar o financiamento do Estado, e do nosso sistema financeiro, evitando um cenário de ruptura que seria catastrófico. E sou, igualmente, favorável a um entendimento o mais amplo possível que permita não só dar execução ao programa de ajustamento que vier a ser acordado e permita que as reformas que são necessárias para assegurar a sustentabilidade económica e financeira no médio prazo se façam num clima de coesão social. Pelo que partilho inteiramente das preocupações e desejos expressos quer pelos ex-presidentes quer, em especial pelo actual Presidente da República, na cerimónia de comemoração do 25 de Abril que se realizou ontem no Palácio de Belém no que se refere à necessidade de termos uma campanha eleitoral esclarecedora e civilizada.

Tenho, não obstante, algumas dificuldades em partilhar dos elogios a alguns dos discursos aí proferidos. Uma campanha eleitoral esclarecedora e civilizada não pode ser contraditória com um diagnóstico sério da situação que o país enfrenta e penso mesmo que o país tem muito a ganhar em debater as causas da actual crise.

Neste contexto devo dizer que me custa particularmente ver propalar a ideia de responsabilidade colectiva nacional que fazem a actual crise surgir como uma quase inevitabilidade, uma doença nacional, omitindo quais as políticas concretas que nos trouxeram aqui. E, igualmente, uma defesa do consenso como valor quase auto-suficiente esquecendo que este não constitui, em si, uma panaceia para os nossos problemas que nos dispense de fazer escolhas dificeis, e que o compromisso só faz sentido se for em torno da escolha de uma alternativa realista para o nosso futuro nacional, a qual deve emergir de um debate sobre qual a estrátégia e, se possível, as medidas concretas que devem ser adoptadas.

domingo, 24 de abril de 2011

E que tal algum realismo ?


Num  contexto em que segundo o Ministro das Finanças o Estado apenas tem o financiamento assegurado até ao final do mês de Maio, várias empresas públicas encontram-se numa situação de ruptura de tesouraria, os nossos bancos não se conseguem financiar no mercado monetário encontrando-se numa situação de absoluta dependência do financiamento do BCE e existem sinais preocupantes de contestação política à assistência financeira em vários países da U.E. é surpreendente (ou talvez não) ver vozes (não apenas à esquerda) parecem persistir em não reconhecer que Portugal se encontra numa posição "negocial" particularmente frágil e ignorar as reacções políticas dos governos e eleitorados dos outros países europeus no caso de tentarmos forçar a aceitação de certas "condições". O que não significa que não exista alguma margem negocial em torno das medidas a adoptar e creio também que poderá existir alguma margem negocial, embora limitada, do próprio ritmo do ajustamento a efectuar... Mas nada temos a ganhar, muito pelo contrário, com uma estratégia confrontacional.

Situação na Líbia e Médio Oriente


Na Líbia  continua o impasse militar na Líbia com os combates a prosseguirem em Misrata e com ambos os lados do conflito a revelarem uma ausência de capacidade militar estratégica que permita antecipar uma resolução militar ou de perspectivas de uma solução política para um conflito que ameaça arrastar-se.

Entretanto, no Iémen surgiu a notícia de que o presidente do Iémen após várias semanas de protestos se revelou disponível para, caso lhe seja concedida imunidade, aceitar uma transição pacífica do poder.

Mais perigosa parece ser a situação na Síria onde o regime - que parece contar com o apoio das forças de segurança - está a dar claros sinais de uma aposta numa linha dura de repressão dos opositores ao regime que já terá provocado cerca de 3 centenas de vítimas mortais e faz recear o pior.

sábado, 23 de abril de 2011

Ler os outros

"É a frase mais dramática de toda a Bíblia. A frase que Cristo profere na cruz, quando todas as forças já lhe falecem no corpo em chaga, e brada aos céus com o último alento que lhe resta: Eloí, Eloí, Lama sabachtami?
Este episódio da Paixão, que vem mencionado nos Evangelhos de Mateus (27,46) e Marcos (15,34), sempre me impressionou. Porque nos revela, mais que nenhum outro, a face humana de Jesus - as dúvidas, as angústias, a profunda inquietação existencial de um Jesus terreno, despido da sua condição divina, igual a todos nós. Na dor, no sofrimento, no desamparo. Este brado simboliza o desespero de múltiplas gerações de homens solitários clamando em momentos de aflição por um Pai que permanece teimosamente desconhecido, indiferente ao destino trágico dos seres dotados de consciência que lançou como grãos de areia na imensidão cósmica. É um grito lancinante que ecoa desde os confins dos tempos e se ramifica a todos os espaços onde chega a voz humana:
Meu Deus, Meu Deus, Porque Me abandonaste?"

Rui Correia no Delito de Opinião

Primeiro dia - Sérgio Godinho




A principio é simples, anda-se sózinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Paixão segundo São João - Bach

Sondagem da Eurosondagem para o Expresso, SIC e Renascença

De acordo com as projecções da Eurosondagem para o Expresso, SIC e Renascença se as eleições fossem agora os resultados seriam:

PSD - 36,3% (-1,0 pp)
PS -  32,7% (+2,3 pp)
CDS-PP - 11,3% (+0,6 pp)
CDU - 7,8% (-0,6 pp)
BE - 6,9% (-0,8 pp)

Os resultados desta sondagem confirmam a tendência de recuperação do PS e de descida do PSD indicada pela sondagem da Marktest mas com uma dimensão inteiramente diferente, apontando, contudo, para que o PSD continue na liderança, embora com uma vantagem de apenas 3,6 pontos percentuais, e também importante para um empate entre PSD+CDS (47,6%) e PS+CDU+BE (47,4%).

Chamar ainda a atenção para o facto de haver mais inquiridos a responder que confiam mais em José Sócrates (31,3%) do que em Pedro Passos Coelho (26,8%) e uma elevada percentagem (31,7%) que responde que não confia em nenhum deles.

Curioso, ainda, o facto de apenas 9,9% dos inquiridos considerarem que o chumbo do PEVC IV é a razão porque Portugal está à beira da bancarrota, enquanto que 62,9% respondem que Portugal já estava à beira da bancarrota.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cansaço - Álvaro de Campos

O que há em mim é sobretudo cansaço –
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada –
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas –
Essas e o que falta nelas eternamente –;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah! com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Sondagem Marktest para a TSF e Diário Económico (Abril)

De acordo com a sondagem da Marktest para a TSF e o Diário Económico as projecções de voto são:

PS -    36,1% (+11,6 pp)
PSD - 35,3% (-11,4 pp)
CDU -  8,1% (+ 1,4 pp)
CDS -   7,5% (+1,2 pp)
BE -      6,0% (-2,9 pp)

o que indica uma excelente recuperação das intenções de voto no PS e uma descida abrupta do PSD, que perde a liderança das intenções de voto, embora por apenas 0,8 pp. Sendo ainda de salientar que de acordo com estas projecções o PSD e CDS obteriam apenas 42,8% dos votos face a 50,2% do PS+CDU+BE.

Apesar de todos os cuidados que devemos ter em retirar demasiadas conclusões com base numa única sondagem, a variação das intenções de voto não deixa dúvidas de que ocorreu uma alteração significativa da percepção do eleitorado face aos partidos que é confirmada pela alteração da popularidade dos líderes dos dois principais partidos com Pedro Passos Coelho a registar uma queda a pique (de -8% para -29,2%) e José Sócrates uma subida de 8 pontos (para -47%).

