sábado, 30 de abril de 2011

Enquanto quis Fortuna que tivesse - Camões

Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co'o tormento,
Para que seus enganos não dissesse

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades! Quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

Verdades puras são e não defeitos;
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.

PS: Poema referido pelo Pedro Mexia na sua entrevista ao suplemento Ipsilon da edição do Público da passada sexta-feira, cuja beleza confesso me tinha passado despercebida até hoje.

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