sábado, 9 de abril de 2011

Leituras (à atenção da liderança do PSD)


Dois destacados militantes e deputados do PSD escrevem hoje dois artigos que me parecem extremamente pertinentes para a actual conjuntura.

Hoje no Público, Pacheco Pereira, coloca em termos muito claros algo que considero muito pertinente para compreeender a surpreendentemente inabilidade com que a liderança do PSD tem vindo a enfrentar politicamente a actual situação, ao afirmar "Mas, que raio!, será que não estão informados, por vias directas ou travessas, do que se passa e dependem dos artigos do Financial Times? Que negociações fizeram Sócrates e Teixeira dos Santos até à crise de 23 de Março com os alemães e com a Comissão? O que é que obtiveram em contrapartida do PEC IV para além dos elogios públicos? O que é que Sócrates disse a Passos Coelho quando o informou do PEC IV e vice-versa? O que perguntou o Presidente a Sócrates e o que é que ele respondeu? O que disse Merkel a Passos Coelho, Cavaco Silva a Sócrates, Passos Coelho a Cavaco Silva? Não acredito que tenham dito aquilo que nós sabemos, e se, assim foi, ainda pior. Se fosse atenuante, que não é pode-se admitir que ninguém verdadeiramente actuou sabendo as consequências". Questões que são obviamente extremamente pertinentes em termos de análise política da situação em que vivemos.

No seu artigo Pacheco Pereira refere ainda que um outro aspecto fundamental é "saber no contexto destas imposições [da UE/FMI] o que o PS, PSD e CDS contam fazer: clarinho, bem explicado, e sem ambiguidades".

Aqui, não concordo com Pacheco Pereira. Penso mesmo que centrar a campanha n debate dos programas "alternativos" constituiria um erro estratégico clamoroso do PSD. Pois, num quadro em que a legislatura será inevitavelmente condicionada pelas medidas que vierem ser acordadas na sequência de um entendimento que envolva PS e PSD não vislumbro muito bem como é que, a não ser que estejamos a pensar precisamente no tipo de medidas "ultraliberais" que José Sócrates tem vindo a acusar o PSD de secretamente pretender, o PSD poderá nesse particular estabelecer diferenças significativas face ao programa do PS.

O PSD tem de saber recusar o repto-armadilha do PS e ser capaz de marcar a agenda do debate eleitoral, evitando que este se centre onde convém ao PS. O que menos interessa ao PS, e a sua liderança sabe-o bem e foge disso como o diabo da cruz, é um debate sério e sereno sobre três aspectos essenciais:

i) As políticas erradas do Governo nos últimos 6 anos que nos conduziram (ou pelo menos foram incapazes de evitar) à grave situação económica, financeira e social que enfrentamos;

ii) A forma desastrosa como o Governo conduziu no decorrer do último ano o processo que nos levou até ao pedido formal de ajuda externa;

iii) Demonstrar que tem mais capacidade técnica e política para implementar as medidas - conjunturais e estruturais de que o país carece - o que passa pela capacidade para apresentar pessoas credíveis que possam integrar um futuro governo e de, com espírito de diálogo e compromisso, encontrar soluções parlamentares que permitam a construção de uma maioria de apoio parlamentar que possa garantir a indispensável estabilidade política.

Ora, relativamente aos dois primeiros pontos recomendo a leitura da crónica de Manuela Ferreira Leite no jorna Expresso de hoje onde escreve: "Havia a percepção de que esse pedido [de ajuda externa] era inevitável e que o seu adiamento não resultava de uma situação financeira controlada, mas antes de uma obsessão pessoal do primeiro-ministro que estava a arrastar-nos para o abismo" destacando "a permanente recusa do Governo em identificar as verdadeiras causas da situação em que nos encontramos e em reconhecer erros de políticas seguidas, insistindo nas mesmas opções e nos mesmos argumentos para além do razoável", chamando a atenção para que os sucessivos e cada vez mais gravosos conjuntos de medidas de austeridade (todos eles apresentados necessários e suficientes) não contribuiram para restaurar a confiança dos mercados e que "o facto de não se ter pedido ajuda quando se tornou evidente a sua necessidade implicou, além dos pesadissimos encargos com juros, uma redução da nossa capacidade de negociação". O essencial está aqui, escrito de forma simples e fácil de entender pelos portugueses.

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