Uma alteração das projecções de voto que coincide com aquela que tem sido a análise política da actuação dos partidos com o PS a beneficiar dos efeitos de um Congresso em que revelou uma capacidade de união e um discurso articulado e consistente que contrasta com o PSD que tem cometido vários erros tácticos e sido incapaz de afirmar as suas posições.

Relativamente aos pequenos partidos quer a CDU quer o CDS apresentam pequenas subidas face às projecções anteriores sendo, no entanto, o aspecto mais saliente a queda do BE.

Entretanto, um aspecto que não deve ser menosprezado é o aumento dos inquiridos que respondeu "não sabe / não responde" de 29% para 37%, o que revela que existe uma percentagem muito significativa do eleitorado que estará confusa e indecisa face à evolução da situação no país, pelo que não estranharia que durante as próximas semanas as diversas projecções venham a apresentar uma volatilidade invulgar. Nesta conjuntura afigura-se que a divulgação do impacto do programa de ajustamento a negociar com a chamada troika e aquele que será o posicionamento dos diferentes partidos nessa negociação e, depois, os debates televisivos entre os principais líderes partidários serão provavelmente os momentos decisivos para a definição do sentido de voto numa eleições que, de acordo com esta sondagem, apontariam para a quase inevitabilidade de uma solução governativa PS+PSD.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

São mesmo todos iguais ?

Uma das coisas que se vai ouvido na rua é que os partidos são todos iguais. Mas serão mesmo ?

Nas eleições do próximo dia 5 de Junho, a alternativa não é entre os partidos que eventualmente gostaríamos de ter, mas entre aqueles que temos.

E, a escolha que os eleitores terão que fazer é entre, por um lado, o PS e os partidos da oposição situados à sua esquerda e à sua direita no espectro político-partidário.

Entre, por um lado, um PS monolítica e incondicionalmente comprometido com a sua actual liderança que, além de ser a principal responsável pelas políticas que conduziu (ou, pelo menos, foi incapaz e incompetente para evitar) o país à situação actual. Uma liderança que insiste e persiste num discurso de “passa-culpas” que revela uma total incapacidade de compreender a raiz dos problemas económicos do país, sem estratégia nem programa, com um Governo cansado, algo desorientado, e que, por vezes, parece sobretudo ocupado em fazer oposição à oposição, que falhou todas as suas previsões, que nem sequer tentou reformar (ou se o tentou fê-lo de forma tímida e incipiente) a justiça e a administração pública e que falhou rotundamente nas reformas que tentou impor na educação e na saúde.

E, por outro lado, à esquerda, um Bloco e um PCP cuja única alternativa que apresentaram ao aumento da despesa pública e do défice foi ainda mais despesa e mais défice. Dois partidos que, agora, apontam como “soluções” uma versão reciclada e pós-moderna do velho slogan “os outros que paguem a crise”, baseadas numa mirífica solidariedade europeia – revelando uma ignorância exasperante da realidade política da Europa – ou, em alternativa, propondo, na mesma frase em que acusam as agências de rating de prejudicar o país e os detentores da dívida pública nacional de “especulação” e “agiotismo”, uma, igualmente irrealista, revolta dos países “oprimidos” da periferia da zona euro com os quais supostamente nos deveríamos aliar numa estratégia kamikaze de reestruturação unilateral da dívida, aventando mesmo a possibilidade de saída do euro. Soluções que lançariam o país no abismo económico e financeiro.

E, finalmente, os partidos à direita do PS, os quais – independentemente dos erros tácticos e comunicacionais que têm, sobretudo o PSD, cometido – revelam, pelo menos, (mais o PSD do que o CDS-PP) não só terem consciência da verdadeira natureza dos problemas do país como da respectiva profundidade e, além disso, vontade e algumas ideias quanto à estratégia para os solucionar.

Sinceramente, não tenho a certeza se PSD e CDS-PP serão capazes de mobilizar as pessoas técnica e politicamente competentes para formular e, mais difícil ainda, implementarem as medidas concretas que possam dar expressão a essa estratégia, mas não, não são todos iguais ! E, perante as alternativas que vão estar em presença no boletim de voto, a opção não parece difícil.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O que está em jogo a 5 de Junho

Perdido nos debates acalorados sobre o errático percurso político de Fernando Nobre, a hora de envio e o significado dos sms‘s enviados aos deputados do PSD ou a diferença entre um telefonema e um encontro pessoal, só para dar alguns exemplos dos temas candentes que têm dominado a agenda mediática, o debate político tem vindo a afastar-se das questões essenciais que estão em jogo nas eleições do próximo dia 5 de Junho, as quais parecem cada vez mais esquecidas.
A nossa democracia enfrenta a sua mais grave crise económica, financeira e social. Uma crise que determinou a necessidade de assistência financeira externa para evitar, in extremis, uma situação de bancarrota do Estado e do sistema financeiro, colocando o país numa situação em que serão a União Europeia e o FMI a ditarem os aspectos essenciais das suas políticas económicas durante, pelo menos, os próximos três anos num contexto recessivo que – esperando sinceramente estar enganado – ameaça ser significativamente mais grave, quer para a actividade económica quer para o emprego, do que aquilo que indicam as pouco animadoras projecções já divulgadas.

Neste momento crítico, Portugal precisa, talvez mais do que nunca, que das próximas eleições emerja um quadro parlamentar que permita a constituição de um governo estável, credível e competente que não só seja capaz de implementar as medidas de ajustamento indispensáveis, como ao mesmo tempo de estabelecer prioridades, fazer a diferença através de uma gestão eficiente dos (escassos) recursos disponíveis e concretizar as importantes reformas estruturais do sector público – administrativo e empresarial – que se tornaram absolutamente inadiáveis.

Reformas que não são contraditórias, antes pelo contrário, com a defesa da coesão social, pois não só constituem um pressuposto necessário – mas infelizmente não suficiente – para que a economia possa voltar a crescer a um ritmo razoável que permita reduzir o desemprego, como a sustentabilidade financeira do Estado – que depende da vitalidade económica – é um elemento essencial para que se possam preservar o essencial dos pilares do designado Estado social nas áreas da educação, saúde e segurança social. É que se, como afirmou há algum tempo o ministro Teixeira dos Santos, “A melhor forma de acabar com o Estado Social, é levá-lo à falência !” a única maneira de salvar o Estado Social é garantindo a sua sustentabilidade financeira.

PS: Post publicado no Delito de Opinião na sequência do amável convite que me foi endereçado pelo Pedro Correia, que naturalmente agradeço.

O aeroporto de Beja


Depois de "alguns" adiamentosatrasos, o aeroporto de Beja foi finalmente inaugurado no passado dia 14 de Abril de 2011, através de um voo comercial de passageiros entre Beja e Cabo Verde, realizado pela companhia aérea TACV - Cabo Verde Airlines.

