Num post muito interessante publicado no blog Delito de Opinião José Pimentel refere que: "A postura do Bloco de Esquerda nos últimos meses é para mim de difícil compreensão. Estas eleições deveriam oferecer ao partido uma margem de progressão nunca antes obtida. Nunca poderia prever que o Bloco estivesse em risco de ficar abaixo do resultado obtido em 2009.", aventando três possíveis explicações: i) o "trauma" das presidenciais em que BE e PS apoiaram Manuel Alegre; ii) uma fobia inveterada em relação à governação e iii) embora Francisco Louçã tenha percebido o potencial de uma aproximação ao centro, terá decidido não a fazer porque o seu núcleo duro não estaria disposto a afastar-se do radicalismo que defende apenas com objectivos eleitorais.
Pessoalmente, penso que a explicação é outra. A opção do BE não foi uma opção táctica tendo em vista o resultado nestas eleições, mas uma escolha estratégica que reflecte a ideologia em que assenta o BE. Quando o BE nos diz no seu programa eleitoral que "a recessão e a regressão social do país não decorreram apenas, nem principalmente, da crise económica internacional, mas da conjugação entre os seus efeitos, um modelo de desenvolvimento e uma estrutura produtiva em larga medida esgotados" e que "A política do défice, as justificações com a crise internacional e a almofada dos fundos comunitários foram desculpas para as elites dominantes adiarem o inadiável – uma nova estratégia nacional de desenvolvimento com justiça na economia" (ver aqui) não está a dizê-lo com fins eleitoralistas, mas porque acredita que assim é.
Os dirigentes do BE encaram a crise financeira internacional de 2008-2009 e a actual crise económica e financeira que atravessamos como uma confirmação das suas convicções relativamente ao fracasso inevitavel do capitalismo e do "neo-liberalismo", mas também da inviabilidade do "compromisso" social-democrata.
Para o BE estamos perante "a" crise económica e social de uma geração que pode levar a uma transformação política e social histórica que eles querem liderar construindo e liderando uma alternativa que confedere a esquerda (daí a aproximação ao PCP e as constantes referências a uma grande esquerda). Mais do que com o resultado eleitoral do próximo dia 5 de Junho o BE quer estar do lado "certo" da história, e afirmarem-se como a vanguarda dos "novos" movimentos sociais que emergem dos movimentos de jovens em Portugal e Espanha.
Para atingir estes objectivos o BE tinha obviamente que demarcar-se claramente das políticas "neo-liberais" consagradas no acordo com a troika, juntando-se ao PCP e aos sindicatos na mobilização social contra a sua implementação e em favor de uma política socialista de esquerda.
Obviamente esta estratégia envolve riscos consideráveis e tudo aponta para que o BE tenha "sobrestimado" o grau de "consciência política do povo" que conjugado com alguns erros tácticos (e.g. o timing de apresentação da moção de censura) os poderão penalizar eleitoralmente no 5 de Junho. O verdadeiro grau de sucesso (ou insucesso) desta estratégia, contudo, só poderá ser analisado daqui a alguns anos e dependerá muito da evolução do PS. O pior que poderia suceder ao BE seria uma viragem à esquerda do PS e o melhor seria um governo de bloco central e/ou uma divisão do PS.
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