domingo, 8 de maio de 2011
L'Age des Tenebres (A Era da Inocência) - Denys Arcand
Um filme do realizador canadiano que faz parte da triologia que integra o Declinio do Império Americano e de Invasões Barbaras, que é um filme sobre a (ausência) de sentido da vida moderna.
O filme desenrola-se interiamente em torno da personagem principal Jean-Marc LeBlanc (o anti-herói do filme representado de forma convincente e tocante por Marc Labrèche), pequeno funcionário público instalado num estádio pelo qual vão passando pessoas com casos para os quais nunca há solução e que constituem uma crítica feroz ao kafkiano sistema administrativo, judiciário e social do Canadá - como a de um homem que perdeu as duas pernas num atropelamento, mas que mesmo assim terá que pagar metade do poste danificado no acidente -, dominado pelo politicamente correcto - parodiado na cena em que uma funcionária explica que a "negro" tinha passado a ser uma "não-palavra" -, a que não escapam os exageros do feminismo, do sindicalismos, das regras anti-tabágicas e as tendências securitárias.
"Preso" neste emprego misérável, numa vida "confortável" nos subírbios e num casamento com uma vendedora imobiliária workacholic bem "sucedida" em que não existe comunicação, com duas filhas adolescentes alienadas - viciadas nos telemóveis e ipods que nunca largam - com a mãe gravemente doente no hospital - pretexto para algumas cenas que nos recordam o filme Invasões Barbaras -, o nosso anti-herói encontra o seu escape deste mundo deprimente nos sonhos - a dormir e acordado - vivendo num mundo de fantasia em que vai surgindo como alguém - um escritor, actor ou político - bem sucedido, famoso e rodeado de belas mulheres, em cuja relação imaginada mais do que o sexo assume importância o poder e a capacidade de atrair a atenção.
Um mundo de fantasia do qual apenas se vai afastanado após dois choques. Primeiro. a saida de casa da mulher - que apesar da sua insatisfação com o casamento o deixa numa situação paradoxal de desconforto - após o que conhece uma mulher ainda mais alienada da realidade do que ele que julga ser Beatrice de Sabóia com quem durante algum tempo vive "une folie à deux" como personagens de um mundo medieval. E, segundo, a morte da mãe e o seu retiro para uma casa à beira mar onde viviam os seus pais onde se despede das suas mulheres-fantasia e se dedica a uma vida simples junto dos vizinhos, com os quais pesca e cultiva o campo. Com o qual o realizador nos sugere a espécie de regressão ao passado, de retiro espiritual como a (única ?) forma de mantermos a sanidade mental num mundo neurótico de seres condenados à infelicidade e a uma existência sem sentido em que se esbatem e afogam a sua humanidade.
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