Infelizmente o site da ANA não nos permite aceder à informação sobre os hórários de voos previstos, mas de acordo com a imprensa parece que o próximo voo ocorrerá "já" no próximo dia 22 de Maio. Este voo resulta de um acordo com a Sunvil Discovery (operador turístico britânico) que irá realizar 22 voos charters (um voo semanal num avião de 49 lugares) entre Londres e Beja. Mesmo contando que de acordo com o press release da ANA existe ainda um acordo com a Aeromec para a instalação de um centro de manutenção desta empresa no Aeroporto de Beja (que assegurará cerca de 100 postos de trabalho) e um acordo com o Grupo Urbanos que irá criar "novas oportunidades de negócios nas áreas da carga aérea e da logística", parecem-me notoriamente poucos voos e actividade para justificar um projecto que de acordo com a auditoria do Tribunal de Contas de Novembro de 2010 com o qual "os encargos públicos com este empreendimento já ultrapassam os 30 milhões de euros e, segundo o Plano de Investimento Adicional do aeroporto de Beja, para o período de 2011 a 2015, a empresa prevê gastar, mais 39 milhões de euros, não só para obras de remodelação da pista para operacionalizar o aeroporto, como também para dar cobertura a défices de exploração", acrescentando-se que, segundo um estudo efectuado, "esta empresa só atingirá o seu ponto de equilíbrio próximo do ano 2020".

domingo, 17 de abril de 2011

Mahler - Jugendorchester - Gulbenkian 16 de Abril



Uma viagem ao universo musical de Gustav Mahler numa primeira parte com um conjunto de Lieder (canções) interpretadas pelo barítono Thomas Hampson povoadas com os temas clássicos do amor "impossível" (não confundir com platónico):

I went across the fields this morning
(...)
the world suddenly began to glitter
everything gained sound and colour
in the sunshine !
Flower and bird, great and small !
"Good day,
is it not a fine world ?
Hey, isn't it ?
A fair world ?"
Now will my happiness also begin ?
No, no - the happiness I mean
can never bloom !

da morte (na tocante "A vida terrestre") e da liberdade (na belíssima "Canção do prisioneiro").

E, na segunda parte, uma excelente interpretação da Jugendorchester da 1.ª sinfonia de Mahler com as suas alternâncias inesperadas de ritmo e sons em que os momentos de tranquilidade, exaltação, tragédia e desespero se sucedem numa orquestração que reflecte as atribuladas experiências emocionais do próprio compositor, com passagens de extrema beleza e sensibilidade melódica como esta (aqui numa versão dirigida por Gustavo Dudamel).

sábado, 16 de abril de 2011

American Civil War - John Keegan



Um grande livro de história sobre um conflito militar intenso - com mais de 10.000 confrontos que se estenderam durante quatro longos anos entre 1861 e 1865 e provocaram mais mortos de 600 mil mortos - que marcou profundamente os EUA descrevendo não só as estratégias das forças em confronto, mas também o contexto político, económico e social e a vida dos soldados na frente de combate.

Uma guerra que resultou de uma divisão profunda entre o Norte e o Sul de que a escravatura era o ponto mais importante - mas não o único -, relativamente à qual John Keegan não esconde as suas simpatias pela posição da União e a sua admiração pelas qualidades de comandante do presidente Abraham Lincoln.

Uma guerra que Keegan considera que o Sul - dada a sua desvantagem em meios militares, demográfica e económica - nunca poderia ganhar e que se conseguiu opor-se durante tanto tempo há superioridade do Norte foi devido à conjugação de factores geográficos - topologia do terreno e os cursos de água - que tornavam dificil um ataque directo das forças do Norte a Richmond, capital dos Confederados que apenas viria a ser tomada no final da guerra com a superioridade de comando dos generais do Sul, entre os quais se destacou o general Robert E. Lee que Keegan considera ter sido um comandante operacional brilhante, pela forma como era capaz de  tomar decisões no campo de batalha, aproveitando os erros do adversário, e pela sua capacidade para rentabilizar os meios ao seu dispor, mas a quem faltava visão e capacidade estratégica e a incapacidade dos comandantes do Norte, em especial de McClellan sobre quem diz que "fearing failure, he did not try to win". O que conduziu a uma situação de impasse que apenas foi superada pela acção do general Ulysses S. Grant primeiro na campanha de Vicksburg e depois, a partir de Março de 1964, como comandante general das forças da União, cujas capacidades estratégicas e organizativas John Keegan elogia profusamnente, tal como não poupa elogios relativamente a Stonewall Jackson (outro general do Sul) a quem não hesita qualificar como um "génio militar".

Uma guerra que é muitas vezes apresentada como a primeira guerra moderna. E que ficou marcada pelas práticas de "guerra total" dirigida à destruição do potencial económico e do moral do adversário simbolizada pela conquista e subsequente incêndio de Atlanta pelo exército do general Sherman - imortalizado no filme E Tudo o Vento Levou - e pela sua famosa marcha em direcção ao mar e pela guerra de desgaste em que - virtude do progresso do armamento - regimentos e divisões inteiras eram dizimadas em poucas horas (nos três dias da batalha de Gettysburg o total de baixas - mortos, feridos e desaparecidos - dos dois exércitos terá atingido os 46 mil número que corresponde a mais de um quarto dos soldados que participaram nesta batalha).

Uma guerra que inspirou aquele que será um dos mais tristemente belos poemas sobre a guerra jamais escritos: "Come Up from the Fields, Father" de Walt Whitman.

Come up from the fields father, here's a letter from our Pete,
 And come to the front door mother, here's a letter from thy dear son.

Lo, 'tis autumn,
Lo, where the trees, deeper green, yellower and redder,
Cool and sweeten Ohio's villages with leaves fluttering in the moderate wind,
Where apples ripe in the orchards hang and grapes on the trellis'd vines,
(Smell you the smell of the grapes on the vines?
Smell you the buckwheat where the bees were lately buzzing?)


Above all, lo, the sky so calm, so transparent after the rain, and with wondrous clouds,
Below too, all calm, all vital and beautiful, and the farm prospers well.


Down in the fields all prospers well,
But now from the fields come father, come at the daughter's call.
And come to the entry mother, to the front door come right away.


Fast as she can she hurries, something ominous, her steps trembling,
She does not tarry to smooth her hair nor adjust her cap.
Open the envelope quickly,
O this is not our son's writing, yet his name is sign'd,
O a strange hand writes for our dear son, O stricken mother's soul!
All swims before her eyes, flashes with black, she catches the main words only,
Sentences broken, gunshot wound in the breast, cavalry skirmish, taken to hospital,
At present low, but will soon be better.


Ah now the single figure to me,
Amid all teeming and wealthy Ohio with all its cities and farms,
Sickly white in the face and dull in the head, very faint,
By the jamb of a door leans.


Grieve not so, dear mother, (the just-grown daughter speaks through  her sobs,
The little sisters huddle around speechless and dismay'd,)
See, dearest mother, the letter says Pete will soon be better.


Alas poor boy, he will never be better, (nor may-be needs to be better, that brave and simple soul,)
While they stand at home at the door he is dead already,
The only son is dead.
 But the mother needs to be better,
She with thin form presently drest in black,
By day her meals untouch'd, then at night fitfully sleeping, often waking,
In the midnight waking, weeping, longing with one deep longing,
O that she might withdraw unnoticed, silent from life escape and withdraw,
To follow, to seek, to be with her dear dead son.

Canção do Mar - Dulce Pontes



Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo

Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo

Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo

(ver vídeo aqui)

Estrela da Tarde - Carlos do Carmo

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Insónia - Alvaro de Campos

Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.

Espera-me uma insónia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!

Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.

Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...

Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!

Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!

Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.

Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.
Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente. Mas não durmo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Breve lamento por um país surreal

Este é um país em que o troço Lisboa-Poceirão do TGV foi finalmente suspenso numa decisão que apenas peca por tardia e que nos expõe ao ridículo de ter uma linha de TGV que liga Madrid a lado nenhum. Este foi uma das bandeiras da campanha socialista de 2009, alvo de manifestos contra e a favor da sua construção. Era a obra que iria servir para ligar Portugal à Europa e o projecto que numa entrevista dois dias antes do pedido de assistência financeira ao FEEF / FMI o primeiro-ministro insistia em que iria para a frente. Uma obra cuja suspensão representa o fracasso monumental de uma política económica que se revelou a todos os títulos desastrosa.

Este é um país em que desde o início do ano (!!!) a PSP, a GNR e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) não estão a entregar ao Estado a retenção de IRS, nem as contribuições para a Caixa Geral de Aposentações de para a Segurança Social dos seus funcionários.

Este é um país em que nos últimos dias tornou-se impossível ouvir um noticiário ou ler um jornal sem ler mais um remoque humilhante - que nos devia envergonhar - de um membro da Comissão Europeia ou de um governante de outro Estado a pedir responsabilidade aos partidos políticos portugueses que estão "obrigados" a entenderem-se numa negociação que começou notoriamente com o pé esquerdo.

E é neste país que se criou um ambiente artificial de quase "histeria" em torno da candidatura de Fernando Nobre - que teve 14% dos votos como candidato independente nas eleições presidenciais - nas listas que o PSD irá apresentar às próximas eleições legislativas ?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

As tendências autofágicas do PSD

Compreendo alguma surpresa pelo facto de Fernando Nobre ter aceite integrar as listas do PSD e também tenho pessoalmente dúvidas quanto à forma como foi anunciado como "candidato" a Presidente da Assembleia da República... mas, confesso a minha enorme perplexidade pela forma como esta decisão tem vindo a ser criticada por tantas pessoas da área do PSD.  Neste momento crítico da vida nacional e a menos de 2 meses das eleições legislativas dar sinais de desunião interna a propósito de uma questão apesar de tudo relativamente menor apenas contribui para fragilizar o PSD.

PS: A confirmar-se esta notícia é caso para dizer que é pior a emenda do que o soneto.

terça-feira, 12 de abril de 2011

De Portugal à Finlândia

De acordo com esta notícia a questão da assistência externa a Portugal é um assunto quente das próximas eleições... na Finlândia que irão ocorrer no próximo domingo. Uma boa razão para as seguirmos com atenção.

The Rose - Janis Joplin



Some say love it is a river
That drowns the tender reed.
Some say love it is a razor
That leaves your soul to bleed.

Some say love it is a hunger
An endless, aching need
I say love it is a flower,
And you it's only seed.

It's the heart afraid of breaking
That never learns to dance
It's the dream afraid of waking
That never takes the chance

It's the one who won't be taken,
Who cannot seem to give
And the soul afraid of dying
That never learns to live.

And the night has been too lonely
And the road has been too long.
And you think that love is only
For the lucky and the strong.

Just remember in the winter
Far beneath the bitter snow
Lies the seed that with the sun's love,
In the Spring becomes the Rose

Notas Breves (III) - A entrevista de Passos Coelho

Foi uma boa entrevista, quer na forma, mantendo um discurso sereno e positivo - mesmo quando recusou qualquer entendimento pós-eleitoral com José Sócrates - que contrasta com o estilo e discurso marcadamente mais crispado do actual primeiro-ministro, quer no conteúdo, ao responder de forma competente e consistente às acusações do PS de que foi o chumbo do PEC IV que provocaram a crise política e a subsequente necessidade de assistência financeira externa do FEEF / FMI e ao deixar claro que o PSD tudo fará para viabilizar o programa de assistência financeira.

PS: Politicamente PPC errou ao ter sido uma vez mais ingénuo por não ter referido antes que se tinha encontrado pessoalmente com Sócrates em São Bento na noite antes da apresentação do PEC IV, mas tem toda a razão quando hoje refere que isso é algo absolutamente irrelevante que não altera em nada o essencial da narrativa.

Notas Breves (II) - Fernando Nobre



O anúncio de que Fernando Nobre irá ser o cabeça de lista do PSD pelo distrito de Lisboa constitui sem dúvida uma grande surpresa, sobretudo pelo seu percurso político recente, pois estamos falar de alguém que foi, em 2009, mandatário nacional do Bloco de Esquerda, às eleições europeias e, ainda, recentemente foi um candidato a Presidente da República que, embora independente e tendo adoptado um discurso moderado, foi apoiado pela ala soarista do PS, reunindo votos sobretudo dos eleitores de centro-esquerda que não se reviam na candidatura de Manuel Alegre.

Tenho, por isso as maiores dúvidas que a sua integração vá trazer um número significativo de votos ao PSD, tanto mais que, naturalmente, as eleições legislativas se centram nas figuras dos líderes partidários e nos respectivos programas eleitorais. No caso concreto suscita-me, ainda, perplexidade o facto de Fernando Nobre ser apresentado como "candidato" a presidente da Assembleia da República sobretudo por se tratar de alguém que não tem qualquer experiência parlamentar.

Trata-se, não obstante de uma opção com alguns pontos muito interessante. Em primeiro lugar, porque, ir buscar alguém que é conhecido pelas suas preocupações sociais, parece ser uma boa resposta estratégica às acusações de "ultraliberalismo" que o PS tem dirigido ao PS e, em segundo lugar, constitui uma demonstração das afirmações da liderança do PSD de que está disponível e irá procurar construir um consenso alargado para enfrentar a situação em que o país se encontra.

Notas Breves (I) - O Congresso do PS

Foi um Congresso a pensar exclusivamente no próximo acto eleitoral e que visou, por um lado, a mobilização do partido que surgiu unido - vamos ver por quanto tempo - no apoio a José Sócrates. Neste contexto, parece-me dever merecer especial destaque o regresso de Ferro Rodrigues que de alguma forma representa a ala esquerda do PS e que aceitou ser cabeça de lista por Lisboa. E, por outro lado,  dar espaço mediático para insistir naqueles que serão os principais argumentos da campanha eleitoral do PS: i)  a oposição foi responsável pela crise política e subsequente intervenção do FEEF/FMI e ii) apresentar o PS é um referencial de segurança, estabilidade e defesa do Estado social contra a inexperiência e as ideias "ultraliberais" da actual lideramça do PSD.

Julgo, no entanto, no Congresso, o PS e José Sócrates que exageraram na criação de um clima de crispação, utilizando uma agressividade de linguagem que é, senão incompatível pelo menos contraditória com a necessidade de negociação com o PSD que a situação exige. E que, além disso, dá a sensação de um PS sitiado, contra tudo e contra todos, que se pode ser eficaz para unir as hostes também pode acabar por prejudicar o PS, sobretudo caso o PSD seja, como tem sido, capaz de manter a serenidade do seu discurso.

domingo, 10 de abril de 2011

Aristóteles e Alexandre - Annabel Lyon


Uma viagem no tempo até onde a Macedónia de Filipe II disputava a supremacia de Atenas que viria a conquistar e consolidar. Como a autora nos avisa  através de uma citação de Plutarco o objectivo deste livro "é descrever «vidas» e não narrar «histórias». Quantas vezs os feitos mais extraordinários não são os que melhor nos transmitem a marca da virtude ou dos vícios dos homens! E, pelo contrário, um acontecimento de somenos, uma frase ou um simples gracejo, tantas vezes melhor nos esclarece, quanto ao carácter desse homnens, do que a descrição dos mais sangrentos combates, das maiores expedições ou de cercos de cidades!".

