Muito se tem falado das indiscutíveis capacidades comunicacionais do actual primeiro-ministro, não menos importante, apesar de menos referenciada, é a sua maleabilidade táctica que lhe permite adaptar-se rapidamente às alterações do contexto político e mediático, que voltou a demonstrar na forma como se apressou a corrigir algum excesso de crispação e apresentar-se como um defensor do diálogo e do consenso que garanta a constituição de um governo estável após as eleições do próximo dia 5 de Junho.
Indo de encontro ao sentimento que se generalizou da necessidade de uma unidade nacional que corresponda ao grave momento económico e social potenciada por três receios. Em primeiro lugar, o receiro de que no próximo acto eleitoral não resulte nenhuma maioria absoluta na assembleia da república (e.g. que o PSD e CDS não consigam obter mais de 50% dos deputados). Em segundo, o receio de que um PS afastado do Governo possa "radicalizar-se" à esquerda alimentando a conflitualidade social e sindical prejudicando ou mesmo tornando impossível a implementação das "reformas indispensáveis", surgindo a participação do PS como um factor moderador dessa conflitualidade. E, finalmente, o receio de que um Governo PSD (ou PSD+CDS) tenda a adoptar medidas demasiado "neo-liberais" que ponham em causa o Estado social, surgindo a participação do PS no Governo como uma garantia de que tais intuitos seriam contidos.
O parece conduzir à conclusão de que a melhor solução para o país seria um Governo de bloco central PS+PSD eeventualmente com a participação do CDS ou, pelo menos, que pudesse contar com o apoio do PS nas matérias essenciais na Assembleia da República.
No entanto, mesmo ignorando as dificuldades em imaginar a adaptação do actual líder do PS - que sempre teve dificuldades em conviver com ministros independentes e/ou com peso político específico - às exigências de permanente negociação e espírito de compromisso inerentes a uma tal solução, a verdade é que um "bloco central" constituiria uma experiência certamente desgastante para ambos os partidos e, admitindo o envolvimento do CDS-PP, em especial para o PS que iria certamente enfrentar não só a ameaça dos partidos à sua esquerda como também dificuldades e divisões internas.
Pelo que um tal Governo constituiria sempre uma solução inerentemente frágil e instável, o que reforçaria as dificuldades e resistências naturais para tomar medidas impopulares.
PS: Recomendo a leitura da crónica que Vasco Pulido Valente publica no Público de hoje (transcrita aqui).
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