domingo, 10 de abril de 2011

Aristóteles e Alexandre - Annabel Lyon


Uma viagem no tempo até onde a Macedónia de Filipe II disputava a supremacia de Atenas que viria a conquistar e consolidar. Como a autora nos avisa  através de uma citação de Plutarco o objectivo deste livro "é descrever «vidas» e não narrar «histórias». Quantas vezs os feitos mais extraordinários não são os que melhor nos transmitem a marca da virtude ou dos vícios dos homens! E, pelo contrário, um acontecimento de somenos, uma frase ou um simples gracejo, tantas vezes melhor nos esclarece, quanto ao carácter desse homnens, do que a descrição dos mais sangrentos combates, das maiores expedições ou de cercos de cidades!".

E assim, pese embora as excelentes descrições de uma batalha no mundo antigo, da Academia de Atenas, da vida da corte macedónia em Péla ou da vida quotidiana na casa de Aristítóteles, o livro centra-se no quotidiano de Aristóteles que nos é apresentado numa versão de "carne e osso" e intimista, muito diferente daquela que nos surge nos livros de história e filosofia.

Mais do que nas suas ideias e ensinamentos a autora está interessada no homem que as produziu e de quem ela não hesita em "expor" as  fragilidades humanizando-o, mostrando a sua insaciável curiosidade e vontade de conhecer e compreender tudo o que o rodeava. Uma humanidade que se revela na forma como educa os dois filhos de Filipe II, Alexandre que ficou conhecido na história como o Grande e que viria a conquistar a derrotar o império persa e conquistar a maior parte do mundo, e, sobretudo, Arrideu, filho de Filipe II e meio-irmão mais velho de Alexandre, que sofria de graves deficiências cognitivas.

Um Alexandre inteligente, até mesmo brilhantes, com dotes militares e capacidades de liderança inatas, mas  ao mesmo tempo  um rapaz violento, mas ao mesmo tempo sensível e dado a depressões e que Aristóteles vai moldar ensinando-o a "pensar de maneira que os outros não pensam". Criando-se entre os dois uma relação de amizade de pai para filho.

Um livro em que a autora mostra-nos dois homens que apesar de serem dois espíritos atormentados - dados à melancolia e à depressão - revelando-nos, ao mesmo tempo, a enorme grandeza de duas das figuras maiores da civilização ocidental sobre as quais a autora nos diz, através de um diálogo em que Alexandre diz a Aristóteles: "Tu e eu sabemos apreciar a glória das coisas. Caminhamos mesmo até à orla das coisas tal como toda a gente as vê, entende e sente, e depois damos o passo seguinte. Vamos a lugares onde nunca ninguém esteve. É assim que somos."... talvez esteja aí o segredo da verdadeira felicidade que ambos procuraram seguindo por caminhos diferentes que se cruzaram...ou talvez não pois logo a seguir Alexandre pede a Aristóteles "Fica comigo, Não me obrigues a dar sozinho o passo seguinte."

Pedido ao qual Aristóteles não acede retirando-se para estar "só num quarto tranquilo ondem durante o resto da vida, posso voiar cada vez mais longe pelo mundo fora, enquanto o meu aluno, investindo até ao extremo de todos os mapas, cai cada vez mais no poço de si mesmo (...) Poderá alguém dizer-me o que é uma tragédia ?".

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