E assim, pese embora as excelentes descrições de uma batalha no mundo antigo, da Academia de Atenas, da vida da corte macedónia em Péla ou da vida quotidiana na casa de Aristítóteles, o livro centra-se no quotidiano de Aristóteles que nos é apresentado numa versão de "carne e osso" e intimista, muito diferente daquela que nos surge nos livros de história e filosofia.

Mais do que nas suas ideias e ensinamentos a autora está interessada no homem que as produziu e de quem ela não hesita em "expor" as  fragilidades humanizando-o, mostrando a sua insaciável curiosidade e vontade de conhecer e compreender tudo o que o rodeava. Uma humanidade que se revela na forma como educa os dois filhos de Filipe II, Alexandre que ficou conhecido na história como o Grande e que viria a conquistar a derrotar o império persa e conquistar a maior parte do mundo, e, sobretudo, Arrideu, filho de Filipe II e meio-irmão mais velho de Alexandre, que sofria de graves deficiências cognitivas.

Um Alexandre inteligente, até mesmo brilhantes, com dotes militares e capacidades de liderança inatas, mas  ao mesmo tempo  um rapaz violento, mas ao mesmo tempo sensível e dado a depressões e que Aristóteles vai moldar ensinando-o a "pensar de maneira que os outros não pensam". Criando-se entre os dois uma relação de amizade de pai para filho.

Um livro em que a autora mostra-nos dois homens que apesar de serem dois espíritos atormentados - dados à melancolia e à depressão - revelando-nos, ao mesmo tempo, a enorme grandeza de duas das figuras maiores da civilização ocidental sobre as quais a autora nos diz, através de um diálogo em que Alexandre diz a Aristóteles: "Tu e eu sabemos apreciar a glória das coisas. Caminhamos mesmo até à orla das coisas tal como toda a gente as vê, entende e sente, e depois damos o passo seguinte. Vamos a lugares onde nunca ninguém esteve. É assim que somos."... talvez esteja aí o segredo da verdadeira felicidade que ambos procuraram seguindo por caminhos diferentes que se cruzaram...ou talvez não pois logo a seguir Alexandre pede a Aristóteles "Fica comigo, Não me obrigues a dar sozinho o passo seguinte."

Pedido ao qual Aristóteles não acede retirando-se para estar "só num quarto tranquilo ondem durante o resto da vida, posso voiar cada vez mais longe pelo mundo fora, enquanto o meu aluno, investindo até ao extremo de todos os mapas, cai cada vez mais no poço de si mesmo (...) Poderá alguém dizer-me o que é uma tragédia ?".

sábado, 9 de abril de 2011

Nem tudo é fácil - Cecilia Meireles

É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas…
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o…
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga…
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça…
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o…
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida… Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos,

Realidade!!!

Leituras (à atenção da liderança do PSD)


Dois destacados militantes e deputados do PSD escrevem hoje dois artigos que me parecem extremamente pertinentes para a actual conjuntura.

Hoje no Público, Pacheco Pereira, coloca em termos muito claros algo que considero muito pertinente para compreeender a surpreendentemente inabilidade com que a liderança do PSD tem vindo a enfrentar politicamente a actual situação, ao afirmar "Mas, que raio!, será que não estão informados, por vias directas ou travessas, do que se passa e dependem dos artigos do Financial Times? Que negociações fizeram Sócrates e Teixeira dos Santos até à crise de 23 de Março com os alemães e com a Comissão? O que é que obtiveram em contrapartida do PEC IV para além dos elogios públicos? O que é que Sócrates disse a Passos Coelho quando o informou do PEC IV e vice-versa? O que perguntou o Presidente a Sócrates e o que é que ele respondeu? O que disse Merkel a Passos Coelho, Cavaco Silva a Sócrates, Passos Coelho a Cavaco Silva? Não acredito que tenham dito aquilo que nós sabemos, e se, assim foi, ainda pior. Se fosse atenuante, que não é pode-se admitir que ninguém verdadeiramente actuou sabendo as consequências". Questões que são obviamente extremamente pertinentes em termos de análise política da situação em que vivemos.

No seu artigo Pacheco Pereira refere ainda que um outro aspecto fundamental é "saber no contexto destas imposições [da UE/FMI] o que o PS, PSD e CDS contam fazer: clarinho, bem explicado, e sem ambiguidades".

Aqui, não concordo com Pacheco Pereira. Penso mesmo que centrar a campanha n debate dos programas "alternativos" constituiria um erro estratégico clamoroso do PSD. Pois, num quadro em que a legislatura será inevitavelmente condicionada pelas medidas que vierem ser acordadas na sequência de um entendimento que envolva PS e PSD não vislumbro muito bem como é que, a não ser que estejamos a pensar precisamente no tipo de medidas "ultraliberais" que José Sócrates tem vindo a acusar o PSD de secretamente pretender, o PSD poderá nesse particular estabelecer diferenças significativas face ao programa do PS.

O PSD tem de saber recusar o repto-armadilha do PS e ser capaz de marcar a agenda do debate eleitoral, evitando que este se centre onde convém ao PS. O que menos interessa ao PS, e a sua liderança sabe-o bem e foge disso como o diabo da cruz, é um debate sério e sereno sobre três aspectos essenciais:

i) As políticas erradas do Governo nos últimos 6 anos que nos conduziram (ou pelo menos foram incapazes de evitar) à grave situação económica, financeira e social que enfrentamos;

ii) A forma desastrosa como o Governo conduziu no decorrer do último ano o processo que nos levou até ao pedido formal de ajuda externa;

iii) Demonstrar que tem mais capacidade técnica e política para implementar as medidas - conjunturais e estruturais de que o país carece - o que passa pela capacidade para apresentar pessoas credíveis que possam integrar um futuro governo e de, com espírito de diálogo e compromisso, encontrar soluções parlamentares que permitam a construção de uma maioria de apoio parlamentar que possa garantir a indispensável estabilidade política.

Ora, relativamente aos dois primeiros pontos recomendo a leitura da crónica de Manuela Ferreira Leite no jorna Expresso de hoje onde escreve: "Havia a percepção de que esse pedido [de ajuda externa] era inevitável e que o seu adiamento não resultava de uma situação financeira controlada, mas antes de uma obsessão pessoal do primeiro-ministro que estava a arrastar-nos para o abismo" destacando "a permanente recusa do Governo em identificar as verdadeiras causas da situação em que nos encontramos e em reconhecer erros de políticas seguidas, insistindo nas mesmas opções e nos mesmos argumentos para além do razoável", chamando a atenção para que os sucessivos e cada vez mais gravosos conjuntos de medidas de austeridade (todos eles apresentados necessários e suficientes) não contribuiram para restaurar a confiança dos mercados e que "o facto de não se ter pedido ajuda quando se tornou evidente a sua necessidade implicou, além dos pesadissimos encargos com juros, uma redução da nossa capacidade de negociação". O essencial está aqui, escrito de forma simples e fácil de entender pelos portugueses.

O discurso de Sócrates


Um discurso formalmente muito bem construído conm o intuito de mobilizar as hostes do PS para o combate eleitoral que se aproxima, em que uma vez mais procurou responsabilizar o PSD pela crise política e financeira, apostando em criticar a agenda "liberal" e "aventureira" do principal partido da oposição em áreas nas áreas da saúde, educação, liberalização do mercado de trabalho ou a privatização da Caixa Geral de Depósitos.

Alguém que aterrasse de outro planeta nunca imaginaria que estaria a assistir ao discurso daquele que é o primeiro-ministro de Portugal  desde Março de 2005 e cujo governo entregou hoje mesmo um pedido de auxílio externo de que o país necessita urgentemente e para o qual será indispensável chegar a um entendimento com o PSD que permita um acordo quanto a um plano de assistência financeira internacional... ponto que esteve completamente ausente do seu discurso de ontem.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

As consequências políticas do pedido de auxílio para o PSD


Emn circunstâncias normais, o principal partido da oposição que tem deveria ser o principal beneficiado do falhanço da estartégia do Governo demonstrado no pedido de assitência financeira que o Governo ontem formalizou e hoje começará a debater na União Europeia. Até porque, com alguns pequenos ziguezagues, o PSD tem nos últimos anos criticado de forma relativamente consistente a política económica e orçamental do Governo.

Nas circunstâncias actuais o PSD vai ter contudo alguns problemas para conseguir capitalizar esta sua vantagem. O principal dos quais consiste em correr o risco de ser co-responsabilizado por uma parte significativa do eleitorado por ter contribuido para conduzir o país à necessidade de recurso ao auxílio externo ou, pelo menos, de ter precipitado esse auxílio ao não ter apoiado a "última" hipótese que o poderia ter evitado. O que será tanto mais dificil de explicar ao eleitorado quanto tiver agora que apoiar medidas que tenha recusado no âmbito da discussão sobre o PEC IV, como o Governo e as instituições europeias provavelmente pretenderão, e que de algum modo agora terá que tomar como "suas" e que serão certamente acrescidas de medidas adicionais.

Entrevista de Fernando Ulrich à TVI



No tom felizmente desassombrado a que nos habituou Fernando Ulrich não podia ser mais claro na entrevista de ontem na TVI que recomendo na qual afirmou que "eu sai dessa reunião [no dia 4 de Março] convencido que tinhamos chegado ao fim da linha, que o Estado português já não encontrava compradores no mercado que não fossem os bancos portugueses e que estava ciente que ainda ia precisar de um esforço maior dos bancos portugueses daí para a frente". Igualmente reveladora é a afirmação de que "pelo menos até certa altura o Governo, e em particular o Sr. Primeiro-ministro, não queriam saber de nada do que dizíamos, não queriam ouvir. Umas vezes criticavam asperamente, outras faziam troça".

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sondagem do CESOP para o DN / RTP

A sondagem do CESOP para o DN e a RTP apresenta os seguintes resultados:

PSD - 39%
PS - 33%
CDU - 8%
CDS-PP - 7%
BE - 6%
 
Esta sondagem apontava para uma diferença entre PSD e PS de "apenas" 6 pontos percentuais e mais importante indica que essa tendência se estaria a estreitar, sendo ainda de, ao contrário do que sucede nas últimas sondagens publicadas, os partidos de esquerda (PS+CDU+BE) tem em conjunto 47% contra 46% do PSD+CDS.
 
Dados os acontecimentos de ontem, é de salientar os resultados das perguntas relativas a uma eventual intervenção do Fundo que indicam que 43% dos portugueses pensa que as maiores responsabilidades por essa intervenção caberiam ao PS enquanto que apenas 15% pensa que a principal responsabilidade seria do PSD.

As consequências políticas do pedido de ajuda


O pedido de assistência financeira formulado pelo Governo à Comissão Europeia constitui o reconhecimento do inevitável depois da evolução das taxas de juro, das notações de rating e das posições dos banqueiros nos últimos dias que haviam eliminado qualquer hipótese de manter o financiamento do Estado, das empresas públicas e do sistema financeiro. Sendo de saudar a resposta imediata do PSD de Pedro Passos Coelho que num tom correcto se mostrou disposto a apoiar a iniciativa do Governo e participar nos entendimentos necessários.

Do ponto de vista político este pedido representa um importante revés estratégico para o PS que se viu despojado da possibilidade de se apresentar-se nas próximas eleições como um "opositor" da  necessidade de auxílio externo, e enfraquecido a sua posição de exigir ao PSD a apresentação de medidas alternativas ao PEC IV que agora perderam a sua relevância, a que acresce as dificuldades inerentes em apresentar como candidato a primeiro-ministro num país que irá estar sujeito a um programa de ajustamento no âmbito do FEEF (em conjunto com o FMI) alguém que afirmou que não estava disponível para governar com o FMI. Neste momento o PS parece estar reduzido ao argumento de que foi o chumbo do PEC pela oposição que tornou o auxílio externo inevitável... o que parece sinceramente muito pouco para evitar uma derrota eleitoral pesada.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Apelo a um entendimento

A enorme confusão sobre quais os mecanismos alternativos a que Portugal poderá recorrer para obter os financiamentos de que necessita está a contribuir de forma importante para aumentar a percepção de que Portugal poderá vir a falhar o cumprimento das suas obrigações financeiras por não estar em condições políticas para solicitar e obter a ajutda financeira de que necessita, agravando (ainda mais) a dificil situação financeira que o país atravessa.

Como resulta das declarações desesperadas dos nossos banqueiros, o sistema financeiro e a economia portuguesa não estão em condições que lhes permitam suportar permanecer num estado de incerteza durante um período de, pelo menos, 2 ou 3 meses à espera de um resultado eleitoral que se arrisca a não ser clarificador. Pelo que urge que Portugal encontre, as instituições comunitárias e/ou o Fundo Monetário Internacional, as soluções institucionais que permitam afastar o cenário que os mercados vêem como cada vez mais provável de um eventual incumprimento (ainda que pontual).

Nesta hora de grave emergência financeira, exige-se que Governo, Presidente da República e todos os responsáveis políticos estejam à altura das suas responsabilidades e contribuam para que seja possível, pelo menos, assegurar uma solução intercalar que possa tranquilizar os mercados, os nossos parceiros internacionais e os portugueses, evitando danos maiores.

Entendam-se e demonstrem que, por muito que possa parecer o contrário, Portugal não é um hospício com bandeira e representação nas Nações Unidas ! (*)

(*) No último parágrafo parafraseamos, com a devida vénia, a crónica de Henrique Raposo no Expresso do último sábado.

Diário de pré-campanha



Perante o ritmo frenético com constantes entrevistas, declarações e contra-declarações dos diversos actores políticos, desconfio que quando chegarmos à campanha eleitoral propriamente dita já os eleitores estarão eventualmente mais "esclarecidos" mas quase certamente fatigados de uma pré-campanha demasiado longa que está (já) a ser marcada por um grau de conflitualidade demasiado elevado.

Ora, este grau de crispação além de acrescentar um ruído ínútil e não contribuir para um esclarecimento sereno das questões tenderá a dificultar os eventuais acordos pós-eleitorais necessários para a formação de uma maioria ampla e estável que garanta a estabilidade governativa.

Neste contexto, é interessante verificar a precoupação do primeiro-ministro demissionário em manifestar-se disponível para compromissos pós-eleitorais com os demais partidos, garantindo que tudo fará para que Portugal venha a ter um Governo maioritário... sem deixar de aproveitar para se queixar da ausência de disponibilidade dos seus potenciais interlocutores.

Entretanto, continuam a multiplicar-se os sinais de que dificilmente Portugal conseguirá evitar o pedido de auxílio antes do dia das eleições e hoje foi a vez do presidente do BES vir afirmar que "Portugal não tem alternativa senão solicitar já um empréstimo intercalar de curto prazo, que permita financiar a economia até à tomada de posse do próximo governo", parecendo cada vez menor a margem de manobra de José Sócrates para conseguir negar a inevitabilidade do pedido de auxílio... e amanhã teremos um novo teste aos mercados com o primeiro dos cinco leilões de bilhetes do tesouro que o IGCP irá (tentar) realizar até à data das eleições.

Canoas do Tejo - Carlos do Carmo




Canoa de vela erguida,
Que vens do Cais da Ribeira,
Gaivota, que andas perdida,
Sem encontrar companheira

O vento sopra nas fragas,
O Sol parece um morango,
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango

Canoa,
Conheces bem
Quando há norte pela proa,
Quantas voltas tem Lisboa,
E as muralhas que ela tem

Canoa,
Por onde vais?
Se algum barco te abalroa,
Nunca mais voltas ao cais,
Nunca, nunca, nunca mais

Canoa de vela panda,
Que vens da boca da barra,
E trazes na aragem branda
Gemidos de uma guitarra

Teu arrais prendeu a vela,
E se adormeceu, deixá-lo
Agora muita cautela,
Não vá o mar acordá-lo

(poema de Frederico de Brito)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ganhou o melhor



Cresci a ouvir o lema "Que ganhe o melhor... e que o melhor seja o Benfica", que para mim sempre significou que mais importante do que ganhar é sermos capazes de nos superarmos. Que as vitórias só são gloriosas quando são o resultado desse esforço para aperfeirçoarmos as nossas capacidades para sermos melhores e que não têm qualquer valor se forem obtidas a qualquer custo. E que se os adversários forem melhores há que reconhecer o seu mérito, felicitás-los e tentar fazer melhor no próximo jogo, nas outras competições ou na época seguinte.

Por isso, para mim, a atitude lamentável de apagar as luzes do Estádio da Luz e ligar o sistema de rega do relvado quando o FC do Porto estava a festejar a conquista do seu 25.º título de campeão nacional (curiosamente confirmado na 25.ª jornada) está nos antípodas do espirito benfiquista.

Uma atitude que parece-me tanto mais lamentável quanto revela que, numa altura de emergência financeira, económica e social - em que mais do que nunca seria importante afirmar e dar o exemplo de união, solidariedade e fair-play - há quem, infelizmente, persista em alimentar divisões e fazer crescer a crispação, demonstrando que para além dos défices orçamental e externo existe igualmente um défice de educação e de formação cívica.

Este ano o campeonato foi bem entregue. Parabéns ao Futebol Clube do Porto que esta época foi inegavelmente a melhor equipa do campeonato... e que para a próxima, seja nas competições que ainda faltam disputar este ano seja no campeonato da próxima época, o meu Sport Lisboa e Benfica seja o melhor !

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Esclarecedoras e assustadoras


... as declarações na entrevista publicada hoje no Píblico do presidente da Metro do Porto segundo as quais a situação de pré-ruputura financeira desta empresa "é provocada pelo facto de se ter avançado com um projecto desta envergadura sem se pensar que era preciso pagá-lo".

A estratégia do PS e a (falta de ?) estratégia do PSD


A estratégia do PS para as próximas eleições é simples e transparente e pode ser descrita em poucos passos:

i) A culpa da crise política é da oposição (e em particular do PSD) que se move exclusivamente por interesses partidários de ambição por poder (contrariamente ao PS/Governo que apenas se preocupa com o interesse nacional);
ii) Imputar todas as más notícias à "crise política", e defender que desencadear uma crise política neste momento foi uma irresponsabilidade que colocou o país na iminência de ter de pedir ajuda externa com todos os sacrifícios que isso implicaria (e que o PS/Governo teria conseguido evitar caso o PEC IV tivesse sido aprovado);
iii) Acusar o PSD (e em particular o seu líder) de: a) não estar ter experiência nem equipa para governar o país, explorando todas as contradições e b) ter uma agenda neo-liberal explicita ou "inconfessável", apostando que o "eleitorado de esquerda" preferirá o "mal que já conhece" (o PEC IV) a um "mal desconhecido" (as medidas do PSD). Indo, à medida que a campanha for avançando, apostando cada vez mais apostar na "cartada" do voto útil de esquerda contra as políticas de direita e neo-liberais;
iv) Evitar ao máximo qualquer debate sobre a acção governativa dos últimos 6 anos (cujos delírios o Prof. Luciano Amaral Dias recorda aqui) , imputando à "crise internacional" e/ou à oposição - que impediu todas as reformas estrturais - os "falhanços" da acção governativa.

Para aplicar esta estratégia, o PS aposta na indiscutível capacidade mediática de José Sócrates (quer nas intervenções para a abertura dos telejornais quer nos debates televisivos), bem secundado pelo núcleo duro do PS/Governo, com destaque para os ministros Silva Pereira e o líder parlamantar Francisco Assis, que vão estabelecer o discurso que depois irá ser repetido pelo aparelho do PS, apostando na velha máxima goebbeliana segundo a qual a principal diferença entre a verdade e a mentira é que esta tem que ser repetida mais vezes e na sua capacidade para ditar a agenda e o ritmo da campanha.

E a verdade é que dificilmente as coisas poderiam estar a correr melhor para o PS e o Governo.

Sem dúvida por mérito próprio, mas também por demérito do principal partido da oposição, a verdade é que o PS tem vindo a conseguir aplicar de forma muito eficaz esta estratégia, impondo a sua narrativa. De tal forma que parece-me já muito dificil inverter o sentimento dominante de que o PSD tinha ânsia de poder e sobretudo que (aqui injustamente) de que foi irresponsável ou, pelo menos, inconsciente na forma como "provocou" a queda do Governo, tornando-se o "principal responsável" pela subida das taxas de juro, descidas de rating e pela iminente / inevitável necessidade de recurso ao auxílio externo.

O que significa que, se quiser aspirar a uma maioria absoluta - sozinho ou em coligação com o CDS-PP - o PSD terá que forçosamente convencer os portugueses de que tem melhores condições para governar Portugal.

Ora para tal, mais importante do que as linhas de orientação e o programa eleitoral (que ninguém ou quase ninguém lê), o PSD precisa de estabelecer um discurso claro com três ou (no máximo) quatro ideias de força sobre o seu projecto para o país, mas, sobretudo, de demonstrar que possui pessoas com competência e capacidade para integrar um futuro Governo. O que na actual conjuntura significa, sobretudo, que é urgente que o PSD seja capaz de encontrar alguém que seja capaz de apresentar e explicar de forma clara e acessível ao eleitor comum qual a situação do país e quais as soluções do PSD para a área económica e financeira.

domingo, 3 de abril de 2011

Trouble - Coldplay

Roubado (com a devida vénia) do Albergue Espanhol (para ouvir acompanhado por este artigo):

Primitivos portugueses (1450-1550) - Museu Nacional de Arte Antiga


São Pedro (Gaspar Vaz)



Martírio de São Sebastião (Gregório Lopes)



Última ceia (Francisco Henriques)



Deposição no Túmulo (Cristóvão Figueiredo)

Uma exposição interessantissima que retrata a evolução da pintura portuguesa, no período de ouro dos Descobrimentos, onde são notórias as influências primeiro flamengas e depois italianas, mas também um cunho próprio de uma escola portuguesa... a visitar (para quem ainda não tenha o tenha feito) até ao próximo dia 23 de Abril.



Melinda e Melinda - Woody Allen


Está muito longe de ser um dos melhores filmes de Woody Allen, mas é um "exercício" interessante em torno das histórias paralelas - imaginadas por um grupo de amigos num jantar - de dois casais cujas vidas são perturbadas por intromissão inesperada de uma mulher Melinda (que num caso é a vizinha de baixo e noutro uma colega de escola).

O facto de serem histórias que vão sendo imaginadas por outras personagens - e consequentemente pouco "trabalhadas", que na verdade vão sendo "construídas" ao longo do filme - bem como as sucessivas transições entre uma e outra história não permitem que o filme (diferentemente do que sucede por exemplo em Match Point) nos prenda emocionalmente.

Mas julgo que terá sido essa mesma a intenção de Woody Allen, que quis mostrar - de forma racional - a nossa falta de controlo sobre as nossas próprias vidas (um ponto importante, e que não será acidental, é o facto de com a excepção de Melinda, as personagens serem diferentes nas duas histórias)
e como é ténue a linha de separação entre a comédia e a tragédia.

sábado, 2 de abril de 2011

Bolero - Maurice Ravel



Aqui na cena final de "Les uns et les autres", um grande filme de Claude Lelouch.

Sondagem Aximage para o Correio da Manhã


A sondagem da Aximage /CM realizada entre 28 e 30 de Março atribui os seguintes resultados aos cinco maiores partidos:

PSD: 34,8%
PS: 28,4%
CDS-PP: 10,8%
CDU: 8,5%
BE: 6,5%

Relativamente à sondagem anterior o PSD desce 3,1 pp enquanto que o PS aumenta 0,5 pp. De salientar ainda que no que diz respeito à confiança para exercer o cargo de primeiro-ministro Pedro Passos Coelho obtém 36,3% e José Sócrates 35,2% e porventura mais preocupante que o líder do PSD teve uma forte queda de popularidade (de 10,9 para 8,5), o actual primeiro-mninistro viu a sua popularidade descer ligeiramente (de 6,8 para 6,7), enquanto que aumentou a popularidade dos líderes dos restantes partidos (Paulo Portas de 9,8 para 10,8, Jerónimo de Sousa de 8,5 para 8,6 e Francisco Louçã de 7,3 para 7,7).

Apesar desta sondagem poder ser um sinal, preocupante para o PSD, de que a "narrativa" do PS está a ter efeitos e que os eleitores responsabilizam o PSD pela recente deterioração galopante da situação financeira, deve destacar-se que os resultados desta sondagem são muito similares aos da Eurosondagem quer em termos de diferença entre PSD e PS quer em termos de diferença entre PSD+CDS-PP e os partidos de esquerda.

De qualquer modo recomendo fortemente aos estrategos do PSD uma leitura particularmente atenta dos excelentes artigos do Ricardo Costa e do Filipe Santos Costa que a "Única" hoje publica sobre José Sócrates.

Sondagem da Eurosondagem para o Expresso, SIC e RR

sondagem realizada nos dias 27 a 30 de Março aponta para os seguintes resultados:

PSD: 37,3%
PS: 30,4%
CDS-PP: 10,7%
CDU: 8,4%
BE: 7,7%

Sendo de salientar que, apesar de obter nesta sondagem resultados inferiores aos das sondagens da Intercampus e da Marktest, o PSD regista, ainda assim, uma pequena subida de 0,4 pp sendo o CDS-PP o partido que mais sobe (+0,8 pp), enquanto que o PS e a CDU descem ambos 0,2 pp e o BE mantém os resultados anteriores.

Apesar da votação conjunta do PSD e CDS-PP permitir a obtenção de uma maioria absoluta na Assembleia da República, a margem entre PSD e PS é de "apenas" 6,9 pp e a diferença entre PSD+CDS-PP e PS+CDU+BE é somente 1,5 pp. O que indica que (ainda) estará tudo em aberto.

Em termos de imagem dos líderes partidários é de referir as quedas quer de José Sócrates (-1,8 pontos) quer de Pedro Passos Coelho (-2 pontos) que ainda assim mantêm saldos positivos com ligeira vantagem para o líder do PSD, enquanto que os líderes dos outros três partidos viram a sua imagem melhorar.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A culpa da crise política e o descaramento do Governo


A não perder o interessante artigo do Professor Luís Campos e Cunha no Público de hoje em que desmascara a responsabilidade do Governo no desencadear da actual crise política afirmando, e passo a citar, que "o Governo sabia antecipadamente o que iria acontecer às contas de 2010 e quis precipitar a crise antes do descalabro final; assim, negociou e ajustou um conjunto de medidas (vulgo PEC-4) apenas e só com os nossos parceiros europeus. nesse pacote estava tudo o que o PSD tinha vetado em negociações anteriores (PEC-2 e PEC-3). Apresentou essas medidas num primeiro momento como inegociáveis. O PSD, orgulhoso da sua posição disse um «não» também inegociável. No dia seguinte, o Governo dando o dito por não dito afirmou-se disposto a negociar. Mas o PSD caiu que nem um patinho e o Governo caiu como o próprio queria e planeou" e a partir de então "para Sócrates as culpas são do PSD. A queda brutal dos ratings, a subida das taxas de juro, o descalabro das contas públicas serão tudo culpa do PSD".

O grau de evidência da manobra do Governo só tem paralelo no descaramento com que tem vindo a implementar esta "brilhante" estratégia... O PSD foi (está a ser) talvez demasiado ingénuo na forma como tem conduzido este processo, mas como conclui o Professor Luis Campos e Cunha "tudo isto tem um rosto e um primeiro responsável. Lembrem-se disto no dia do voto e não faltem, nem que seja para votar em branco".

A entrevista do Ministro das Finanças à TVI


Foi uma entrevista de um Ministro das Finanças incomodado e na defensiva a quem no último ano tudo tem corrido da pior maneira possível e que sabe que só um milagre poderá salvar Portugal de ter de recorrer à ajuda externa.

Apesar de uma entrevistadora bastante benevolente revelou pouca convicção, e algum nervosismo, nas respostas não conseguindo justificar a revisão dos valores do défice e cometendo mesmo aquilo que terá sido uma pequena gaffe ao referir que para assegurar o cumprimento das obrigações do Estado teremos que ser "mais criativos", recusando-se depois a explicar a que se estava a referir.

Do ponto de vista politico a entrevista foi uma péssima prestação, pela forma pouco hábil com que defendeu que o Governo não tem legitimidade para iniciar um pedido de auxílio externo e, sobretudo, pela forma deselegante como tentou "empurrar" essa responsabilidade para o Presidente da República. Passando, demasiado rapidamente, de um discurso em que não ía ser necessária a ajuda externa, para uma admissão implicita de que o Governo considera inevitável esse pedido... e só não o faz porque considera que não tem condições para o fazer.